A arte de ilustrar livros infantis

A escritora e ilustradora Renata Bueno adora coisas antigas, e a casa de uma de suas avós sempre foi lugar de achados especiais. Uma das relíquias encontradas foi um rolo de números que pareciam ter sido datilografados. Ele tinha pertencido ao avô de Renata. Ela ficou encantada e imaginou um livro em que os números fossem o fio condutor. Assim nasceu Quantas gotas tem a chuva?, publicado pela Panda Books. Os números do avô estão na capa, na sobrecapa e em várias das 36 páginas. “Eles constroem linhas, massas sobrepostas, escondem-se por trás do vegetal, revelando transparências, e dialogam com a paleta de cores do livro”, diz a autora.

Em “Quantas gotas tem a chuva?” , Renata Bueno realizou colagens com um rolo de números antigos de seu avô.

O Panda News conversou com três ilustradores, que contaram um pouco do processo de criação e das técnicas que utilizam para transformar ideias em desenhos que são pura emoção.

Camila Sampaio mescla técnicas digitais com desenhos feitos a mão em seus trabalhos.

Do papel ao computador

Camila Sampaio ilustrou cinco livros para a Panda Books: Vamos tomar banho?, Tinha que ser comigo?, Parlendas para brincar, Adivinhas para brincar e Alinhavos. Todos começaram com desenhos em papel – esboços conhecidos como rafe. “Quando recebo o original, tento captar o ritmo da história, e, às vezes, a estrutura do texto dá uma ideia do que ilustrar”, conta Camila. Os rafes são escaneados e enviados à editora para aprovação.

Depois que os rafes são aprovados (e o nervosismo passa), Camila realiza a colorização no computador. Ela trabalha com o estilo vetorial, uma técnica que se baseia em fórmulas matemáticas para criar desenhos a partir de pontos, linhas e curvas.

O livro que fez amigos de Camila esquecerem de suas pizzas.

Depois do lançamento de Adivinhas para brincar, Camila se lembra de uma viagem feita com amigos. Como alguns tinham filhos, a ilustradora levou uma cópia do livro. Um dia, todos saíram para jantar, e os mais novos tiveram uma mesa só para eles com o Adivinhas. Apesar das diferentes idades, as crianças se uniram em um só grupo. Curiosos, os adultos foram ver o que estava acontecendo. “Lembro de olhar para o lado, e todo mundo estava em torno da mesa tentando matar as charadas. A comida ali esfriando, e o pessoal se divertindo com as adivinhas”, conta a ilustradora.

Leandro Oliveira, o LeBlu, explora recursos digitais para fazer ilustrações.

Sempre digital

Leandro Oliveira, o LeBlu, ilustrou na Panda Books Jogo sujo, Centauro guardião e O segredo do disco perdido. Seus desenhos são totalmente digitais e as influências passam por ilustrações do mundo eletrônico, como os games. “Aos sete anos, eu tive um tio que morava no Japão. Sempre que ele vinha ao Brasil, me trazia fitas de videogame com os encartes dos jogos, e eles eram ilustrados”, conta LeBlu. Foi com esse contato que ele começou a entender a função de um profissional dedicado à ilustração.

“Apesar de trabalhar no digital, acho legais os trabalhos manuais”, afirma. “Gosto de textura, de erro, de ranhuras e defeitos.” O ilustrador busca características de desenhos manuais em seus trabalhos, mas, graças ao digital, ele tem um controle melhor do resultado.

“O segredo do disco perdido” é uma aventura que também foi ilustrada ao som do Clube da Esquina.

O ilustrador conta como foi emocionante o primeiro trabalho feito para a Panda Books: O segredo do disco perdido, livro que fala bastante sobre o grupo musical mineiro Clube da Esquina. LeBlu, um apaixonado por MPB, estava trocando de emprego e seu filho era bem pequeno. Além disso, ele revela ter feito um grande amigo – o autor Caio Tozzi. “Ilustrei o livro ouvindo os dois álbuns do Clube da Esquina sem parar”, diverte-se. “Pude fazer isso porque fiquei um mês em casa antes de começar no emprego novo.”

Renata Bueno não tem uma técnica preferida e transita por diferentes formas de ilustração.

Desenhos por todos os lugares

Autora e ilustradora de Quantas gotas tem a chuva?, Renata Bueno diz que não tem preferência na hora de fazer seus trabalhos. “Desenho muito no papel, mas também no computador, no chão, nas paredes…”. Ela explica que gosta de experimentar materiais e adora colagens, usando bastante a técnica em suas ilustrações.

Um exemplo de sua técnica preferida é o livro Quantas gostas tem a chuva?, feito com os números datilografados do avô. Renata criou a primeira ilustração no Brasil. Depois, ela se mudou para a Holanda, onde terminou os desenhos e criou o texto. “Fiz alguns esboços a lápis, em tamanho menor. Mas, na maioria das vezes, as imagens surgiram sem seguir um traço”, conta.

A ilustradora explica que cada livro tem suas particularidades, o que interfere na técnica escolhida. “Há livros onde sou a autora do texto e convido outro ilustrador para fazer parceria. Em outros, faço primeiro os desenhos e depois crio os textos. E tem aqueles em que parto do texto de um autor para criar as imagens”, finaliza.

A vovó e o vovô precisam de carinho

A autora Carmem Lucia Campos foi convidada para um chá da tarde numa escola e, para sua surpresa, se viu cercada de bisavós, avós e crianças. O centro das atenções era o livro A bisa fala cada coisa, que trata da importância dessa relação, lançado pela Panda Books. “Foi emocionante: os pequenos se orgulhavam em exibir as avós e as bisavós e demonstrar o carinho que tinham por elas”, conta Carmem, que tem outras quatro obras pela editora.

