Podcast – Caçadores de Fake News

Os entrevistados

Episódio 1 – Como nascem as notícias falsas

 

Januária Cristina Alves é jornalista, educomunicadora e pesquisadora de histórias de tradição oral. É coautora do livro Como não ser enganado pelas fake news, em parceria com Flávia Aidar.

Nas palavras de Januária, a diferença entre fato, informação e notícia: “O fato é que existe um relógio na estação da Central do Brasil no Rio de Janeiro; a informação é quando olhamos para o relógio, vemos a hora e isso e isso nos faz tomar uma direção segura; a notícia aconteceria se você olhasse para o relógio e ele caísse na sua cabeça. Ou seja, a notícia acontece sempre que os fatos se tornam relevantes. Ela tem que despertar interesse e curiosidade no público, gerar surpresa, apresentar conflitos, ter consequências e desdobramentos, tratar de temas ou pessoas relevantes.”

 

Gilmar Lopes é analista de sistemas e checador de fatos. Foi um dos pioneiros na apuração de fake news na internet, antes mesmo de o termo ter sido inventado. Criou o site e-farsas em 2002.

Nas palavras de Gilmar, o que é um veículo confiável: “Primeiro, se você olhar no seu navegador, vai ter um cadeado na frente do endereço do site, que mostra que ele é seguro. Você também pode procurar no Google pelos autores das notícias hospedadas no site, para verificar sua reputação. Também aproveite para ver qual é a fama do próprio site na internet. Sempre duvide de sites com reportagens que não são assinadas: quem investiga e encontra um furo quer que seu nome apareça.”

 

Episódio 2 – Surgem os caçadores de fake news

 

Cristina Tardáguila é fundadora e dona da Agência Lupa, uma das principais agências de checagem de fatos do país. Atualmente, ela é diretora adjunta da International Fact Cheking Network (IFCN), sediada na Flórida (EUA).

Nas palavras de Cristina, como detectar fake news: “Primeiro, avalie o título e compare-o com o corpo da reportagem: há alguma dissonância? O segundo passo é buscar a autoria. Desconfie de textos não assinados ou de autores que não são especialistas no tema abordado. O próximo ponto é olhar a data. Às vezes, circulam artigos que não são falsos, mas são velhos e, por isso estão fora de contexto. Por último, você deve buscar por fontes no material. Se alguém, por exemplo, diz que a inflação aumentou em 20%, você consegue achar esse dado em outros sites, ou mesmo no IBGE? São medidas muito simples, para serem feitas antes de compartilhar uma notícia.”

 

Edgard Matsuki é jornalista, formado na Universidade Estadual de Ponta Grossa, com experiência em jornais, sites e TV. É editor do site de checagem de fatos Boatos.org, que ele criou em 2013.

Nas palavras de Edgard, o que são deep fakes: “Deep fakes são vídeos em que o rosto ou até o corpo da pessoa são inseridos em uma situação em que ela não esteve. Isso é feito com a tecnologia de inteligência artificial, de forma quase perfeita. O grande perigo das deep fakes é que elas destroem a máxima de que o que a gente vê é verdade. No mundo das deep fakes, apesar de existir uma suposta prova de que a pessoa esteve em certa situação, tudo pode ter sido montado por computação. Hoje em dia, fazer uma deep fake bem feita ainda é algo muito difícil, mas temos que ficar alertas com o futuro.”

 

Episódio 3 – Como as fake news elegem políticos, matam pessoas e enriquecem farsantes

 

Patrícia Campos Mello é uma das mais importantes e premiadas jornalistas brasileiras da atualidade. Foi vítima de difamação na internet por causa de reportagens investigativas que publicou. Escreveu o livro A máquina do ódio.

Nas palavras de Patrícia, o papel de jornalistas investigativos no combate às fake news: “Nosso papel é tentar sempre rastrear de onde vêm as campanhas de desinformação e identificar quem paga por elas. Há esquemas profissionais: governos, partidos ou políticos que querem espalhar uma certa versão dos acontecimentos. Os jornalistas investigativos devem olhar os movimentos da internet com muito ceticismo, porque pouco do que vemos hoje na rede são coisas totalmente espontâneas. Temos sempre que buscar entender qual é o objetivo de quem está espalhando desinformação.”

 

Filipe Vilicic é jornalista e profundo conhecedor dos mecanismos que regulam as redes sociais. Escreveu os livros O clique de um bilhão de dólares, em que conta a história do brasileiro que criou o Instagram, e O clube dos youtubers.

