Dedicados a pensar e estimular o desenvolvimento das crianças, livros confirmam também a força feminina no mercado editorial
Aproveitando que o Brasil e o mundo usam o mês de março para reafirmar a necessidade de que as mulheres ocupem cada vez mais espaços em diversas áreas, a Panda Books está lançando três livros assinados por autoras e ilustradoras.
Os livros são diferentes nos princípios, nas abordagens, nos temas e no público-alvo, mas guardam um elemento em comum: o desenvolvimento da criança. Em “Moleque”, Carmen Lucia Campos narra um dia comum na vida de um menino para mostrar ao público infantil a presença marcante dos idiomas africanos na composição do vocabulário do português brasileiro – com palavras como cafuné, cafundó, miçanga, tagarela, cangote, caramba, perrengue, zoeira, chilique, trambique, lengalenga e muvuca. A leitura ágil é facilitada pelas ilustrações da venezuelana Valentina Fraiz, que vive no Brasil há mais de duas décadas.
O livro ensina mais do que as palavras que têm origem na África. Além de um glossário com os significados de algumas expressões um pouco menos usuais, a autora aposta em um texto de apoio que versa sobre a resistência negra à escravidão e sobre o legado perverso do regime escravista, que a partir da Lei Áurea se converteu numa flagrante desigualdade social. Entender o caminho e as transformações que essas palavras percorreram é uma forma de aprender a própria trajetória dos escravos e de seus descendentes no Brasil.
Essa maneira de ensinar um pouco sobre algo tão importante para a história do nosso país certamente está em sintonia com outro dos lançamentos da Panda Books: “Receitas para Brincar” também aposta na interação entre passado e presente para apresentar às crianças de hoje um mundo que talvez a modernidade esteja escondendo. As autoras Josca Aline Baroukh e Lucila Silva de Almeida selecionaram 11 atividades lúdicas e completamente artesanais para divertir os leitores – na cozinha, fazendo lanches divertidos; com tintas, gravuras e modelagens para fazer arte; e nos jogos de tabuleiro.
Na prática, é como se o livro funcionasse como um “manual de instruções” para que as crianças descubram como planejar e executar novas brincadeiras. Aqui, é preciso criar para brincar. Assim como nos outros livros da dupla – “Parlendas para brincar”, com sua reunião de cantigas do folclore nacional, e “Adivinhas para brincar”, que coleciona charadas iniciadas com o famoso “o que é, o que é?” –, a ilustradora Camila Sampaio traz seu traço leve, colorido e muito bem distribuído ao longo das páginas.
Essa preocupação em colocar no papel algo que no passado era uma brincadeira de rua, dessas que todo mundo conhece, tem certa relação com “O registro e a educação pedagógica – Entre o real e o ideal… O possível”. Este não é um livro para crianças, mas é sobre elas. E, com uma abordagem voltada para educadores, realça a importância justamente de desenvolver um processo que passa por criar, executar e documentar.
Doutora em educação, Maria Alice Proença estimula professores, pedagogos e diretores a pensar em formas diferentes de trabalhar com os alunos. A partir de conceitos acadêmicos, a autora traz a definição de “registro” como um elemento importante para documentar essas novas abordagens e também o resultado empírico dessas experiências entre as crianças.
Trabalhar bem nesse período fundamental para a formação das gerações futuras também é uma forma de garantir que as meninas de hoje cresçam sabendo muito bem os espaços que ocupam e principalmente os que ainda devem ocupar nos próximos anos.