Certa vez uma criança
Disse: — O poeta me deve
Uma história em cordel,
Bonita, atraente e leve.
Quando perguntei: — Qual era?
Respondeu: — Branca de Neve!
Em 19 de novembro, comemora-se o Dia do Cordelista, homenagem a Leandro Gomes de Barros. Considerado criador do gênero, o poeta inovou com rimados textos populares bem humorados e na publicação de suas obras – criou uma gráfica para imprimi-las e viajava pelo sertão para divulgar o trabalho.
O escritor Varneci Nascimento sempre comemora essa data. Natural de Banzaê, cidade baiana a 300 quilômetros de Salvador, cresceu cercado por tradições locais, como o “batalhão” – dezenas de homens se unem para realizar trabalhos em sítios e fazendas de amigos. Nesses encontros, quando o suor dá lugar ao descanso, começa uma cantoria feita de improviso. “Os repentes do Nordeste costumam usar viola, mas a gente batia enxada no chão para fazer o ritmo”, conta o autor, que, em parte da vida, dividiu o gosto por cantar com a leitura de cordel, uma influência do pai. Varneci cursou História na faculdade, mas sempre trabalhou como escritor de cordel, onde juntou suas habilidades artísticas. Pela Panda Books, publicou duas adaptações de clássicos mundiais: Branca de Neve e O Pequeno Polegar.
Qual é a importância do cordel para a nossa literatura?
O cordel cativa com as rimas, os ritmos e a beleza de toda a sua construção. É uma delícia de ler! Esse gênero tem um grande poder de atração, ele pode transformar alguém que não gosta de ler em apaixonado por livros. Minha namorada é professora, ela lê para as crianças O Pequeno Polegar e Branca de Neve. Quando pega o texto em prosa, os alunos logo pedem: “Não, professora, a gente não quer assim, a gente quer do outro jeito”. Olha como eles gostam! Mas também não é brincadeira ler um clássico na escola. Eu sempre peço para os educadores falarem de cordel quando realmente se apaixonarem por ele. Com sinceridade, vão cativar os alunos.
Onde nasceu a literatura de cordel?
Algumas pesquisas dizem que ela surgiu em Portugal, no século XVII, mas o português não a mesma coisa que o nosso. Lá, era cordel só por estar pendurado num cordão – o cordel. Podia ter qualquer coisa escrita. A forma poética e o escrever rimado são do Nordeste. Uma vez, eu perguntei sobre isso para a professora Jerusa Pires Ferreira, pesquisadora da USP, que estudou o cordel em várias partes do mundo. Ela é baiana, como eu, e disse: “ixe, meu filho, lá é muito diferente!”. Hoje, nós não podemos dizer mais que o cordel é uma coisa só do Nordeste, tanto que foi tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio cultural do Brasil. O cordel também dialoga com o mundo por meio de expressões culturais, como a música e o cinema.
Como você comemora o Dia do Cordelista?
Desde 2013, eu vou a Natal (RN), onde acontece um grande encontro de poetas chamado “Ciclo Natalense do Cordel”. Esse ano ele terá que ser online. Também é um dia em que postamos bastante nas redes sociais, a gente faz muita zoada.