Agora, no mês de fevereiro, estamos completando um ano sem aquele contato com nossos leitores em tardes e noites de autógrafos. O isolamento social fez os lançamentos de livros migrarem para o formato digital. A primeira experiência virtual que tivemos foi com o livro A vez e a voz das crianças – Escutas antropológicas e poéticas das infâncias, escrito pela educadora Adriana Friedmann e publicado pelo selo Panda Educação em maio de 2020. A autora diz que foi emocionante interagir com as pessoas por meio das câmeras e revela que o formato superou suas expectativas: “Mesmo sendo virtual, a gente se conecta e se emociona profundamente”. Adriana tem filhos e familiares vivendo em diferentes Estados e até mesmo fora do Brasil. O evento pela internet foi a primeira oportunidade de reunir a todos em lançamento dela.
Em novembro passado, o jornalista Dudu Monsanto lançou seu segundo livro sobre o Flamengo: A virada – milagre em Lima aborda o título da Libertadores conquistado em 2019. A live de lançamento reuniu 300 pessoas simultaneamente e teve início com um vídeo especial – Zico, ídolo rubro-negro, estava no Japão e gravou uma mensagem para o autor, parabenizando pelo livro e incentivando torcedores à leitura. “Ele é a razão de eu ser Flamengo”, revela Dudu. No dia seguinte, Dudu foi até a editora e autografou 750 exemplares do livro vendidos durante a live. O trabalho começou às 9 da manhã e só terminou às três e meia da tarde, sem paradas.
Embora o formato digital tenha encontrado um jeito de conectar autores e leitores, as recordações de lançamentos presenciais estão muito fortes nas lembranças de todos. No final de 2019, os jornalistas Eduardo Barão e Pablo Fernandes lançaram Eu sou Ricardo Boechat, com histórias do companheiro da rádio Band News FM, falecido em 11 de fevereiro daquele ano. Barão chegou com 40 minutos de antecedência à Livraria da Vila, da Alameda Lorena, em São Paulo, e se surpreendeu com uma fila de espera que dava a volta no quarteirão. E não se trata de força de expressão. “Fiquei assustado!”, confessa ele. “Jamais imaginei que iria tanta gente”. Além dos fãs, que passaram até quatro horas para pegar o autógrafo, Barão e Pablo foram cercados naquela noite por amigos, parentes e por Veruska, mulher de Boechat, e pelas filhas dele, Valentina e Catarina. No lançamento na Livraria Travessa, no Rio de Janeiro, logo depois, as emoções se repetiram. A mãe de Boechat, dona Mercedes, e irmãos dele atendiam também os pedidos de autógrafos dos leitores.
Em 2019, a estilista-educadora Alessandra Ponce Rocha lançou seu primeiro livro: Alinhavos – O futuro do planeta está no seu guarda-roupa. Comunicada pela editora de que o lançamento seria em agosto, ela não teve dúvidas em sugerir o dia 23, data de seu aniversário. Melhor ainda que, naquele ano, a comemoração caiu numa sexta-feira. “Dormi só quatro horas, pois estava ansiosa”, conta Alessandra. “De manhã, li uma nota sobre o lançamento na coluna da Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, e minha ansiedade aumentou”. A sessão de autógrafos e aniversário teve muitos presentes. Nos dois sentidos. Amigos e familiares prestigiaram o lançamento e trouxeram também mimos para a autora. “Ganhei até doce de abóbora, que é o meu favorito!”, diverte-se. O momento mais emocionante aconteceu no começo da festa: “Recebi a filha de uma amiga que não está mais entre nós, e havia seis anos que eu não via a menina”. Aquele dia era especial e se estendeu pela madrugada com amigos e empanadas em um bar próximo.
Para o lançamento de Eu Estou Aqui, seu quinto livro, em setembro de 2019, a autora Maísa Zakzuk fez questão de convidar as 12 crianças que estavam perfiladas nas 64 páginas da obra. Crianças que deixaram seus países, como refugiadas ou imigrantes, para começar uma nova vida no Brasil. Ela desejava reunir todos os personagens, mas sabia da dificuldade que eles enfrentariam para chegar na Livraria da Vila, da Vila Madalena. Não colocou muita expectativa, mas acabou sendo surpreendida. Instalada na mesa de autógrafos, ao lado da fotógrafa Daiane da Mata, responsável pelas imagens de Eu estou aqui, Maísa arregalou os olhos quando quatro de seus personagens entraram juntos na livraria: Cristina, da República Democrática do Congo; Mariam, da Palestina; Rosa, da Angola; e Sebastien, do Haiti “Sou muito emotiva e comecei a chorar quando os abracei”, lembra. “O livro tinha ficado pronto poucos dias antes e eles viram as histórias deles impressas ali pela primeira vez. Foi o momento mais legal da minha carreira como escritora”.