Quem está por trás do bem sucedido projeto da coleção Clássicos, da Panda Books, é o designer gráfico Gustavo Piqueira. Fundador do estúdio Casa Rex, ele e a equipe já receberam mais de 500 prêmios internacionais – e continuam somando. Gustavo e a Casa Rex são os responsáveis pela ideia das capas e da organização interna dos livros, incluindo ilustrações, notas de rodapé e boxes.
Como um projeto assim começa a surgir?
Primeiro há uma concepção geral, que é rápida. A ideia era assumir que um clássico em versão escolar precisaria trabalhar uma possível aversão que o aluno tem de leituras obrigatórias. Por isso, esse teor um pouco anárquico – já vem rabiscado. Desse princípio, nós temos alguns desdobramentos: como abordar todas as notas, os boxes, misturar ilustrações diferentes. Essa quantidade de elementos maior que em um livro comum atende o conceito do livro de um jovem e, ao mesmo tempo, ajuda a organizar a grande quantidade de paratextos.
Quais são as etapas seguintes?
São dois passos paralelos que se cruzam em um momento. Depois desse que eu chamo de “tom”, que não precisa ser materializado, temos a parte prática: entender o conteúdo. O livro é um território que você vai ocupar. É importante entender tanto suas características físicas quanto o que precisa caber nele. Tudo isso envolve pegar o texto, jogar no espaço, no número de páginas, usar um tamanho de fonte que seja bom para leituras e entender quais são os paratextos, para saber quantas variações serão necessárias. Nos Clássicos, da Panda Books, a mancha, que é a parte ocupada pelo texto, é menor do que o comum, para caber as notas e os boxes. Essa série de testes é um pré-projeto. Aí, nós escolhemos a fonte, a cor e as ilustrações.
Como foi o desenvolvimento do projeto da capa?
A proposta de capa original era diferente da que acabou adotada. Ela apresentava retratos dos autores rabiscados. Por exemplo, o Machado de Assis com o bigode rabiscado da forma que os alunos costumam fazer de brincadeira. Foi a única mudança do original. Gosto desse trabalho, porque já tem 10 anos e ainda se mantém. Alguns ficam velhos, é um aspecto inerente da minha atividade. Sempre que um projeto continua interessante com o passar do tempo é sinal de que ele se apoiava em algo original, e não apenas no espírito da época em que foi feito.