Autora do livro “Eu Estou Aqui” explica por que o acolhimento a refugiados deve começar na escola
O horror da guerra tem forçado milhões de ucranianos a deixar o país e buscar refúgio em países vizinhos ou até mesmo de outros continentes. Um movimento que afeta todo o planeta e que coloca em pauta a necessidade urgente de criar soluções a longo prazo para todos os necessitados. No caso da Ucrânia, 4 milhões de pessoas, ou quase ¼ da população, deixou o país em busca de proteção.
A Ucrânia, desse modo, se junta a outras nações que vivem um cenário semelhante, em que a guerra e a violação aos direitos humanos forçam famílias inteiras a fugir. Síria, Afeganistão, Venezuela, Sudão do Sul, Mianmar, República Democrática do Congo, Sudão, Somália, República Centro-Africana e Iraque são alguns deles. Uma crise que o mundo irá precisar administrar ao mesmo tempo em ainda tenta se reconstruir depois de dois anos dos efeitos devastadores da pandemia de Covid-19. Dados da ACNUR, a agência da Organização das Nações Unidas dedicada aos refugiados, mostram que o mundo tem cerca de 20,8 milhões de refugiados, sendo 40% de crianças.
O Brasil recebe ondas migratórias há bastante tempo. Na década passada, milhares de refugiados vindos de países africanos se instalaram no país. A partir de 2015, um grande fluxo migratório de venezuelanos chegou ao Brasil. Isso só para citar dois exemplos.
As histórias dessas trajetórias são diversas e, em sua maioria, repletas de obstáculos. O livro “Eu Estou Aqui”, de Maísa Zakzuk, aborda essa temática dura e urgente para sensibilizar toda a sociedade. São perfis de doze crianças que vieram de diferentes partes do mundo para começar uma nova vida no Brasil. Por que fugiram, como chegaram aqui, o que enfrentaram (e enfrentam) para se adaptar à nova língua e aos novos costumes são alguns dos temas explorados na obra. É o único livro sobre refugiados para crianças lançado no país. “O Brasil dispõe de leis que dão proteção aos estrangeiros, garantindo direitos como obtenção de documentos, permissão para trabalho e portas abertas para educação”, explica Maísa.
As garantias legais que as constituições dos países – como no caso brasileiro – conferem aos refugiados não asseguram, sozinhas, o bem-estar e uma adaptação digna para essas pessoas. Na prática, o preconceito e o próprio desconhecimento da melhor forma de acolhê-los são barreiras para que esse processo seja feito com êxito na vida real.
Por onde esse acolhimento deve começar? Maisa Zakzuk aponta um caminho. É no ambiente escolar que as famílias chegam com seus filhos. A participação de educadores e de crianças locais é essencial para criar uma sociedade livre de preconceitos, racismo e xenofobia. “Devemos aumentar a nossa capacidade de criar condições que vão além da assistência e da acolhida”, afirma Maísa. “A escola é a porta de entrada para que toda a sociedade exercite o respeito, a integração e a troca. É também uma maneira de aprendermos a enxergar o potencial dos que chegam e valorizarmos suas culturas”. Por isso, “Eu Estou Aqui” tem sido usado em escolas do país inteiro. Sobretudo neste momento em que mais uma crise migratória preocupa o mundo. “As pessoas falam no plural ‘refugiados’, mas é preciso enxergar cada um deles perto de nós”, explica a autora.