Nas palavras de Filipe, os danos irreversíveis que uma notícia falsa pode causar: “Quando temos uma notícia falsa sobre vacinas, por exemplo, com informações que não são verdadeiras ou científicas, isso pode levar a uma desinformação geral, que faz as pessoas não se cuidarem como deveriam. Já houve também casos que levaram à morte de forma direta: muitas fake news, por exemplo, são relacionadas a discursos de ódio, citadas por agressores e terroristas que cometeram ataques motivados por pura desinformação.”

 

Episódio 4 – Como desenvolver o espírito crítico dentro das escolas e formar o cidadão digital completo

 

Esther Wojcicki é uma das mais respeitadas educadoras dos Estados Unidos. É fundadora e professora de jornalismo do Centro de Mídias e Artes da Palo Alto High School, especialista no ensino híbrido e uso da tecnologia na educação.

Nas palavras de Esther, como desenvolver o espírito crítico na escola: “A melhor maneira de derrotar o monstro das fake news é educando as crianças. A primeira coisa que temos que fazer na escola é conscientizá-las, e uma das formas de conseguir isso é ensinando-as a escreverem suas próprias notícias, o mais cedo possível. Quando aprendem a fazer isso sozinhas, elas percebem o que é preciso para fabricar uma reportagem e, assim, poderão distinguir quais delas se assemelham às fake news. Só assim conseguiremos frear essa epidemia de desinformação que temos hoje.”

Confira, na íntegra, a entrevista de Esther Wojcicki aos Caçadores de Fake News.

 

Rodrigo Ratier é jornalista, professor e pesquisador sobre fake news na Faculdade Cásper Líbero. Tem mais de vinte anos de experiência em mídia impressa (revistas) e digital (websites e redes sociais), com ênfase em educação.

Nas palavras de Rodrigo, como formar cidadãos digitais: “Antes de tudo, devemos reconhecer que estamos imersos na chamada cultura das telas, composta pelos celulares, tablets e computadores. Nesse universo, não somos apenas audiência, mas também produtores de informação. Isso acontece toda vez que fazemos um comentário no Facebook, um post no Instagram ou compartilhamos uma notícia no Whatsapp. As coisas que publicamos são do nosso direito, mas elas também acarretam alguns deveres, como não disseminar o preconceito, não incentivar o discurso de ódio e não compartilhar notícias falsas.”

 

Episódio 5 – O futuro das fake news: como conseguiremos derrotá-las?

 

Fernando Esteves é diretor do site Polígrafo, primeiro site de checagem de fatos de Portugal. Assumiu a função de jornalista e editor de política na revista portuguesa Sábado, entre 2005 e abril de 2017.

Nas palavras de Fernando, o perigo das fake news para a democracia: “O fenômeno da desinformação é o maior dos perigos, porque a partir do momento em que as pessoas começam a achar que são permanentemente enganadas e que não podem confiar em nenhum tipo de informação, elas deixam de acreditar nas instituições. E, quando isso acontece, elas se tornam amorfas intelectualmente, embriagadas do ponto de vista intelectual, sem condições de tomar as decisões mais importantes em uma democracia. É isso que cria espaço para o surgimento de movimentos populistas muitas vezes antidemocráticos, que claramente podem subverter a sociedade tal qual nós conhecemos hoje.”

 

Claudio Michelizza é checador de fatos e analista de dados no site italiano Bufale.net, portal que prega o combate à desinformação e ao alarmismo na internet. A palavra “bufale” representa uma gíria para notícia mentirosa, sem fundamento.

Nas palavras de Claudio, a ideia de uma punição para quem espalha fake news: “A melhor punição para quem publica fake news seria tirar o acesso ao uso da internet por um período, até porque quem divulga notícias falsas tem um interesse econômico por trás disso, ou o faz simplesmente para se sentir melhor do que os outros. Na minha opinião, o melhor remédio é simplesmente impedir que essa pessoa use a rede. Espalhou fake news, você não terá internet por um mês. Para essa gente, é um castigo: eles não suportariam a abstinência.”

 

Madelyn Webb é pesquisadora investigativa do site de checagem de fatos First Draft. Seus temas de pesquisa são os direitos reprodutivos das mulheres e desinformação relacionada à saúde, questões de gênero e políticas da tecnologia.

Nas palavras de Madelyn, como atacar as fake news de forma global: “Muitas vezes, os boatos começam nos Estados Unidos e viajam para outras partes do mundo de forma muito rápida. Vimos isso depois das eleições americanas, e também a respeito do coronavírus. Por causa da velocidade com que a desinformação se dissemina, é crucial que as agências de checagem dos diversos países estabeleçam parcerias, para que se preparem para reagir antes que o pior aconteça. Com especialistas americanos alertando os brasileiros sobre temas a prestar atenção, e vice-versa, conseguiremos realmente combater o problema.”