Eu sou Ricardo Boechat: Novo livro de memórias relembra histórias do grande jornalista

Em 1987, um homem dirigia um Monza pela ponte Rio-Niterói sem carteira de habilitação, de bermuda e chinelos. Ao ser parado pela polícia, deu a desculpa mais absurda já ouvida pelo guarda: o carro tinha sido emprestado a ele pela amiga Maitê Proença, atriz que fazia enorme sucesso na época. Sem conseguir comprovar que o carro era dela (até porque legalmente era de seu pai, cujo nome ele não sabia), o rapaz foi levado para a delegacia, só sendo liberado depois de um telefonema a seu advogado.

O rapaz em questão Ricardo Boechat, um dos maiores nomes da história da Comunicação brasileira (com 18 estatuetas do prêmio Comunique-se, o mais importante da área), morto em 11 de fevereiro de 2019 em um trágico acidente de helicóptero em são Paulo.

A história com o carro de Maitê Proença é apenas uma das 100 reunidas pelos jornalistas Eduardo Barão e Pablo Fernandez, companheiros de Boechat na BandNews FM, no livro de memórias Eu sou Ricardo Boechat, lançado pela editora Panda Books.

“A ideia é revelar ao público mais detalhes de como era a pessoa Boechat”, diz Barão, em entrevista ao Panda News. Em um dos relatos, descobrimos que ele, mesmo calejado por anos de jornalismo, não conteve as lágrimas ao conversar ao vivo com o pai de um garoto de três anos morto pela violência policial no Rio de Janeiro. “Apesar de se expor bastante no ar, ele tinha um lado muito íntimo e humano que poucos conheciam”, lembra Barão.

Os autores também reforçam nestas histórias a figura intensa que era Boechat, marcada pelas críticas, denúncias e demonstrações de amor e afeto. Barão e Pablo citam desde uma discussão acalorada com o pastor pentecostal Silas Malafaia até a total indignação do jornalista com a displicência das autoridades brasileiras em relação às vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), em janeiro de 2013.

Sobre o legado jornalístico deixado por Boechat, Barão cita o esforço do amigo em ensinar todos na redação a nunca dar a palavra oficial como verdade absoluta, e sempre ir atrás do público afetado e “daqueles mais indefesos”. “Boechat mudou a forma como é feito o colunismo social, passando a noticiar furos, e foi um âncora que ‘desceu do muro’, indo para a briga para defender os interesses da população”.

 

Prepare-se para se emocionar

O prefácio da obra é assinado por Veruska Boechat, viúva do âncora, que fala sobre as homenagens feitas a seu amado, sem deixar de fazer a sua: “Cada história vivida por Ricardo Boechat e todo o pessoal da rádio era uma história que ele levava para casa, cada problema de cada um deles passava a ser um problema dele”.

A última das 100 histórias é uma carta escrita pela mãe de Boechat, Mercedes Carrascal, contando como foi passar o primeiro Dia das Mães sem o filho:

“Coitadas, perderam o filho. Isso não é verdade! Não perderam nada, elas tiveram um filho, que permanece em sua mente e em seu coração. Que tiveram com eles sonhos, esperanças, sofrimentos, frustrações, com os quais riram e choraram, que os viram aprender a andar, a levantar-se, a cair, a pular, a ler, a escrever e que depois escolheram seus caminhos.”

Serviço

Lançamento do livro Eu sou Ricardo Boechat (São Paulo)

09/12 (segunda-feira) às 18:30

Livraria da Vila – Lorena (Alameda Lorena, 1731 – Jardim Paulista/Tel: 3062-1063)

 

Lançamento do livro Eu sou Ricardo Boechat (Rio de Janeiro)

11/12 (quarta-feira) às 19:00

Livraria Travessa – Shopping Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – Leblon/Tel: 3138-9600)

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