“A bisa fala cada coisa!” conta uma divertida história de aprendizado entre uma garota e sua bisavó.

Manuel Filho, autor de Vovô não gosta de gelatina, já teve experiências parecidas. Escolas que adotaram o livro promovem o encontro entre avós e netos quando recebem a visita do autor. “Os encontros são muito bonitos”, comemora. “Gosto quando as crianças precisam fazer a árvore genealógica da família e percebem os mais velhos são um ponto de sabedoria”. Em comemoração ao Dia dos Avós, 26 de julho, data de Santa Ana e São Joaquim, mãe e pai de Maria e avós de Jesus, o Panda News promoveu uma conversa entre Carmem e Manuel sobre como fortalecer a relação de avós e netos. Todos só têm a ganhar!

Em “Vovô não gosta de gelatina”, Paulinho vive aventuras em diferentes fases da vida do avô.

Panda News: As crianças já não têm uma ligação bastante forte com seus avós? Por que tratar disso nos livros?

Carmem Lucia: Nem todas as crianças têm um contato cotidiano com os avós e, outras, mesmo tendo esse convívio próximo, não se dão conta da importância deles. Ou tendem a valorizar os avós apenas pela permissividade que dão em relação às suas traquinagens, pela prontidão com que realizam vontades dos pequenos ou por causa de bens materiais, como brinquedos e mesadas. Ao escrever A bisa fala cada coisa, minha intenção foi resgatar a relação de afeto que une as crianças e os mais velhos da família.

Manuel Filho: É, precisamos considerar muitas coisas ao escrevermos um livro infantil. Temos que pensar nas diferentes realidades que vamos encontrar. Por exemplo, há crianças que são criadas pela avó e pelo avô, enquanto outras têm o pai, a mãe e os quatro avós. O Vovô não gosta de gelatina foi lançado há 6 anos e, desde então, acabou adotado em escolas de diversos lugares. Já recebi e-mails de escolas rurais e de ocupação que adotaram livros meus.

Quais são as maiores carências que os idosos têm e como as crianças poderiam ajudá-los a resolver?

CL: Acho que algumas carências dos idosos são as mesmas das crianças: respeito, atenção, cuidado e, principalmente, serem ouvidos e vistos de fato. A troca entre avós e netos pode ser muito estimulante para ambas as partes, criando até uma espécie de cumplicidade.

O pouco conhecimento do uso de tecnologia das pessoas mais velhas deixou essas gerações mais afastadas?

MF: Nós estamos em um momento único e a tecnologia está aproximando os jovens de seus avós. Talvez, as pessoas com mais de 80 anos é que tenham dificuldades para lidar com esse tipo de tecnologia.

CL: Além disso, a chamada “terceira idade” está cada vez mais ativa e conectada. Não faltam blogueiros e youtubers mais experientes, que assumiram os cabelos brancos ou preferiram adotar um visual moderno e linguagem atual.

MF: A minha mãe tem 74 anos e está no Instagram! É só ensinar. Os idosos criam redes entre eles para trocar coisas, como fotos e receitas. Isso também é importante.

CL: Concordo, Manuel. Acredito que a dificuldade dos mais velhos com a tecnologia pode ser uma ponte para aproximar idosos e crianças. Essa troca vale para outros saberes, como netos que ensinam avós a ler e avós que ensinam os pequenos a fazer brinquedos antigos, típicos de sua infância. Trata-se de um aprendizado que estreita os laços de afeto.

As doenças relacionadas à idade ainda são um tabu a ser enfrentado? Como a escola pode ajudar nisso?

CL: Mais do que as doenças, a própria velhice e a morte são tabus.

MF: Sim, parece que envelhecer no Brasil é um pecado!

CL: A escola pode ter um papel relevante na discussão desses temas com as crianças. Há inúmeros livros infantis que abordam doenças comuns na velhice, como Alzheimer e Parkinson. A partir dos livros, é possível promover atividades que aproximem avós e netos, como entrevistas, troca de experiências e eventos na escola. É um bom caminho para estreitar laços entre gerações que têm muito a aprender e a ensinar uma à outra.

MF: Também gosto quando as escolas promovem datas para colocar as gerações em contato, como o Dia dos Avós.

O que fazer com as máscaras depois que isso tudo passar?

Baratas, fáceis de fazer e acessíveis, as máscaras são nossas grandes aliadas no combate à pandemia do coronavírus. Só na cidade de São Paulo, entre abril e maio, foram produzidos dois milhões de máscaras de tecido em Escolas Técnicas Estaduais (ETCs) para distribuir à população carente. Sem contar as milhares de máscaras confeccionadas diariamente por artesãos, costureiros e os adeptos do “faça você mesmo”.

Para muitos, o acessório virou um item fashion, e já é comum uma pessoa ter várias máscaras em casa, de estampas e tecidos diferentes, para combinar com os figurinos. Imaginando que cada habitante de São Paulo tenha 5 máscaras diferentes, podemos considerar que, só na cidade, já foram gastos 439.698 metros quadrados de tecido. Com toda essa malha, daria para forrar o gramado de 68 campos de futebol!

Esse número assustador só tende a crescer. A produção de máscaras de tecido deve seguir em ritmo acelerado enquanto durar a pandemia, por um motivo muito simples: elas têm vida útil curta. As máscaras devem ser descartadas depois de 30 usos, ou sempre que o tecido apresentar furo ou desgaste. O que fazer com essa montanha de tecido depois que isso tudo passar?

