Clássico de Alexandre Dumas é um livro dentro de um livro
O mais novo lançamento da série “Clássicos Internacionais”, da Panda Books, é um livro dentro de um livro que faz parte de uma trilogia. Difícil de entender? Das 2.500 páginas de “O Visconde de Bragelonne”, ponto final da sequência de três livros que contam a história de “Os Três Mosqueteiros”, foram recortadas as 728 que ganham vida própria ao narrar a história de “O Máscara de Ferro”.
A seguir, confira 10 curiosidades sobre esta que é uma das principais obras do escritor Alexandre Dumas e da literatura francesa.
- A história do homem da máscara de ferro é inspirada em um episódio real que marcou a França no século XVIII: havia de fato na prisão da Bastilha – aquela que mais tarde acabaria tomada pelo povo na Revolução Francesa – um detento, chamado Eustache Dager, que era obrigado a cumprir pena com uma máscara de ferro sobre o rosto. O mistério em torno da figura de Dager criou uma série de teorias da conspiração nas ruas de Paris, dentre as quais se destaca aquela que faz parte da história de “O Visconde de Bragelonne”: Eustache seria um irmão gêmeo do rei Luís XIV (daí a necessidade de usar a máscara), lançado à prisão para não aspirar ao trono francês.
- Os primeiros documentos históricos que remetem à existência do “máscara de ferro” na vida real são de 1687 – 115 anos antes do nascimento do autor do livro. A chegada do prisioneiro é relatada em um diário de um carcereiro, o Monsieur de Saint-Mars, como fruto de uma “ordem do rei”. Além disso, segundo este relato, não se sabia a identidade do homem e era proibido falar o nome dele. À época, Dager estava preso na ilha de Sainte-Marguerite. Ele foi transferido para a Bastilha em 1698 e morreu cinco anos depois
- Muito antes de Alexandre Dumas nascer, outro grande nome da literatura e da filosofia francesa contou a história deste prisioneiro: François Marie-Arouet, conhecido mundialmente pelo pseudônimo de Voltaire, é considerado o responsável pela teoria de que o homem da máscara de ferro era o irmão do rei. Ele conheceu a história quando esteve preso na Bastilha, pouco mais de 10 anos depois da morte de Dager. Ferrenho opositor do absolutismo que concentrava todos os poderes na mão do rei, ele desenvolveu a teoria a partir da ideia de que só seria preciso colocar uma máscara em alguém que tivesse um rosto conhecido. Voltaire não chegou a registrar a sua interpretação para o mistério, mas descreveu no livro “O século de Luís XIV”, publicado em 1751, características físicas e um pouco do cotidiano de Dager na prisão. Foi este relato que inspirou Alexandre Dumas a desenvolver uma das principais tramas paralelas de “O Visconde de Bragelonne”.
- O homem da máscara de ferro apareceu apenas no último volume da trilogia mais famosa de Alexandre Dumas. A série começou em 1844, quando o escritor apresentou o trio Athos, Porthos e Aramis, além do escudeiro D’Artagnan, no livro “Os Três Mosqueteiros”. Já em 1845 foi publicado o segundo volume, “Vinte anos depois” e, por fim, em 1847, “O Visconde de Bragelonne”, onde Dumas pôde abordar o mistério do prisioneiro mascarado.
- No total, os três livros da trilogia “Os Três Mosqueteiros” somam algo em torno de 4.000 páginas: 700 para “Os Três Mosqueteiros”, 800 para “Vinte Anos Depois” e 2.500 para “O Visconde de Bragelonne” – que, de tão grande, foi publicado em 10 volumes, um deles dedicado ao Máscara de Ferro.
- Estima-se que “O Visconde de Bragelonne” tenha sido traduzido para cerca de 100 idiomas. No Brasil, a primeira versão da obra foi publicada em 1890 em 1.900 páginas divididas em três volumes. A edição foi, respeitando a grafia da época, da Empreza Litteraria Fluminense, que havia sido fundada em 1877 no Rio de Janeiro e tinha uma sucursal em Lisboa – por isso, as versões brasileira e portuguesa para o livro eram exatamente iguais.
- A Panda Books escalou um time de especialistas para oferecer uma versão absolutamente original desta obra: como em todos os demais volumes da série “Clássicos Internacionais”, a jornalista e escritora mineira Fátima Mesquita assumiu a missão de escrever a introdução com seu estilo inconfundível, carregado de bom humor e didatismo, além de rechear o livro com notas informativas que contextualizam eventos históricos e explicam expressões de difícil compreensão – garantindo assim que o texto original seja respeitado sem prejudicar o entendimento; a tradução é de Maria Cristina Guimarães Cupertino, que carrega mais de três décadas de experiência no mercado editorial e já traduziu outros clássicos como “O Grande Gatsby”, de Scott Fitzgerald; por fim, as ilustrações – que envolvem um infográfico que resume as interações entre as personagens e a corte francesa – são de Rafael Nobre, venceu do Brasil Design Award e finalista na categoria “Melhor Capa” no Prêmio Jabuti 2022, o mais importante da literatura brasileira.
- Além do Rei Luís XIV, outra figura da vida real que tem papel central na história do homem da máscara de ferro é Nicolas Fouquet, o famosíssimo superintendente de finanças da corte francesa, conhecido por conceder festas suntuosas para agradar o rei. Ele acabaria mandando prender Fouquet justamente por considerá-lo perigoso para a corte com as suas ambições.
- Alexandre Dumas, autor de “O Máscara de Ferro”, nasceu em 1802 e morreu em 1870. Até hoje é um dos autores mais lidos e mais traduzidos da história da literatura francesa, ainda que o reconhecimento à altura da sua produção literária tenha sido tardio. Apenas em 2002, mais de 130 anos depois de sua morte, o corpo de Dumas foi transferido do cemitério de Villers-Cotterêts para o Panteão de Paris, onde estão enterrados os principais escritores e filósofos da França. Na procissão que fez parte da solenidade do novo sepultamento de Dumas, o então presidente do país, Jacques Chirac, afirmou que o racismo foi um componente fundamental para que Dumas, que era negro, não tivesse o devido reconhecimento em vida.
- A história do homem da máscara de ferro sob a perspectiva do relato de Alexandre Dumas inspirou pelo menos nove filmes. O primeiro, ainda na era do cinema mudo, foi uma produção francesa lançada em 1904 com seis cenas sobre o reinado de Luís XIV, sendo uma delas dedicada ao prisioneiro Dager. Depois, vieram outras películas produzidas na Alemanha, no México, na Itália e nos Estados Unidos, onde a narrativa foi explorada em quatro oportunidades – na mais recente e mais famosa, em 1998, Leonardo Di Caprio interpretou o rei e o seu irmão gêmeo detido.