Muito noticiado e com poucas soluções: o problema dos refugiados no Brasil

Um relatório da ONU estima que, por ano, cerca de 272 milhões de pessoas deixam seus países em direção a outras terras. No Brasil, a situação é dramática: dos 1,1 milhão de imigrantes, 11 mil são refugiados. O país teve três grandes ondas migratórias nesta última década: a dos haitianos, depois do terremoto que matou cerca de 150 mil pessoas em 2010; a síria, em decorrência da guerra civil que assola o país há anos (e que já vitimou 500 mil pessoas) e a venezuelana, com a acentuação das tensões políticas no país vizinho.

A vida de um refugiado não é fácil por aqui. Além da falta de políticas públicas, muitos deles têm de lidar com o preconceito e a violência no dia a dia Grave para todos os envolvidos, a questão se torna ainda mais delicada quando envolve os mais jovens. “O medo, a desconfiança e o problema da língua foram alguns dos obstáculos que eu encontrei para me aproximar de crianças refugiadas”, diz Maísa Zakzuk, autora do livro Eu Estou Aqui, o primeiro no Brasil a abordar a questão para o público infantil. Maísa conta ter visitado 50 entidades e instituições ligadas a refugiados e à imigração, além de escolas da rede municipal, em um processo de apuração que durou 13 meses. A escritora revela que, apesar de a maioria ter se entusiasmado com o projeto, muitos tinham receio de dar entrevistas ou indicar alguém que se propusesse a falar.

Sobre como esses jovens lidam com a sensação de morar em outro país, com costumes completamente diferentes de sua terra natal, Maísa acredita que certa dificuldade em entender a situação pela qual estão passando – além da própria questão da língua – faz com que eles não falem com tanta profundidade sobre o assunto.

A história desses jovens

Em seu livro, lançado pela editora Panda Books, Maísa Zakzuk traz as histórias de 12 crianças, de 12 países diferentes. Confira alguns personagens “revelados” pela autora:

 

Mariam – Palestina

Oficialmente, a jovem Mariam nasceu em Damasco, capital da Síria, mas é considerada apátrida, isso é, sem uma nação oficial, por causa de um conflito que dura longas décadas. A família da garota é da Palestina, região formada pela Cisjordânia, Faixa de Gaza e parte de Jerusalém, que nunca foi reconhecida oficialmente como país. Portanto, todos os seus parentes foram desde cedo privados dos direitos básicos de cidadãos. Antes de vir para o Brasil, a família viveu em um campo de refugiados na Síria e no Líbano, e nesse tempo a garota aprendeu a lidar com sentimentos de medo e tensão.

No Brasil, a família foi acolhida por um grupo de palestinos no centro de São Paulo. O pai de Mariam teve seu sonho de se formar em psicologia interrompido pela guerra. Já a garota quer aprender a pilotar aviões, e vive com a certeza certeza de que por aqui terá mais chances de ver seu sonho realizado.

 

 

 

 

 

Sebastien – Haiti

 

Um garoto apaixonado por Michael Jackson e futebol. Um sonho extremamente nobre, que reflete o tanto que viveu na sua ainda curta vida: ser missionário e propagar a paz pelo mundo. Depois do terremoto que devastou o Haiti em 2010, a mãe de Sebastien abandonou o país para buscar uma vida melhor. Chegou em 2014 ao Brasil. O menino ficou um ano e meio vivendo com o pai em Porto Príncipe, capital do país, até que sua mãe foi buscá-lo.

Apesar da barreira enfrentada pelo novo idioma, Sebastien já aprendeu uma de nossas palavras mais bonitas: saudade. Diz ter saudade do pai que ficou no Haiti, e também sente falta do chicô, um salgado de milho de sua terra.

 

 

 

 

 

 

 

Rosa – Angola

Em 2013, depois de chegar ao Rio de Janeiro com sua família da Luanda, Angola, a garota Rosa tomou seu primeiro banho de chuveiro com água quente na vida. No dia seguinte, a jovem, o pai e a mãe e as duas irmãs pegaram um ônibus com destino a São Paulo para buscar uma nova vida.

Rosa já está acostumada com sua rotina na capital paulista. Aqui, vai para a escola, estuda, tem aulas de balé, culinária e bordado. Apesar de muito jovem, lembra com carinho de quando ela e as irmãs esquentavam arroz e feijão em uma latinha de refrigerante vazia. Essa memória despertou em Rosa o desejo de se tornar uma grande chef de cozinha de um restaurante de comida africana, além de virar mestre em artes marciais.

 

 

 

 

 

 

 

Curiosidade: Apesar de existir uma crescente onda de xenofobia no Brasil, dados do Instituto Ipsos mostram que nossa percepção quanto à presença de estrangeiros é um tanto equivocada: os brasileiros acreditam que os imigrantes ocupam em média 30% de nossa população, quando na realidade o número não passa de 0,4%.

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