“Nós, enquanto consumidores de máscaras, poderíamos cobrar das confecções que as produzem que as recebessem de volta para que sejam encaminhadas a indústrias de reciclagem”, sugere Alessandra Ponce Rocha, autora de Alinhavos, primeiro livro no Brasil sobre moda sustentável para crianças, publicado pela editora Panda Books. A Renovar Têxtil, que coleta resíduos têxteis na região do Brás e Bom Retiro, centro de São Paulo, é uma das empresas que recebem doação de tecido para desfibramento, processo que torna a fibra reutilizável para a produção de novos tecidos. Eles não exigem quantidade mínima para doação, mas precisam ter certeza de que os materiais são passíveis de reciclagem.

Alessandra Ponce Rocha e seu livro “Alinhavos”.

Tecidos como algodão, poliéster e malha costumam ser compatíveis com o processo, mas Alessandra lembra um detalhe importante: “As máscaras já utilizadas devem ser devidamente higienizadas, com o laudo da lavanderia, para que haja a garantia de que não contaminarão os demais materiais”. O laudo é emitido por lavanderias industriais e, por isso, esse exemplo de doação se aplica a ações promovidas pelas confecções que já se utilizam desses processos. “Outro ponto importante é que as máscaras sejam doadas apenas com a parte têxtil”, aponta Alessandra. “A costura e materiais extras como elásticos precisam ser retirados”.

Uma ideia mais caseira é utilizar os tecidos das máscaras descartadas para a confecção de artesanatos como fuxicos e colchas de retalhos. “São atividades que podem ser prazerosas, não demandam grandes quantidades de tecidos, e promovem a conexão entre os membros da família”, indica a estilista. “Como a recomendação é que fiquemos em casa até que tenhamos a epidemia controlada, é mais um ótimo passatempo!”. Para ambas as atividades, é imprescindível que as máscaras estejam higienizadas, seguindo as mesmas recomendações de limpeza já praticadas no dia a dia de quem as usa como forma de proteção: deixar a máscara imersa numa solução com um litro de água e 10 mililitros de água sanitária durante 40 minutos.

Por que crianças gostam tanto de livros de terror?

“Viu o demônio outras vezes, sempre à noite, entregando o pacote às pessoas adormecidas ou em transe. Ele trazia uma mensagem de morte, essa era sua única certeza. Mas para quê? Ela até conseguia ler as palavras, mas não as entendia, pois não associava aquilo a nada. De qualquer maneira, vivia aflita, pois achava que só podia ser coisa ruim”.

Regina Drummond sempre foi uma apaixonada por histórias de terror. Foto: divulgação.

Durante a leitura de um trecho do conto O mensageiro da morte, numa visita a uma escola, a autora Regina Drummond percebeu que três alunas se abraçaram, tremendo de medo.

– Querem que eu pare? – perguntou Regina.

Uma delas respondeu:

– Não, não. Continue! Estamos com medo, mas gostando muito!

Ivan Jaf escreve histórias de terror há mais de trinta anos. Foto: divulgação.

“O medo é uma emoção deliciosa”, diz Regina Drummond, uma das oito escritoras convidadas pela Panda Books para fazer parte da coleção Hora do medo, que tem quatro livros. O conto O mensageiro da morte está no livro “Lobisomem e outros seres da escuridão”.  Os outros são: Conde Drácula e outros vampiros, O ladrão de órgãos e outras lendas urbanas e Frankenstein e os outros mortos-vivos.

Rosana Rios é uma das oito autoras da coleção “Hora do medo”. Foto: divulgação.

Ivan Jaf, autor de quatro contos em Hora do medo, escreve histórias de terror para crianças desde 1987. Ele relaciona a sensação causada por essas narrativas à que sentimos em brinquedos como as montanhas-russas e lembra que, nessas ocasiões, os pequenos até competem para saber quem suporta mais medo. “Esse sentimento é controlável pelas crianças, por isso pode ser bom, diferente de um medo real”, afirma Regina. “O medo na literatura é um instrumento de autoconhecimento”, completa Rosana Rios, também autora da coleção de terror.

O psicólogo e psicanalista Diego Penha faz doutorado em horror e psicanálise.

A leitura de obras assustadoras, portanto, ajuda crianças a lidarem com seus medos. Histórias com séculos de tradição, como “Chapeuzinho Vermelho” ou “João e Maria” em suas versões originais, já traziam tramas muito sombrias. Em 2008, a Panda Books lançou O livro horripilante de Zé do Caixão, com histórias contadas pelo ator e cineasta José Mojica Marins, criador do famoso ícone do cinema de terror brasileiro. Segundo o psicólogo e psicanalista Diego Penha, o medo acumula tensões no corpo e gera uma sensação de forte desprazer. “Mas, quando conseguimos descarregar essa tensão, ao ficarmos arrepiados por exemplo, a sensação é prazerosa”, explica ele. “É uma maneira que o sofrimento encontra para aparecer e ser tratado”.

Em seus contos de terror, Shirley Souza busca levar o leitor a ter medo de seus próprios medos.

Rosana Rios vê o medo como parte do nosso extinto de sobrevivência, um recurso importante para enfrentar os perigos. “Os medos sempre vão existir”, diz Shirley Souza, que escreveu um total de 16 histórias que dão medo para a coleção. “Afinal, nós não somos onipotentes, fortes e poderosos”. Ficou ou não ficou com medo?

A Revolução de 1932 de A a Z

Por que o 9 de julho é uma data tão importante para o estado de São Paulo? Esse dia batiza uma das principais avenidas da capital e é feriado em todo o território paulista. Em 9 de julho de 1932, São Paulo se transformou num verdadeiro campo de batalha, e a população pegou em armas para lutar contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas e a favor da promulgação de uma nova Constituição.

Ricardo Della Rosa, autor de “Revolução de 1932”. Foto: Divulgação.

Para você conhecer alguns dos mais curiosos detalhes da Revolução Constitucionalista de 1932, o Panda News preparou um A a Z, com base nas informações que estão no livro Revolução de 1932, de Ricardo Della Rosa. Com 128 páginas e 450 imagens inéditas, a obra revela uma faceta pouco explorada sobre o conflito. Há ainda uma edição especial de colecionador, que acompanha 10 fac-símiles.

