Diana Tubenchlak trabalha com arte-educação há 19 anos e acaba de lançar Arte com bebês. O livro traz suas experiências em dois projetos: “No Colo” e “Embalada Arte Educação”, onde Diana realiza ações para professores e educadores, além de atividades para bebês com suas famílias. A partir dessas vivências, ela faz um convite para que professores sejam autores de suas proposições artísticas.
Panda News – Como os projetos surgiram?
Diana Tubenchlak – No final de 2015, recebi um convite para desenvolver um programa de arte com bebês dentro do Instituto Tomie Ohtake. Eles não tinham nada voltado à primeira infância e o Cláudio Rubino, gestor de acessibilidade cultural do Instituto, me convidou para desenvolver um projeto. Ao final, escolhemos o nome “No Colo”. Também faço trabalhos em outros lugares, como unidades do SESC e em instituições fora de São Paulo. Para este circuito, criei a “Embalada Arte com Bebês”.
Como é a relação dos bebês com a arte contemporânea?
A arte contemporânea valoriza o percurso que o artista percorreu para realizar seu trabalho. Muitas vezes, as exposições apresentam a obra com uma documentação sobre ela, um vídeo mostrando a produção ou a própria arte é um processo assumidamente. A educação também tem realizado essa mudança de olhar, saindo do trabalho final para focar no processo da criança. Cada vez mais, escolas e professores pensam no portfólio do aluno e em várias maneiras de registro, como vídeo e sequência de fotografias.
A materialidade também é um ponto em comum. Tradicionalmente, os materiais da arte eram tinta, pincel, argila e cerâmica. Para os contemporâneos, todo material pode ser usado, e a mesma ideia vale para atividades com crianças.
Por que você teve um olhar maior para o neoconcretismo?
Falo sobre a Lygia Clark e o Hélio Oiticica, os neoconcretistas, por dois motivos. O primeiro é como um marco da mudança da relação do espectador com a arte, porque eles trazem o trabalho fisicamente para perto do espectador. O outro ponto é serem artistas-propositores. Eles fazem propostas para que o público tenha um tipo de relação diferente com a obra, para além da contemplação. Em “Bichos”, da Lygia Clark, por exemplo, o público era convidado para mudar a forma do objeto. Nos “Parangolés”, Hélio Oiticica fez capas para dançar. Coloco essa perspectiva de um marco da arte contemporânea brasileira.
Além disso, alguns autores da arte-educação fazem uma analogia entre artista-propositor e professor-propositor. Como meus interlocutores são os professores da primeira infância, trago a ideia como um convite. Trata-se de propor que o bebê passe por uma experiência artística.
Quais transformações você já pôde ver nas pessoas que fazem os cursos?
Quando chega um bebê numa família, muitas vezes, as pessoas se veem com poucas possibilidades de lugares para ir. Tem questões como o medo de o bebê chorar e atrapalhar outras pessoas. Infelizmente, ainda existe isso na nossa sociedade. Qual lugar destinamos para a infância? Aconteceu uma história muito bacana no Instituto Tomie Ohtake: uma pessoa participou do No Colo e se sentiu bem à vontade. Ela pôde se sentar no chão, amamentar e teve trocador perto da ação. Na semana seguinte, essa participante se inscreveu em um curso para adultos de lá. A produção ficou sabendo e deixou a área preparada para receber a mãe e a bebê. Foi muito legal que a participação em uma ação específica a fez ocupar esse espaço, se sentir pertencente a ele.