Podcast – Caçadores de Fake News

Os Caçadores de Fake News entrevistam Esther Wojcicki

No episódio 4, Isa e sua turma consultam o livro Moonshots na educação, de Esther Wojcicki, para aprender a desenvolver o espírito crítico dentro das escolas e formar o cidadão digital completo. Pudim vai além e consegue uma entrevista com essa super especialista!

O papo rendeu super bem, mas na hora de editar o podcast não coube tudo. Você confere a entrevista na íntegra aqui.

 

Pudim: Como derrotar as fake news?

Esther: A melhor maneira de derrotar o monstro das fake news é educando as crianças sobre o que são fake news. E a primeira coisa que temos que fazer na escola é conscientizá-las. Você pode fazer isso ensinando-as a escreverem suas próprias notícias. Quando aprendem a fazer isso sozinhas, elas percebem naturalmente quais notícias mais se assemelham às fake news.

E não é nem difícil ensinar. O problema é que a as escolas não gastam tempo com esse tópico. Mas é isso o que eu recomendo, quanto mais cedo, melhor.

 

Pudim: Com que idade as crianças já são capazes de aprender sobre fake news?

Esther: Você pode começar a ensiná-las por volta dos 10 ou 11 anos. Crianças são muito espertas. Nós subestimamos a inteligência delas, não sei por quê. Sempre achamos que elas precisam ser super protegidas e isso faz com que elas não se sintam capazes e sempre precisem de nossa ajuda para fazer algo. Nós precisamos dar às crianças uma oportunidade de serem independentes.

E funciona muito bem. Falo por experiência própria durante as minhas aulas, pois leciono há 40 anos. Os alunos são mais inteligentes do que nós imaginamos. E quando nós os empoderamos, eles fazem um trabalho incrível.

 

Pudim: Seria, então, uma forma de empoderar as crianças?

Esther: Sim. E esse empoderamento é parte do pensamento crítico. Muitas crianças ficam envergonhadas em fazer perguntas por medo de serem ridicularizadas. Elas precisam se sentir mais confiantes, porque seus questionamentos são importantes e eles deveriam ser respondidos.

 

Pudim: Não é perigoso oferecer acesso à internet a crianças tão novas?

 Esther: Uma criança sem acesso à internet claramente é mais protegida – assim como sem acesso à rua ou à estrada. Mas você não quer proteger seu filho ao ponto de ele não saber se proteger quando estiver na rua, certo?

Temos que encarar a internet como a rua. É preciso ensiná-los como se protegerem dela e não como evitá-la. Se nunca aprenderem, quando atingirem a idade adulta ainda terão os mesmos medos.

 

Pudim: Por que aprender a escrever as próprias notícias é uma forma de combater fake news?

Esther: Quando você sabe como uma notícia é escrita, como fazer uma pesquisa perspicaz e como encontrar as fontes que precisa, você passa a reconhecer uma notícia profissional. Como numa receita de bolo, você sabe o que tem que ter nela.

Eu aconselharia todas as escolas a ensinarem as crianças a escreverem notícias e até artigos de opinião, para aprender também a importante diferença entre um e outro.

 

Pudim: Que conselho você daria para professores que queiram implementar a educação midiática em sala de aula?

Esther: Meu principal conselho é que não há necessidade de nenhum tipo de treinamento para professores a respeito disso – talvez um curso de no máximo três semanas. A ideia é adiantar uma matéria básica que eles aprenderiam na faculdade, porque somente uma pequena porcentagem da população tem acesso ao curso universitário.

Essa é uma habilidade para todos, não apenas aos que têm o privilégio de concluir uma graduação. Por que as pessoas pobres não têm direito de saber algo tão básico? Que diferença isso faria para o país inteiro!

 

Pudim: Como fazer o governo implementar a educação midiática nas escolas públicas?

Esther: Bem, os líderes têm que estar mais dispostos a colaborar. A liderança é muito importante e tenho esperança de que agora, com Joe Biden, ela se torne mais colaborativa nos Estados Unidos e na influência que o país exerce no resto do mundo. Esperamos que seja um sinal para elegermos líderes que sejam colaborativos, que se preocupem com as pessoas e suas necessidades e não apenas com as agendas políticas.

 

Pudim: Há algum tipo de punição efetiva para quem espalha notícias falsas?

Esther: Infelizmente, não. É difícil pegar essas pessoas, porque elas espalham notícias falsas em plataformas de mídia social muito populares e, antes que se possa impedir, já atingiram milhões de pessoas.

Mas, pessoalmente, eu acho que deveria haver punição para essas pessoas, se for provado que estão disseminando fake news. Isso desencorajaria outros a fazerem a mesma coisa, pelo risco de serem apanhados. Todos os governos deveriam trabalhar juntos para encontrar a melhor forma de punição.

 

Pudim: Quais são as notícias falsas mais perigosas?

Esther: Essa é uma boa pergunta. Eu diria que, provavelmente, o mais prejudicial para o indivíduo são notícias falsas sobre saúde, porque as pessoas seguirão algo que irá prejudicá-las diretamente. Quando Trump disse que beber água sanitária era uma boa maneira de prevenir o vírus, por exemplo, muitas pessoas morreram porque acreditaram nisso. Também na esfera política, eu diria que qualquer notícia falsa criada para encorajar as pessoas a agirem de maneira inconsequente são muito perigosas.

 

Pudim: Você acha que a democracia está em perigo por conta das fake news?

Esther: Se você me fizesse essa pergunta há um mês, eu diria que sim, a democracia está em perigo – e um grande perigo. Mas agora que Biden foi eleito presidente dos Estados Unidos, acho que estamos prestes a ser salvos. Gostaria de dizer que todos os países do mundo que são democráticos se sairão bem nessa nova era, mas acho que depende da cooperação dos cidadãos. Países não democráticos, que impõem requisitos muito fortes à sua população, estão se saindo melhor do ponto de vista da saúde do que as democracias. Se conseguirmos fazer com que as pessoas envolvidas nas democracias sigam as regras, sairemos da zona de perigo.

 

Pudim: Na cidade onde você mora é obrigatório o uso de máscara?

Esther: Sim, é obrigatório usar máscara em Palo Alto, Califórnia, com exceção ao campus de Stanford e certas áreas muito remotas. Mas eu uso máscara de qualquer maneira e não entendo por que as pessoas não querem usá-la. Sei que não é tão confortável, mas prefiro usar a máscara a ter a doença.