A – Armas de fogo

Antes de a Revolução de 1932 estourar, a produção bélica de São Paulo se resumia a 25 mil cartuchos e 25 mil granadas de mão por dia. O conflito provocou uma intensa mobilização industrial na região de São Bernardo, que elevou os números diários para 220 mil cartuchos e 220 mil granadas. Profissionais da Escola Politécnica e do Instituto de Engenharia colaboraram com o desenvolvimento de projetos de armas mesmo sem dominar essas técnicas. No fim das contas, São Paulo desenvolveu morteiros, bombadas, espingardas e até um lança-chamas.

B – Brasão

Quando a Revolução despontou, a bandeira de São Paulo e o brasão de armas da cidade foram logo adotados como símbolos pelos combatentes e simpatizantes. Mas a comissão de propaganda tratou de providenciar a arte que representaria o Estado como um todo, e transformou um desenho criado pelo artista plástico José Wasth Rodrigues no brasão do Estado de São Paulo, instituído por decreto governamental ainda em 1932.

C – Campanha do Ouro

Um crowdfunding para a Revolução! Esse seria o slogan da Campanha do Ouro, caso a Revolução de 1932 tivesse ocorrido nos tempos atuais. Lançada em 8 de agosto de 1932, a Campanha do Ouro Para o Bem de São Paulo arrecadou dinheiro, alianças, pedras preciosas e diversos objetos de valor do povo paulista. Os itens eram revertidos em medicamentos, armas, alimentos, produtos de higiene e uniformes para os soldados do front.

D – Desigualdade, Discrepância e Diferença

A discrepância entre as forças paulistas e as federais era tão grande que é de se espantar que os combates tenham persistido por tanto tempo. Foram cerca de 40 mil combatentes armados do lado do Estado de São Paulo contra 300 mil a 350 mil homens federalistas. Havia também notável diferença no preparo dessas tropas. Estima-se que 25 mil dos soldados paulistas eram voluntários sem o mínimo treinamento específico para a guerra, enquanto o lado federal era composto em sua totalidade por integrantes do Exército, da Marinha, das polícias estaduais e da Aviação.

E – Estrangeiros

As colônias estrangeiras que viviam em São Paulo colaboraram com o Movimento Constitucionalista, cada uma à sua maneira: de modestas arrecadações materiais ao alistamento de voluntários para os batalhões civis. Os italianos, por exemplo, arrecadaram bastante dinheiro para a Revolução. Já a colônia síria contribuiu com a produção de capas impermeáveis para proteger os soldados. Os alemães entregaram cinco ambulâncias moderníssimas, montadas e equipadas.

F – Feminina

A Revolução de 1932 provocou uma união feminina sem precedentes na história do Brasil. No total, mais de 70 mil mulheres trabalharam como voluntárias em oficinas de costura, na Cruz Vermelha, no Departamento de Assistência aos Feridos, na Campanha do Ouro, em postos de enfermagem e na produção das marmitas dos combatentes.

G – Getúlio Vargas

Em 1930, o então governador do Rio Grande do Sul Getúlio Vargas liderou um movimento armado que culminou num golpe de estado que depôs o presidente em exercício, Washington Luís, impediu a posse do presidente eleito, Júlio Prestes, e instituiu um Governo Provisório. No ano seguinte, uma grave crise econômica, que assolou São Paulo e levou o desemprego a patamares até então desconhecidos, foi o estopim do processo de ruptura dos paulistas com o governo Vargas, que culminou na Revolução de 1932.

H – Herói

A lei 12.430, de 20 de junho de 2011, inscreveu os nomes de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo como heróis paulistas da Revolução Constitucionalista de 1932, no Livro dos Heróis da Pátria. Mas outro nome, menos conhecido do público, também ficou marcado como um grande herói da Revolução. Durante o conflito, o jornalista Ibrahim de Almeida Nobre, membro da Academia Paulista de Letras, não se limitou a atuar na sua área; também realizou discursos em comícios, convocou a participação popular e se alistou para o front, atuando em um batalhão que acabou batizado com seu nome: o Batalhão Ibrahim Nobre, da Frente Sul.

I – Improviso

Com o dinheiro curto e pouca estrutura, a Revolução de 1932 ficou marcada pelos improvisos. Um deles merece destaque: a dedicação de obstinados engenheiros a blindar trens para serem usados em combate no interior paulista – possível porque boa parte da luta se dava perto das estradas de ferro: a Sorocabana, a Mogiana, a Central do Brasil. Esses veículos, que se tornaram mitológicos, foram talvez a arma mais eficaz dos revolucionários contra as tropas de Getúlio Vargas.

J – Júlio Prestes

Quando a Revolução de 1932 aconteceu, Júlio Prestes de Albuquerque já era uma personalidade influente. Entre 1927 e 1930, foi presidente do Estado de São Paulo – cargo equivalente ao atual governador. Em 1930 seria eleito presidente do país, impedido de ocupar o cargo por causa da Revolução de 1930. Em 1932, Prestes estava exilado. Mesmo longe, apoiou fervorosamente o Movimento Constitucionalista.

K – Klinger

Um dos principais nomes militares da revolta, o general Bertholdo Klinger era comandante do estado do Mato Grosso quando se distanciou do grupo político que apoiava o Governo Provisório de Getúlio Vargas e se juntou aos conspiradores constitucionalistas. Já no Comando Supremo do denominado Exército Constitucionalista, foi responsável direto pelo estopim do conflito. Uma carta ofensiva que ele enviou ao então recém-nomeado Ministro da Guerra, general Inácio do Espírito Santo Cardoso, sinalizou ao Governo Provisório a intenção de deflagração do levante. Em 8 de julho, Klinger foi afastado de seu cargo oficial e, no dia seguinte, deu-se início à revolta.

