Com amor para o Brasil

Consagrado escritor infantil americano, Todd Parr completa vinte anos no mercado brasileiro com vinte livros publicados pela Panda Books

O americano Todd Parr chegou a pensar que não levava jeito para desenhar. Durante muito tempo, uma avaliação ruim de um professor de arte acompanhou o menino nascido em 1962 em Wyoming, no oeste dos Estados Unidos. Somente em 1999, aos 37 anos, o então comissário de bordo da United Airlines voltou a investir naquilo que tinha virado apenas um hobbie: parou de desenhar para estamparias de camisetas e iniciou a carreira de autor e ilustrador de livros infantis. Hoje, com quase sessenta títulos publicados, ele consolidou um estilo e já colocou três obras na prestigiada lista de bestsellers do jornal “The New York Times”.

Com texto breve e desenhos grandes e coloridos, Todd tem em sua obra um instrumento poderoso para a alfabetização das crianças. Mas ele quer ensinar mais do que isso: uma de suas grandes preocupações é mostrar o valor das diferenças. Foi assim que ele começou a carreira com “The okay book”, de 1999 – livro que tinha como premissa “dar um ok” para aprovar comportamentos que sejam especiais, únicos e que eventualmente possam receber alguma reprovação justamente por serem diferentes.

Foi assim também que ele ganhou o mundo. Dos mais de 20 idiomas para os quais os seus livros já foram traduzidos, o português está em destaque. O autor chegou ao Brasil pelas mãos da Panda Books, editora que iniciou a sua trajetória no mercado editorial coincidentemente em 1999. Os caminhos de Todd e da Panda se cruzaram em 2002: Marcelo Duarte, fundador da editora, estava nos Estados Unidos quando encontrou em uma livraria “It’s okay to be different”. “Eu me apaixonei pelo livro na hora e comprei um exemplar pra minha filha do meio, Beatriz, que estava com 7 anos”, lembra Marcelo. “A Panda engatinhava nessa área de compra de direitos internacionais e nós nem sabíamos ainda como fazer isso direito”. Todd festeja: “É uma história incrível de como começou a minha parceria com a Panda”.

Depois de uma rápida troca de e-mails, e com a ajuda de Todd nas questões burocráticas, “Tudo bem ser diferente” chegou às livrarias brasileiras em novembro de 2002. Era o começo de uma parceria de sucesso, que completa vinte anos em 2022. Em uma outra coincidência, os vinte anos são comemorados com a marca de vinte livros publicados em português pela Panda Books. O número foi alcançado com a publicação recente de mais dois títulos: “Hora de dormir” e “Seja você mesmo”, este último também voltado para a questão das diferenças. “Eu sou muito grato e feliz pelo sucesso que faço no Brasil”, diz Todd.

Quando visitou o país, em 2014, às vésperas da Copa do Mundo, ele voltou carregado de lembranças: uma camisa da Seleção Brasileira com seu nome nas costas, um kit de pimentas especiais (pimentas e queijos estão no topo da lista de Todd quando o assunto é gastronomia) e até mesmo a chave da cidade de Pirenópolis, entregue pelo então prefeito Nivaldo Melo. A cidade de 25 mil habitantes, no interior de Goiás, abriga a Flipiri, uma feira literária onde o americano promoveu uma oficina de ilustrações e participou de debates. Todd também participou de eventos literários em Belo Horizonte, Brasília e São Paulo.

Inspirado no desenhista norte-americano Keith Haring, expoente das cores vivas com contornos pretos, Todd aposta em uma comunicação simples e direta com as crianças. Termina todos os textos com a frase “Com amor, Todd” e tenta criar em sua obra um ambiente confortável para os seus pequenos leitores – além da questão das diferenças, ele publicou obras como “Tudo bem cometer erros” e “O livro dos sentimentos”, para ajudar as crianças a aceitarem falhas e emoções negativas: “Eu aprendi muita coisa nesses últimos vinte anos, mas a essência continua a mesma: ajudar as crianças a se sentirem bem com elas mesmas e orgulhosas do que fazem”, resume.

Sem mudar a essência e sem abandonar algumas das suas figuras mais marcantes, como o cachorro Otto e o menino com a cueca na cabeça, Todd promoveu algumas pequenas mudanças no seu jeito de escrever e desenhar. Aderiu, por exemplo, aos sinais de pontuação, antes ignorados numa mera solução artística, mas agora respeitados para dar um bom exemplo ao seu público. Bem-humorado, aponta o que mais mudou nessas duas décadas: “Minha arte não parece mais coisa de uma criança de 6 anos; agora já parece coisa de uma de 10”.

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