O radialista e professor universitário Marcelo Abud é um dos pioneiros na produção de podcasts no Brasil. O formato surgiu nos Estados Unidos em 2004. Marcelo conheceu a nova ferramenta em reportagens que saíram na imprensa. Começou a estudá-la e fez especialização em 2007, quando pesquisou a possibilidade de ser usada como meio de interação entre professores e alunos. Também é responsável há nove anos pelo podcast Instituto Claro, um dos mais importantes em educação no Brasil.
Como os professores usam podcasts com os alunos?
Na FAAP, faculdade onde trabalho, os docentes já indicaram podcasts ou para que os alunos os produzam. É uma ferramenta que chegou às escolas. Da mesma forma que indicamos um bom livro podemos sugerir podcasts – ou utilizar os dois, se houver complemento. O audiolivro também é uma ferramenta muito boa. Quando os professores discutem um assunto, podem recomendar um podcast sobre ele. É possível introduzir o tema na classe, sugerir que os alunos busquem o conteúdo de uma forma interessante e organizar um debate na aula seguinte.
Você tem algum exemplo recente de podcast que faz isso?
Tem um projeto inovador da escola La Fontaine, em Jundiaí, interior de São Paulo, feito pelo educador, escritor e contador de histórias Giba Pedroza. Acredito que tenha parado durante a pandemia. Ele criava regularmente radionovelas com os alunos. O Giba reunia professores e estudantes, entendia quais histórias queriam contar e construía tudo com eles. As crianças pensavam em como criar sons. Por exemplo, quando precisava de uma campainha, eles não baixavam o áudio da internet. Criavam aquele som por meios próprios.
Como a questão das fake news pode ser levada para a sala de aula?
Podemos usar a Revolta da Vacina como exemplo. Em 1904, a população do Rio de Janeiro acreditava que, se tomasse a vacina contra a varíola, viraria vaca. E agora temos o jacaré. Essa situação cria um interesse na criançada quando o professor fala sobre assunto. E tem todo um plano de fundo: foi justamente a desinformação que gerou a Revolta da Vacina, além de questões sociais. Acredito que fazer um paralelo entre a história da vaca e a do jacaré é uma forma de gerar um exercício. Dá para buscar podcasts que falem do assunto, desenvolver a narrativa, fazer uma reportagem, contar a história no formato de radionovela ou criar um boletim de 1 minuto. Tudo depende muito mais do professor do que de fórmulas. Cada um vai encontrar aquilo que seja melhor para aplicar e despertar interesse nos alunos. A liberdade é o que o podcast tem de mais rico para aplicação em sala de aula.
Qual é a importância de um projeto que une livro e podcast como o Esquadrão Curioso – Caçadores de fake news, de Marcelo Duarte?
Os formatos podem ser completares. Cada um tem a sua importância, mas, quando ouço, quero conhecer os personagens no livro, ver como são descritos e o que fazem. Quando leio a história, penso como seriam os personagens em uma ação fora dela. Então, tenho um complemento – isso é chamado de transmídia. O importante é saber o papel de cada formato e respeitá-lo. Se fosse feita apenas a leitura do livro, o podcast teria uma relevância, mas ele ofereceria menos do que pode.