Nos primeiros meses de 2020, o radialista Eduardo Barão e a Panda Books mergulharam juntos em um projeto ambicioso: gravar o audiolivro Eu sou Ricardo Boechat. A editora escolheu esse título para estrear sua parceria com o serviço de streaming Ubook não por acaso: o jornalista biografado tinha uma voz inconfundível, assim como é a de Barão, coautor do livro. Para os fãs, seria especial ouvir na voz do colega de trabalho e amigo de Boechat as divertidas e emocionantes histórias de sua vida.
Apesar de sempre ter trabalhado com a voz, Barão encarou a tarefa como um desafio. “Tinha dúvidas principalmente sobre como interpretar as falas de Boechat”, lembra. Mas uma intercorrência do acaso deu um toque especial à gravação: no meio do trabalho, estourou a pandemia do coronavírus e o estúdio da Ubook teve que fechar as portas. Barão correu para sua segunda casa – a Band News FM – e conseguiu autorização para terminar lá sua missão. “Muitos que me ouviram durante esse processo lembraram de histórias que o próprio Boechat tinha contado no ar”, lembra, com carinho.
Gerente de conteúdo editorial da Ubook, Cris Albuquerque explica que, além das pessoas com deficiência visual, o formato tem sido procurado por quem não quer ficar longe dos livros, mesmo quando não pode segurá-los para ler, como no trânsito e até na hora da faxina. Ela contou ao Panda News como é feito um audiolivro e por que ele é diferente de outras produções em áudio.
Leitura. Na primeira etapa, os produtores leem uma parte do livro para entender quais as características deverão buscar no narrador. “Geralmente só uma pessoa grava o texto todo. Mesmo que tenha muitos personagens, a história traz uma voz central”, explica. Este é o ponto que define se um audiolivro terá sucesso ou não. As buscas são feitas no banco de vozes da empresa – um registro de narradores com suas características. Eles nem sempre encontram alguém nos arquivos, então procuram atores, personalidades, locutores ou outros bancos.
Há os casos em que os próprios autores fazem a narração, como em Eu sou Ricardo Boechat. “Quem escreve traz uma verdade para a leitura e tem mais liberdade.” Quando outra pessoa faz a narração, ninguém mexe em nada do texto. Porém, livros com tabelas ou notas precisam de edição: “A gente trabalha essa parte, envia para a editora e pede autorização. Se for o autor, ele faz o que quiser.”
Teste de voz. Nesta etapa, a pessoa selecionada recebe um trecho do texto para ler. Se for aprovada, a produção compartilha com a editora. “Fora o autor, ninguém conhece melhor um livro do que quem o edita”. Por isso, Cris considera importante só gravar depois deste passo.
Gravação. A entonação de audiolivros tem características próprias: “Não é uma peça de teatro e nem um documentário. O ideal é que a leitura seja natural para transmitir sinceridade”. Cris ainda conta que cada sessão de gravação tem, no máximo, três horas. A voz e o cansaço mental impossibilitam períodos mais longos.
Revisão. Os audiolivros costumam ter entre 6 e 10 horas. “É impossível não ter que regravar”. Alguma palavra pode ficar incompreensível, acontecem problemas de pronúncia com termos estrangeiros. Até se a barriga do narrador roncar durante uma fala, o barulho aparece, e o trecho é refeito. A edição também é revista.
Finalização. Nesta última etapa, o objetivo é a homogeneização do conteúdo. “Por exemplo, o narrador pode se aproximar mais do microfone em uma palavra. Isso muda o volume naquele trecho”, explica Cris, justificando correções realizadas com o uso de software.
Todas as etapas envolvem treinamento de novos profissionais, numa área onde ainda há poucas pessoas especializadas. “Não é só pegar o texto e sair lendo. A edição e a revisão também têm características próprias. Nossa vida é treinar gente. Eu gosto bastante”.
Clique aqui para mais informações sobre o audiolivro Eu sou Ricardo Boechat, de Eduardo Barão e Pablo Fernandez. A coleção Hora do medo também está disponível no site e no aplicativo da Ubook.