L – Lei

A Revolução de 1932 é também conhecida por Revolução Paulista e Revolução Constitucionalista – este último, por um motivo bem claro: seus apoiadores lutaram pela volta do país ao império da Lei, demandando eleições e uma nova Constituição (que nada mais é do que o conjunto de normas que regem um Estado). O objetivo não foi conseguido de imediato, mas em 1934, depois de muita pressão popular, o governo de Getúlio Vargas finalmente promulgou uma nova Constituição.

M – MMDC

Criada em 24 de maio de 1932, a MMDC foi uma poderosa organização civil montada para apoiar os paulistas durante a Revolução. Faziam parte dela pessoas influentes nas academias, na política, na indústria e no comércio, mas seu nome acabou se tornando a sigla MMDC em homenagem aos jovens mortos em 23 de maio, na véspera de sua fundação. Assassinados por tropas federais em meio a uma manifestação, Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo são considerados os mártires do Movimento Constitucionalista de 1932.

N – Nove de Julho

A Revolução Constitucionalista teve início oficial em 9 de julho de 1932, cinco dias antes da data prevista. A estratégia de antecipação do conflito era arriscada, mas tinha objetivos maiores: ajudar a reverter a situação do general Klinger, que havia perdido suas tropas no Mato Grosso, e inflamar o clamor popular, para atrair mineiros e gaúchos à luta. A data é tão significativa para a história de São Paulo que, desde 1995, o 9 de julho é considerado feriado civil estadual.

O – Obelisco

Inaugurado em 1960 na cidade de São Paulo, o Obelisco Mausoléu ao Soldado Constitucionalista – mais conhecido simplesmente como Obelisco do Ibirapuera – é a grande homenagem aos que morreram na Revolução de 1932. O conjunto artístico e arquitetônico projetado por Galileo Emendabili tem 68 metros de altura e exatos 1.932 metros quadrados de área construída, em referência ao ano da Revolução. O número 32 ainda aparece – não por acaso – na metragem da largura da cripta e no número de projéteis esculpidos em mármore exibidos em sua fachada.

P – Propaganda

Incisivos, os cartazes que convocavam voluntários a engrossar as fileiras de combate em 1932 eram eficientes obras do Departamento de Propaganda da MMDC. O mais famoso desses cartazes dizia: “Você tem um dever a cumprir. Consulte sua consciência”. Os distintivos também funcionaram como peças de propaganda: criaram-se mais de duzentos tipos diferentes, com as bandeiras de São Paulo e do Brasil, o brasão de armas paulista e slogans como “Tudo por São Paulo”.

Q – Queda da Bastilha

Inicialmente, a Revolução de 1932 estava programada para estourar em 14 de julho, numa homenagem à Queda da Bastilha. Ocorrida em 14 de julho de 1789, a invasão da Bastilha e a consequente Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão marcaram a fase inicial da Revolução Francesa, que provocou uma transformação épica na França e em toda a Europa, com a derrubada dos antigos ideais da hierarquia aristocrata e a imposição dos novos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade.

R – Revolução

O termo “revolução” ganhou conotação política no século XVII, quando passou a ser usado para indicar acontecimentos capazes de abalar a ordem social de uma nação. A Revolução de 1932 acabou sendo sufocada pelas tropas de Getúlio Vargas, mas, do ponto de vista político, o que se viu foi o fortalecimento do projeto liberal e constitucionalizante, tão almejado pelos paulistas.

S – São Paulo

Com quase 46 milhões de habitantes e uma economia que responde por 32,5% do total de riquezas produzidas no país, São Paulo é o estado mais populoso e desenvolvido do Brasil. A Revolução Constitucionalista, considerada o maior movimento cívico da história de São Paulo, provou que, desde aquela época, o estado já era uma potência industrial. Organizada pela Federação das Indústrias de São Paulo em parceria com a Associação Comercial, a mobilização para armar os combatentes paulistas aumentou a produção bélica do estado em 10 vezes.

T – Tecnologia e Técnica

Criada pelo Instituto de Engenharia e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Comissão Inspetora das Delegacias Técnicas (CIDT) forneceu serviços de engenharia tecnológica à força revolucionária. Os cerca de 250 graduados em engenharia que se inscreveram no programa produziram mapas de estradas, construíram e conservaram campos de aviação, instalaram linhas telefônicas e telegráficas e fizeram até um sistema de purificação de água para abastecer as tropas no front.

U – Uniforme

Fabricado em São Paulo durante a Revolução, o uniforme de voluntário paulista era composto por uma camisa cáqui com acessórios em lona e a patente bordada costurada na manga, braçadeiras de pano, cobertura cáqui para a cabeça (popularmente chamada de “capacete de pano”), porta-munição de pano, cinto de couro com coldre e porta-ferramentas, saco de pano para itens de primeiros-socorros e pulseira de identificação do combatente. No kit de utensílios distribuído aos voluntários, havia uma bússola, um cantil de metal, uma pá de trincheira e facões.

V – Voluntários

O voluntariado foi uma das peças-chave que possibilitaram que a Revolução de 1932 de fato acontecesse. Além do papel prestado nos campos de batalha, na produção industrial, na propaganda e nos serviços de necessidade básica, o movimento voluntário atuou também na reposição da Força Pública, que se viu desfalcada com o empenho de seus membros em participar da guerra. Durante o conflito, funcionou em São Paulo uma organização denominada Serviço de Policiamento Civil, que atuou de forma voluntária com o objetivo de evitar as ações de gatunos, ladrões e larápios oportunistas.

