A autora Carmem Lucia Campos foi convidada para um chá da tarde numa escola e, para sua surpresa, se viu cercada de bisavós, avós e crianças. O centro das atenções era o livro A bisa fala cada coisa, que trata da importância dessa relação, lançado pela Panda Books. “Foi emocionante: os pequenos se orgulhavam em exibir as avós e as bisavós e demonstrar o carinho que tinham por elas”, conta Carmem, que tem outras quatro obras pela editora.
Manuel Filho, autor de Vovô não gosta de gelatina, já teve experiências parecidas. Escolas que adotaram o livro promovem o encontro entre avós e netos quando recebem a visita do autor. “Os encontros são muito bonitos”, comemora. “Gosto quando as crianças precisam fazer a árvore genealógica da família e percebem os mais velhos são um ponto de sabedoria”. Em comemoração ao Dia dos Avós, 26 de julho, data de Santa Ana e São Joaquim, mãe e pai de Maria e avós de Jesus, o Panda News promoveu uma conversa entre Carmem e Manuel sobre como fortalecer a relação de avós e netos. Todos só têm a ganhar!
Panda News: As crianças já não têm uma ligação bastante forte com seus avós? Por que tratar disso nos livros?
Carmem Lucia: Nem todas as crianças têm um contato cotidiano com os avós e, outras, mesmo tendo esse convívio próximo, não se dão conta da importância deles. Ou tendem a valorizar os avós apenas pela permissividade que dão em relação às suas traquinagens, pela prontidão com que realizam vontades dos pequenos ou por causa de bens materiais, como brinquedos e mesadas. Ao escrever A bisa fala cada coisa, minha intenção foi resgatar a relação de afeto que une as crianças e os mais velhos da família.
Manuel Filho: É, precisamos considerar muitas coisas ao escrevermos um livro infantil. Temos que pensar nas diferentes realidades que vamos encontrar. Por exemplo, há crianças que são criadas pela avó e pelo avô, enquanto outras têm o pai, a mãe e os quatro avós. O Vovô não gosta de gelatina foi lançado há 6 anos e, desde então, acabou adotado em escolas de diversos lugares. Já recebi e-mails de escolas rurais e de ocupação que adotaram livros meus.
Quais são as maiores carências que os idosos têm e como as crianças poderiam ajudá-los a resolver?
CL: Acho que algumas carências dos idosos são as mesmas das crianças: respeito, atenção, cuidado e, principalmente, serem ouvidos e vistos de fato. A troca entre avós e netos pode ser muito estimulante para ambas as partes, criando até uma espécie de cumplicidade.
O pouco conhecimento do uso de tecnologia das pessoas mais velhas deixou essas gerações mais afastadas?
MF: Nós estamos em um momento único e a tecnologia está aproximando os jovens de seus avós. Talvez, as pessoas com mais de 80 anos é que tenham dificuldades para lidar com esse tipo de tecnologia.
CL: Além disso, a chamada “terceira idade” está cada vez mais ativa e conectada. Não faltam blogueiros e youtubers mais experientes, que assumiram os cabelos brancos ou preferiram adotar um visual moderno e linguagem atual.
MF: A minha mãe tem 74 anos e está no Instagram! É só ensinar. Os idosos criam redes entre eles para trocar coisas, como fotos e receitas. Isso também é importante.
CL: Concordo, Manuel. Acredito que a dificuldade dos mais velhos com a tecnologia pode ser uma ponte para aproximar idosos e crianças. Essa troca vale para outros saberes, como netos que ensinam avós a ler e avós que ensinam os pequenos a fazer brinquedos antigos, típicos de sua infância. Trata-se de um aprendizado que estreita os laços de afeto.
As doenças relacionadas à idade ainda são um tabu a ser enfrentado? Como a escola pode ajudar nisso?
CL: Mais do que as doenças, a própria velhice e a morte são tabus.
MF: Sim, parece que envelhecer no Brasil é um pecado!
CL: A escola pode ter um papel relevante na discussão desses temas com as crianças. Há inúmeros livros infantis que abordam doenças comuns na velhice, como Alzheimer e Parkinson. A partir dos livros, é possível promover atividades que aproximem avós e netos, como entrevistas, troca de experiências e eventos na escola. É um bom caminho para estreitar laços entre gerações que têm muito a aprender e a ensinar uma à outra.
MF: Também gosto quando as escolas promovem datas para colocar as gerações em contato, como o Dia dos Avós.