A escritora e ilustradora Renata Bueno adora coisas antigas, e a casa de uma de suas avós sempre foi lugar de achados especiais. Uma das relíquias encontradas foi um rolo de números que pareciam ter sido datilografados. Ele tinha pertencido ao avô de Renata. Ela ficou encantada e imaginou um livro em que os números fossem o fio condutor. Assim nasceu Quantas gotas tem a chuva?, publicado pela Panda Books. Os números do avô estão na capa, na sobrecapa e em várias das 36 páginas. “Eles constroem linhas, massas sobrepostas, escondem-se por trás do vegetal, revelando transparências, e dialogam com a paleta de cores do livro”, diz a autora.
O Panda News conversou com três ilustradores, que contaram um pouco do processo de criação e das técnicas que utilizam para transformar ideias em desenhos que são pura emoção.
Do papel ao computador
Camila Sampaio ilustrou cinco livros para a Panda Books: Vamos tomar banho?, Tinha que ser comigo?, Parlendas para brincar, Adivinhas para brincar e Alinhavos. Todos começaram com desenhos em papel – esboços conhecidos como rafe. “Quando recebo o original, tento captar o ritmo da história, e, às vezes, a estrutura do texto dá uma ideia do que ilustrar”, conta Camila. Os rafes são escaneados e enviados à editora para aprovação.
Depois que os rafes são aprovados (e o nervosismo passa), Camila realiza a colorização no computador. Ela trabalha com o estilo vetorial, uma técnica que se baseia em fórmulas matemáticas para criar desenhos a partir de pontos, linhas e curvas.
Depois do lançamento de Adivinhas para brincar, Camila se lembra de uma viagem feita com amigos. Como alguns tinham filhos, a ilustradora levou uma cópia do livro. Um dia, todos saíram para jantar, e os mais novos tiveram uma mesa só para eles com o Adivinhas. Apesar das diferentes idades, as crianças se uniram em um só grupo. Curiosos, os adultos foram ver o que estava acontecendo. “Lembro de olhar para o lado, e todo mundo estava em torno da mesa tentando matar as charadas. A comida ali esfriando, e o pessoal se divertindo com as adivinhas”, conta a ilustradora.
Sempre digital
Leandro Oliveira, o LeBlu, ilustrou na Panda Books Jogo sujo, Centauro guardião e O segredo do disco perdido. Seus desenhos são totalmente digitais e as influências passam por ilustrações do mundo eletrônico, como os games. “Aos sete anos, eu tive um tio que morava no Japão. Sempre que ele vinha ao Brasil, me trazia fitas de videogame com os encartes dos jogos, e eles eram ilustrados”, conta LeBlu. Foi com esse contato que ele começou a entender a função de um profissional dedicado à ilustração.
“Apesar de trabalhar no digital, acho legais os trabalhos manuais”, afirma. “Gosto de textura, de erro, de ranhuras e defeitos.” O ilustrador busca características de desenhos manuais em seus trabalhos, mas, graças ao digital, ele tem um controle melhor do resultado.
O ilustrador conta como foi emocionante o primeiro trabalho feito para a Panda Books: O segredo do disco perdido, livro que fala bastante sobre o grupo musical mineiro Clube da Esquina. LeBlu, um apaixonado por MPB, estava trocando de emprego e seu filho era bem pequeno. Além disso, ele revela ter feito um grande amigo – o autor Caio Tozzi. “Ilustrei o livro ouvindo os dois álbuns do Clube da Esquina sem parar”, diverte-se. “Pude fazer isso porque fiquei um mês em casa antes de começar no emprego novo.”
Desenhos por todos os lugares
Autora e ilustradora de Quantas gotas tem a chuva?, Renata Bueno diz que não tem preferência na hora de fazer seus trabalhos. “Desenho muito no papel, mas também no computador, no chão, nas paredes…”. Ela explica que gosta de experimentar materiais e adora colagens, usando bastante a técnica em suas ilustrações.
Um exemplo de sua técnica preferida é o livro Quantas gostas tem a chuva?, feito com os números datilografados do avô. Renata criou a primeira ilustração no Brasil. Depois, ela se mudou para a Holanda, onde terminou os desenhos e criou o texto. “Fiz alguns esboços a lápis, em tamanho menor. Mas, na maioria das vezes, as imagens surgiram sem seguir um traço”, conta.
A ilustradora explica que cada livro tem suas particularidades, o que interfere na técnica escolhida. “Há livros onde sou a autora do texto e convido outro ilustrador para fazer parceria. Em outros, faço primeiro os desenhos e depois crio os textos. E tem aqueles em que parto do texto de um autor para criar as imagens”, finaliza.