X – Xavantes

Os batalhões formados nas cidades do interior paulista foram de extrema importância para que as forças da Revolução atingissem de forma expressiva o território estadual. Um dos palcos de batalha foi a pequena cidade de Xavantes, localizada na divisa com o Paraná – ponto estratégico para a contenção das tropas federais. Nas margens do Rio Paranapanema, soldados paulistas se punham a postos, à espera da invasão gaúcha. Hoje, no local, jaz uma pedra com uma mensagem escrita por um soldado constitucionalista com a sua baioneta.

W – Winchester

Durante a Revolução de 1932, foram incorporadas ao arsenal dos combatentes várias carabinas Winchester modelo 1892, arma pesada, não necessariamente adequado ao meio urbano. Parte delas foi doada pela população civil ao esforço constitucionalista, enquanto outras foram requisitadas aos estabelecimentos comerciais de caça e pesca. Se não bastasse, vários voluntários se apresentaram para o serviço militar usando suas próprias Winchesters – são famosas as fotos feitas nas imediações da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, com estudantes armados com elas.

Y – Ypiranga

Foi exemplar a atuação dos Correios durante a Revolução de 1932: estivesse onde fosse, se vivo, o combatente destinatário de uma carta a receberia, em mãos. Detalhes cuidadosos como cartões-postais temáticos e selos especiais tornaram o movimento ainda mais memorável para aqueles que arriscavam se corresponder. A gráfica Ypiranga se dispôs a imprimir de forma voluntária uma série de selos desenhada especialmente para a ocasião, que circulou oficialmente até o final de 1932 (e hoje, é claro, é item de colecionador).

Z – Zona de combate

De 9 de julho a 2 de outubro de 1932, o estado de São Paulo viu proliferarem-se zonas de combate em seu território. Muitas cidades do interior foram completamente invadidas tanto por tropas paulistas como por federais. A MMDC ficou responsável pelo amparo às famílias denominadas “retirantes de zonas de combate”. Quando a situação se complicou em determinadas cidades – como Areias, Buri e Queluz, que acabaram sitiadas –, moradores eram encaminhados para a retaguarda e a organização os auxiliava.

Casal Animal: livros que são o bicho!

Os biólogos Rachel Azzari e Guilherme Domenichelli levam uma vida quase comum. Ela trabalha na Coordenadoria de Educação Ambiental do Estado de São Paulo, ele presta consultoria ambiental para empresas, é palestrante e youtuber. São pais de Gabriela, de 6 anos, e Isadora, de 2.  O “quase comum” fica por conta do número de animais de estimação que a família tem em casa: uma tartaruga, uma rã, dois jabutis, uma jiboia, várias baratas de Madagascar (uma das maiores do mundo), um teiú e até uma lagartixa, Frida, da espécie lagartixa-leopardo, originária do Oriente Médio e da Índia.

Rachel conta que eles também “recebem” animais em casa, como lagartixas comuns que sempre são bem-vindas e têm seu espaço respeitado. Durante a entrevista por vídeo chamada, Guilherme apontou para o quintal da casa e disse: “Aqui perto tem uma aranha bem grandona na teia, a gente respeita também”. Para manter segura a convivência dos bichos exóticos com as filhas, o casal procura sempre conscientizá-las do cuidado que precisam ter. “São animais que podem estranhar e machucar”, explica Rachel. “Mesmo que não seja uma questão de agressividade, eles têm um instinto de se defender”.

O “Casal Animal” se conheceu há 10 anos em um trabalho realizado no Zoológico de São Paulo. Até o primeiro beijo deles aconteceu ao lado do zoo, no Jardim Botânico da cidade. Guilherme já tinha publicado o almanaque Girafa tem torcicolo?. Desse namoro nasceram outros quatro livros, todos pela Panda (nada é por acaso, né?) Books. Rachel lançou o Almanaque do Fundo do Mar em 2013 e Guilherme escreveu Criaturas noturnas, O resgate da tartaruga e Mistério na Floresta Amazônica. “A gente se completa muito nos livros”, diz Rachel. “A Rachel consegue lapidar minhas ideias com melhores informações”, elogia Guilherme.

Os livros permitiram que Guilherme desenvolvesse outra paixão: as conversas com os alunos das escolas que adotam suas obras. E são muitas! Para essa atividade, o autor sempre vai acompanhado por alguns dos pets. “Vira uma aula interativa, com um visual bem bacana”, entusiasma-se. Dessas atividades com as crianças nascem muitas ideias para os vídeos que ele publica no Canal Animal TV, atualmente com 500 mil inscritos.

Sobre o Dia dos Namorados, Rachel e Guilherme contam que, de todos os animais de estimação da família, há apenas um casal: os jabutis Hellboy e Catarina. Para quem acha que o namoro dessa espécie é devagar, quase parando, uma surpresa: os jabutis estão entre os bichos mais namoradores da natureza. “Eles são lentos só para andar!”, diverte-se Guilherme.

No Dia dos Namorados, das 17h às 18h, Rachel e Guilherme irão apresentar uma live no Canal Animal TV com curiosidades do amor no reino animal. Não perca! Haverá também uma super promoção com os livros dos dois biólogos.

O protagonismo das crianças na educação

Apenas na década de 1980 a antropologia percebeu a importância de estudar as crianças, e recentemente essa consciência chegou a áreas como psicologia, neurociência, economia e urbanismo.

“Ainda ignoramos o protagonismo das crianças, até porque, esse é um tema muito novo”, explica a pedagoga, antropóloga e pesquisadora Adriana Friedmann, autora do livro A vez e a voz das crianças: escutas poéticas e antropológicas das infâncias, lançamento do selo Panda Educação. Adriana compilou ideias de muitos autores e experiências adquiridas em suas atividades. “É uma síntese de estudos, pesquisas e trocas permanentes com os educadores, mas uma síntese aberta. O que temos para aprender com as crianças é um conhecimento que não acaba”, esclarece.

