A indiana Komal Singh é engenheira de software e gestora de programas no Google. Mora atualmente no Canadá. Certa vez, participando de uma reunião no esquema, ela resolveu mostrar seus colegas para a filha de 4 anos. Todos engenheiros e homens.
— Engenharia é coisa de menino, né, mamãe? – disparou a menina.
Ela ficou incomodada e procurou formas de mostrar para a menina como também pode ser comum mulheres ocuparem essa área de trabalho. A gestora de programas percebeu que poderia atingir e estimular um número maior de garotas. Esta motivação resultou em “Ara – a engenheira das estrelas”, publicado no Brasil pela Panda Books. O livro conta a história de uma menina que quer programar o robô DeeDee para contar todas as estrelas que existem, mas não tem certeza de como fazer isso. Nessa aventura, ela conta com a ajuda de quatro superengenheiras, mulheres reais, colegas de trabalho da autora.
A engenharia faz parte de um método de educação chamado STEAM, que também envolve ciência, tecnologia, artes e matemática. Ele é focado em modelos práticos de aprendizagem, busca gerar mais interesse nos alunos pelas áreas trabalhadas e tem o potencial de aumentar a mão de obra qualificada nas regiões onde é aplicado. Manuela Roberti Hermani, de 11 anos, desenvolveu o gosto pela ciência na escola: “Gosto de animais desde quando comecei a estudar sobre eles. Queria ser veterinária, mas hoje tenho ciências e quero trabalhar na área estudando biologia”.
Assim como Manuela, outras crianças desenvolvem o gosto pela ciência durante a educação básica. Laura de Lima Rodrigues tem 12 anos e deseja fazer pesquisas em medicina. “Eu fui com a escola ao Museu Catavento, conheci toda a história da ciência e fiquei encantada”, afirma a menina, que se sentiu ainda mais motivada durante a exposição por ter conhecido a história de Marie Curie, a primeira mulher a receber um Prêmio Nobel, e a primeira pessoa a ser condecorada em duas áreas– primeiro em Física (1903), depois em Química (1911). “Toda hora eu conto para a minha mãe que vou ser cientista. Ela me fala para correr atrás e estudar, que, assim, vou conseguir!”
Laura e Manuela são alunas da rede pública e revelam que nunca tiveram problemas por escolher carreiras consideradas masculinas, a mesma realidade de Mariana Feres de Godoy, que, aos 11 anos, tem o desejo de ser engenheira de software, igual a autora de “Ara”. “Nunca estranharam. Sempre gostei de matemática e as pessoas acham normal eu querer fazer alguma coisa relacionada a isso”, afirma.
Empolgada com o conhecimento, Laura participou do “Mergulho na Ciência”, projeto realizado pela USP com apoio de empresas como a Panda Books. A iniciativa leva alunas do ensino fundamental para conhecer a estrutura da universidade nas áreas STEAM e realiza atividades ministradas por mulheres cientistas. O projeto é coordenado por Camila Negrão Signori, Professora Doutora do Instituto Oceanográfico, da Universidade de São Paulo. Ela explica que vivemos um período de transformação, onde algumas meninas ainda sentem barreiras, como a filha de Komal, mas outras não. “Na minha graduação, no início dos anos 2000, ainda tinha mais meninos do que meninas em classe. Entre os calouros do meu curso neste ano, 60% são meninas e 40% meninos”, conta Camila.
Quando tinha 9 anos, Mariana fez sozinha a pesquisa e a montagem de um pequeno elevador com uma caixa de leite. O mecanismo utilizava roldanas para subir e descer. Por coincidência, a menina tinha uma hamster de estimação, chamada Nutella, que participou da experiência como passageira do elevador. Ela revela que suas brincadeiras costumam ser relacionadas a aprendizados, sempre com apoio dos pais: “Eles me deram um programa para brincar e aprender lógica de programação. Também tenho um brinquedo para montar circuitos usados em computação”.