Apenas na década de 1980 a antropologia percebeu a importância de estudar as crianças, e recentemente essa consciência chegou a áreas como psicologia, neurociência, economia e urbanismo.
“Ainda ignoramos o protagonismo das crianças, até porque, esse é um tema muito novo”, explica a pedagoga, antropóloga e pesquisadora Adriana Friedmann, autora do livro A vez e a voz das crianças: escutas poéticas e antropológicas das infâncias, lançamento do selo Panda Educação. Adriana compilou ideias de muitos autores e experiências adquiridas em suas atividades. “É uma síntese de estudos, pesquisas e trocas permanentes com os educadores, mas uma síntese aberta. O que temos para aprender com as crianças é um conhecimento que não acaba”, esclarece.
O procedimento de pesquisa é diferente do utilizado com adultos, pois as crianças ainda estão em formação e, por isso, muito mais sujeitas a mudanças e influências da mídia, do marketing e das redes sociais. Esses pontos ainda se misturam à cultura local onde a criança vive. “É importante entender que existem diversidades de vidas, porque existem diferentes contextos, então não podemos mais pensar que há um ideal de criança”, afirma Adriana.
A autora sempre trabalhou com a formação de professores e educadores junto a fundações, ONGs, escolas e universidades, além de desenvolver o projeto Mapa da Infância Brasileira, uma plataforma para a divulgação de iniciativas realizadas com crianças em todo o país, buscando inspirar profissionais da educação. No projeto, Adriana e seu grupo realizou escutas das crianças, aumentando o conhecimento e a compreensão das diversas infâncias que existem no Brasil. Uma parte importante do que ela compartilha em A vez e a voz das crianças veio dessa experiência. “Crianças em São Paulo, filhos de imigrantes bolivianos, nos mostraram, por meio de suas brincadeiras, um retrato da vida delas”, exemplifica.