“A vez e a voz das crianças” é o mais recente lançamento do selo Panda Educação.

O procedimento de pesquisa é diferente do utilizado com adultos, pois as crianças ainda estão em formação e, por isso, muito mais sujeitas a mudanças e influências da mídia, do marketing e das redes sociais. Esses pontos ainda se misturam à cultura local onde a criança vive. “É importante entender que existem diversidades de vidas, porque existem diferentes contextos, então não podemos mais pensar que há um ideal de criança”, afirma Adriana.

A autora sempre trabalhou com a formação de professores e educadores junto a fundações, ONGs, escolas e universidades, além de desenvolver o projeto Mapa da Infância Brasileira, uma plataforma para a divulgação de iniciativas realizadas com crianças em todo o país, buscando inspirar profissionais da educação. No projeto, Adriana e seu grupo realizou escutas das crianças, aumentando o conhecimento e a compreensão das diversas infâncias que existem no Brasil. Uma parte importante do que ela compartilha em A vez e a voz das crianças veio dessa experiência. “Crianças em São Paulo, filhos de imigrantes bolivianos, nos mostraram, por meio de suas brincadeiras, um retrato da vida delas”, exemplifica.

Por que falar sobre imigrantes com as crianças

Histórias, informações e curiosidades. A coleção Meu avô, publicada pela Panda Books, apresenta origens de diferentes grupos que imigraram ao Brasil e retrata a importância de conhecer e cultivar suas culturas. A coleção integra o acervo do espaço “Semear Leitores”, uma iniciativa da Fundação Bunge dentro no Museu da Imigração (MI), em São Paulo. O espaço foi inaugurado em novembro de 2019 e incentiva crianças a lerem sobre o tema.

A coleção “Meu avô” aborda culturas que imigraram de diferentes regiões do mundo para o Brasil.

Estudar as histórias dos imigrantes é importante para as crianças conhecerem melhor a si mesmas e a sociedade em que vivem. “Desenvolve várias camadas de percepção: quem sou eu, quem é a minha família, meu amigo da escola e o que é o país onde estou”, explica Isabela Maia, educadora do MI. Ela acrescenta que esse conhecimento também traz questionamentos sobre quem são as pessoas que imigraram, as que imigram hoje e como a acolhida no meu país se transforma com o tempo.

A cultura é dinâmica. Quando um grupo chega a determinado lugar, ele acrescenta modos de ver o mundo, palavras, comidas e costumes. Segundo Isabela, esse fato faz tradições serem reinterpretadas e tem reflexos nas expressões das crianças, pois elas enxergam o mundo de uma maneira própria. “Quando ensinamos brincadeiras ou palavras novas, elas reinterpretam isso e reinserem na sociedade de formas inesperadas”, explica.

Isabela conta que é possível conhecer a história da própria família conversando com pessoas mais velhas, como os avós. Eles podem revelar nomes, histórias, costumes, datas de nascimento e chegada ao Brasil de antepassados. Dá para montar uma árvore genealógica enquanto se aprende sobre a vida dos familiares.

Fachada do Museu da Imigração, localizado no bairro da Mooca, em São Paulo. Foto: Vanessa Canoso/divulgação.

O MI ocupa o prédio da antiga Hospedaria do Brás, que entre 1887 e 1978 recebeu cerca de 2,5 milhões de pessoas estrangeiras e de outras regiões do Brasil. Além da hospedagem, esse público teve auxílio para encontrar emprego e pôde contar com a estrutura do local, que ia desde lavanderia e correios à assistência médica e odontológica. O Museu surgiu em 1993, e, só no ano passado, foi visitado por cerca de 31 mil crianças. Apesar de estar fechado para visitas, o MI continua em atividade, oferecendo materiais educativos e contações de histórias em suas redes sociais. “O site do museu tem muita coisa – fotografias, mapas, informações sobre os objetos do acervo e os documentos dos imigrantes digitalizados, transformados em bancos de dados”.

Como fica a vida dos jovens no novo normal

Uma pesquisa mundial conduzida pela rede de comunicação britânica BBC ouviu 46 mil pessoas com idades entre 16 e 99 anos. Os resultados, publicados no periódico científico “Personality and Individual Differences”, constataram que os jovens são mais impactados por esse período sem sair de casa do que os mais velhos. “Eles dependem mais da socialização, principalmente os adolescentes no espaço da escola”, explica Jairo Bouer, médico psiquiatra especialista em sexualidade e autor de quatro livros publicados pela Panda Books. Bouer também é coautor de “O Guia dos Curiosos – Sexo”, ao lado do jornalista Marcelo Duarte. A pesquisa mostrou ainda que o sentimento de solidão depende mais da expectativa que os indivíduos têm em relação às conexões sociais do que da quantidade de pessoas com quem se relaciona. Jairo Bouer concedeu a seguinte entrevista ao Panda News.

Panda News – Você acredita que haverá uma mudança muito grande no comportamento sexual dos jovens depois da pandemia?

JAIRO BOUER – É um exercício de futurologia, porque não sabemos exatamente quando ela vai acabar e como será. Tenho a percepção de que não voltaremos para uma situação de normalidade imediatamente. Nos países mais atingidos, ainda não há notícias de aberturas de baladas, festas, cinemas, teatros, shows e eventos esportivos. Encontrar alguém fora dessas situações é mais difícil. Eu acho que, esse ano, ainda existirá uma restrição social, e isso pode impactar o comportamento sexual dos jovens. Ano que vem, se conseguirmos retornar a algo mais próximo da normalidade, devemos ver um comportamento semelhante ao anterior da pandemia. Não acredito que haverá uma ruptura muito grande dos padrões.

