Meninas nas Ciências: não é ficção científica, não!

A Netflix lançou recentemente A caminho da Lua. A animação conta a história de Fei Fei, uma garota que constrói seu próprio foguete para viajar ao satélite natural da Terra. Entre perdas, aceitação e conquistas, ela realiza inúmeros testes para que a sua criação decole. O longa reforça um conceito chamado STEM, sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática. As áreas têm sido cada vez mais difundidas entre os jovens em escolas e projetos de divulgação científica. Em muitos casos, as meninas são o foco de ações para estimular o aumento da participação feminina nas áreas abordadas.

Uma brasileira viveu todo o processo de encanto pela ciência desde a infância até chegar a um posto na NASA muito antes de surgir a sigla STEM. Duília de Mello era fã de filmes e séries que mostravam o que havia fora da Terra – desde a ficção de Star Trek às explicações reais e acessíveis de Carl Segan em Cosmos. “Eu sou fruto da ficção científica”, revela a astrônoma, que é vice-reitora da Universidade Católica da América, em Washington, e colaboradora da Agência Espacial Norte-Americana.

Duília foi uma das primeiras pessoas a fazer divulgação científica no Brasil, trabalho que conta no livro Vivendo entre as estrelas, publicado pela Panda Books. Na obra, ela explica o passo a passo que seguiu desde quando começou a se interessar pela carreira, até chegar à NASA. “Foi uma ideia inovadora, pois ainda não se falava em incentivar meninas para as áreas STEM”, afirma a autora, que viu o estímulo para as jovens surgir nos Estados Unidos por volta de 2009.

Sua geração foi a primeira a ter mulheres em cargos de chefia na ciência como algo comum. Ela cita como exemplo o próprio posto de vice-reitora e amigas que lideram laboratórios da NASA. A autora conta que a Agência Espacial Norte-americana tem um programa para incentivar meninas a se tornarem cientistas. Como parte dos resultados, há o aumento de mulheres em diferentes cargos da própria agência. “A sociedade não é feita só por homens, e as mulheres têm seu jeito de resolver problemas”, destaca Duília. “Por que também não nas áreas de STEM?”.

O maior desafio para se iniciar na astronomia é o tempo até a profissionalização: “Precisa fazer mestrado e doutorado. Da entrada na faculdade até um vínculo de trabalho, são 10 anos”. Depois de enfrentar esses desafios, Duília construiu uma carreira com diferentes realizações: já descobriu uma estrela, a Supernova 1997D, e participou da descoberta das Bolhas Azuis, aglomerados de estrelas fora das galáxias. Outro motivo de alegria para a autora é ver pessoas que decidiram estudar astronomia após lerem seu livro. Ela destaca Geisa Ponte e Ana Carolina Posses. As duas seguiram seus passos e se tornaram astrônomas: “Sou mãezona das minhas pupilas”.

Para incentivar as meninas hoje, cada vez mais obras estão sendo lançadas. Como em A caminho da Lua, o livro Ara – A engenheira das estrelas, também lançado pela Panda Books, conta a história de uma garota cientista. A autora Komal Singh é engenheira de software e gestora de programas no Google. Certa vez, sua filha de 4 anos perguntou: “Engenharia é coisa de menino, né, mamãe?”. O espanto foi tamanho, que estimulou o surgimento do livro. Ara é uma garota com o desejo de programar seu robô DeeDee para contar todas as estrelas que existem, mas não sabe muito bem como fazer isso. Então, ela entra em uma aventura com quatro superengenheiras que vão ajudá-la a realizar seu sonho – todas elas colegas de trabalho de Komal. Mulheres reais, como Duília.

Leitura sem fronteira: os livros da Panda Books publicados no exterior

Em setembro deste ano, a coleção Corpo Humano, da Panda Books, fez sua estreia na terra dos pandas. A incrível fábrica de cocô, xixi e pum, Em busca da meleca perdida, Pronto para o socorro e Viagem por dentro do cérebro (os três primeiros de Fátima Mesquita e o último do psiquiatra Daniel Martins de Barros) foram traduzidos para o chinês e publicados na China pela Publishing House of Eletronics Industry. Os pandas brasileiros vibraram com a notícia: agora, já são 51 edições internacionais de obras originais da Panda Books.

Fátima Mesquita
A autora Fátima Mesquita e seus livros traduzidos para o alemão e o chinês.

Pronto para o socorro, que ensina as crianças a lidarem com pequenos acidentes do dia a dia, já tinha sua versão em alemão. “É um delírio pensar que tem gente de países tão distantes e diferentes lendo o que uma mineira de Belo Horizonte escreve”, comemora a autora. “Me belisca que eu não estou acreditando!”. Sem deixar de lado a modéstia, Fátima admite que alguns pontos importantes fazem seus livros impressionarem olhares estrangeiros: a linguagem descompromissada, o caráter de literatura de referência e as ilustrações super originais – todas assinadas por Fábio Sgroi.

Ilustrador e pesquisador, Sgroi faz pensar em um detalhe interessante: desenho não precisa de tradução.  “A grande pergunta que surge na minha cabeça é: como será que a outra cultura vai entender as piadas que eu fiz aqui?”. Afinal, uma imagem não transmite informação sem contextualização. Enquanto os textos são vertidos para um novo conjunto de códigos e símbolos, quando se traduz uma obra ilustrada os desenhos são simplesmente reproduzidos, com exceção de pequenas adaptações gráficas feitas pelos próprios editores.

Há exceções, como o que aconteceu com a edição alemã de Pronto para o socorro. O livro foi adaptado para que o personagem principal fizesse referência a um médico famoso por lá, então Sgroi foi convocado a fazer algumas adaptações para que a figura se parecesse fisicamente com o tal doutor. “Para mim, isso é o de menos: o mais intrigante é pensar em como uma criança estrangeira vai interpretar o pé de jaca que ilustra a história”.

Outro best-seller da Panda, O que podemos aprender com os gansos atravessou as fronteiras da América Latina e chegou a Portugal. Por meio de parábolas, fábulas e outras histórias, a obra de autoajuda revela que o segredo da qualidade de vida e do sucesso profissional muitas vezes está nos detalhes mais simples do dia a dia. O autor, Alexandre Rangel, admira: “A gente vê que problemas do nosso cantinho brasileiro afetam pessoas em qualquer outro lugar do mundo.” Ele foi convidado para participar do lançamento em Lisboa, num evento voltado para o marketing em varejo, e contribuiu com uma palestra sobre liderança e motivação de equipes.

Completam o time de obras internacionais da Panda Books O homem irresistível, A mulher irresistível, O doce veneno do escorpião, O que aprendi com Bruna Surfistinha, Fábulas de Esopo para executivos, Como atirar vacas no precipício, Tudo o que sei sobre negócios aprendi com a pescaria, a coleção “Os endereços curiosos”, a coleção “Princesas do mar”, O livro dos grandes direitos das crianças, Neymar Jr. de A a Z, O menino, o jabuti e o menino, Flop, Como fazíamos sem e O livreiro do Alemão. Este último é especial: a edição francesa da autobiografia de Otávio Júnior, criador de um revolucionário projeto de incentivo à leitura no Morro do Alemão, foi finalista do Prêmio Jabuti 2018.