Como fica a vida dos jovens no novo normal

Uma pesquisa mundial conduzida pela rede de comunicação britânica BBC ouviu 46 mil pessoas com idades entre 16 e 99 anos. Os resultados, publicados no periódico científico “Personality and Individual Differences”, constataram que os jovens são mais impactados por esse período sem sair de casa do que os mais velhos. “Eles dependem mais da socialização, principalmente os adolescentes no espaço da escola”, explica Jairo Bouer, médico psiquiatra especialista em sexualidade e autor de quatro livros publicados pela Panda Books. Bouer também é coautor de “O Guia dos Curiosos – Sexo”, ao lado do jornalista Marcelo Duarte. A pesquisa mostrou ainda que o sentimento de solidão depende mais da expectativa que os indivíduos têm em relação às conexões sociais do que da quantidade de pessoas com quem se relaciona. Jairo Bouer concedeu a seguinte entrevista ao Panda News.

Panda News – Você acredita que haverá uma mudança muito grande no comportamento sexual dos jovens depois da pandemia?

JAIRO BOUER – É um exercício de futurologia, porque não sabemos exatamente quando ela vai acabar e como será. Tenho a percepção de que não voltaremos para uma situação de normalidade imediatamente. Nos países mais atingidos, ainda não há notícias de aberturas de baladas, festas, cinemas, teatros, shows e eventos esportivos. Encontrar alguém fora dessas situações é mais difícil. Eu acho que, esse ano, ainda existirá uma restrição social, e isso pode impactar o comportamento sexual dos jovens. Ano que vem, se conseguirmos retornar a algo mais próximo da normalidade, devemos ver um comportamento semelhante ao anterior da pandemia. Não acredito que haverá uma ruptura muito grande dos padrões.

Os jovens serão mais seletivos? Ou correr risco faz parte dessa fase da vida?

Correr risco faz parte dessa fase da vida. Há mais de 20 anos recebo contatos de jovens que fizeram coisas mesmo sabendo que não deveriam. Uma vez que a situação retorne ao normal, ou se aproxime disso, os jovens voltarão a correr riscos, mas, nesse momento, acredito que estejam mais seletivos. Quem namora e consegue se encontrar, tudo bem. Os solteiros até podem buscar pessoas em aplicativos, mas é muito mais difícil criar uma situação para encontros pessoais, por viverem muito próximos à família, e por estarem mais preocupados. Do ponto de vista da sexualidade, o indivíduo pode ficar à vontade, desde que use camisinha. Em tempos de coronavírus, teoricamente, não há sexo seguro.

Não há cuidados que possam ser tomados que ainda não eram?

Não tem jeito. Só se transar ao ar livre, usar máscara e tentar manter uma distância entre um metro e meio ou dois. O contato sexual envolve proximidade entre as pessoas e muita troca de fluidos.

Haverá mais choque com os pais, que estão mais atemorizados?

As relações em casa estão muito mais concentradas, todo mundo fica no mesmo espaço quase que o tempo inteiro. Os conflitos se tornam mais visíveis e emergentes. Isso exige um chumbo de estrutura de paciência, de lidar com limites, e impulsividades muito grandes. É uma área de conflitos. Tanto que estão crescendo os casos de violência doméstica e violência contra mulher.

O que a pandemia ensinou aos jovens?

Aprender a lidar com esse “estar em casa” por mais tempo, longe das pessoas que eles gostam e mais tempo próximos à família, tolerando as diferenças dentro de casa, enfrentando angústias, ansiedades e dificuldades causadas pela falta de interações sociais.

Jairo Bouer na Panda Books.

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