Os jovens serão mais seletivos? Ou correr risco faz parte dessa fase da vida?

Correr risco faz parte dessa fase da vida. Há mais de 20 anos recebo contatos de jovens que fizeram coisas mesmo sabendo que não deveriam. Uma vez que a situação retorne ao normal, ou se aproxime disso, os jovens voltarão a correr riscos, mas, nesse momento, acredito que estejam mais seletivos. Quem namora e consegue se encontrar, tudo bem. Os solteiros até podem buscar pessoas em aplicativos, mas é muito mais difícil criar uma situação para encontros pessoais, por viverem muito próximos à família, e por estarem mais preocupados. Do ponto de vista da sexualidade, o indivíduo pode ficar à vontade, desde que use camisinha. Em tempos de coronavírus, teoricamente, não há sexo seguro.

Não há cuidados que possam ser tomados que ainda não eram?

Não tem jeito. Só se transar ao ar livre, usar máscara e tentar manter uma distância entre um metro e meio ou dois. O contato sexual envolve proximidade entre as pessoas e muita troca de fluidos.

Haverá mais choque com os pais, que estão mais atemorizados?

As relações em casa estão muito mais concentradas, todo mundo fica no mesmo espaço quase que o tempo inteiro. Os conflitos se tornam mais visíveis e emergentes. Isso exige um chumbo de estrutura de paciência, de lidar com limites, e impulsividades muito grandes. É uma área de conflitos. Tanto que estão crescendo os casos de violência doméstica e violência contra mulher.

O que a pandemia ensinou aos jovens?

Aprender a lidar com esse “estar em casa” por mais tempo, longe das pessoas que eles gostam e mais tempo próximos à família, tolerando as diferenças dentro de casa, enfrentando angústias, ansiedades e dificuldades causadas pela falta de interações sociais.

Jairo Bouer na Panda Books.

Sucesso da coleção Vaga-Lume, suspense na final do campeonato de futebol ganha nova edição

A primeira edição de “Jogo sujo” foi lançada em 1996 pela prestigiosa Coleção Vaga-Lume, da Editora Ática. O time do Dínamo se classifica para a final do Campeonato Brasileiro, mas seu artilheiro desaparece misteriosamente logo depois da partida. “Onde estará Zuba?”, perguntam torcedores, dirigentes, jornalistas e familiares. O sonho de conquistar a taça vira um pesadelo para os companheiros de equipe. Até que uma jovem repórter descobre uma pista e resolve investigar o caso por conta própria. A trama, escrita pelo jornalista Marcelo Duarte, ganha agora uma edição revista e atualizada pela Panda Books. Vale lembrar que o autor tem muita intimidade com os bastidores do futebol. Dirigiu a revista Placar e apresentou o programa “Loucos por futebol”, da ESPN-Brasil, por 12 anos. Cobriu também quatro Copas do Mundo. Confira o bate-bola que o Panda News fez com ele:

Como foi publicar seu primeiro romance pela coleção Vaga-Lume?
Na quarta série, minha primeira leitura autônoma foi “O caso da borboleta Atíria”, de Lúcia Machado de Almeida, que também escreveu “O escaravelho do diabo”, que li no ano seguinte. Adorei os dois. Mas o autor que me marcaria de verdade foi Marcos Rey. Meu sonho de adolescência era escrever aventuras iguais às dele. Aos 16 anos. li “O mistério do cinco estrelas” e foi amor à primeira vista. Depois vieram na sequência “O rapto do garoto de ouro” e “Um cadáver ouve rádio”. Não parei mais. Lia cada livro pelo menos duas vezes. A primeira para curtir o suspense e a segunda para estudar a trama, os personagens, as pistas. Em 1996, depois de já ter publicado “O guia dos curiosos”, consegui realizar o sonho de publicar meu primeiro livro pela Vaga-Lume (embora, ao mesmo tempo, tenha descoberto que jamais escreveria como meu mestre).

Há alguma mudança entre a história de 1996 e a edição de 2020?
A trama é exatamente a mesma. Só atualizei o cenário. Em 1996, por exemplo, o celular e o computador ainda não faziam parte de nossa realidade. Imagine que os personagens usavam telefones fixos e orelhões para se comunicar. A internet também mudou o jeito de acompanhar o futebol. Teria que colocar notas de rodapé para explicar o que são ficha telefônica, toca-fitas e locadora de vídeo… Por isso, resolvi incluir as “modernidades” na nova edição. “Jogo sujo”, agora publicada pela Panda Books, ganhou também um novo projeto gráfico, e uma nova capa e novas ilustrações, assinadas por Leblu.

O livro fala dos bastidores de um campeonato de futebol. Mas, ao pensar na história, a sua ideia era falar de vôlei?
Sim. Na primeira versão do livro, Zuba, o personagem principal, era um jogador de vôlei. Quando apresentei o original para Carmen Lúcia Campos, então editora assistente da Vaga-Lume, ela disse que seria melhor mudar o esporte, pois havia acabado de sair um livro com a mesma temática, “Vencer ou vencer”, escrito por Raul Drewnick. Segui o conselho dela e Zuba virou um craque de futebol.

O título que você imaginou para o livro era outro?
Era outro, sim. Conto essa história na orelha da nova edição. O título que eu havia escolhido foi “O mistério do camisa 9”, mas, aos 45 minutos do segundo tempo, o editor Fernando Paixão sugeriu “Jogo sujo” e assim ficou.

Por causa do “Jogo sujo”, o personagem Zuba virou um talismã seu?
Exatamente. Peguei o apelido emprestado de um jornalista que trabalhou comigo na redação da revista Placar na década de 1980. “Jogo sujo” me deu tanta sorte que, em todos os seis romances infantojuvenis que vieram depois, eu dou sempre um jeito de citar o Zuba em algum momento da história.