Eduardo Monsanto, o rubro-negro que escreve sobre conquistas históricas do Flamengo

O jornalista carioca Eduardo Monsanto, mais conhecido como Dudu Monsanto, passou o dia 23 de novembro de 2019 driblando a ansiedade. Era a final da Copa Libertadores. O Flamengo, seu time do coração, perdia por 1 X 0 para os argentinos do River Plate. “Quando chegou aos 40 do segundo tempo, comecei a me conformar com a ideia de que, talvez, o título não viesse”, lembra. Três minutos depois, tudo mudou: Gabigol marcou para a equipe carioca. “Sou muito contido emocionalmente, mas me peguei gritando na varanda do apartamento. Nunca tinha feito isso em 15 anos morando em São Paulo”. Aos 46 minutos, Gabriel fez outro gol. Dudu chorou, e o Flamengo levou o título pela segunda vez. Tudo foi tão intenso, que o jornalista dormiu pesado, já no início da noite. De repente, acordou em plena madrugada e sacudiu a esposa:

— Aconteceu mesmo?
— Sim, é verdade!

“Então, dormi feliz”, relembra e cai na risada. Ele acaba de lançar A virada – Milagre em Lima, sobre essa conquista histórica do Flamengo. O livro também aborda os garotos do Ninho do Urubu, tragédia que ocorreu pouco antes do início do campeonato. Monsanto ainda é autor de 1981 – O ano rubro-negro, onde fala da primeira vez em que o time foi campeão da América, liderado por Zico.

Panda News: Foi mais fácil escrever o 1981 – O ano rubro-negro, ou agora o A virada?

Dudu Monsanto: Para o 1981, eu sabia que teria a efeméride dos 30 anos do mundial e me programei para fazer com cerca de três anos de antecedência. A virada não era para ser um livro, mas um capítulo que atualizaria o 1981 com as conquistas do ano passado. Eu tinha 16 páginas para isso. Fui escrever e pensei que não poderia falar só de 2019, porque a vitória começa com a reestruturação em 2013. Também não tinha como deixar passar a história dos garotos do Ninho. As 16 páginas viraram 120.

Quantas entrevistas você fez para o livro?

No primeiro livro, conversei com todos os titulares, o treinador, alguns reservas, os dirigentes e até torcedores. Eu tinha que fazer isso de novo, mas o prazo era de 40 dias. Por sorte, liguei para uma amiga, a produtora Ana Paula Garcez, para conseguir o telefone de um atleta. Expliquei que estava fazendo o livro, ela tinha tempo naquele momento, e se propôs a me ajudar. Foi o meu Gabigol. A Ana chegou aos 43 do segundo tempo, construiu essa virada junto comigo, e entrevistamos praticamente todo mundo. O único que não conseguimos foi o próprio Gabriel. Mas não deixamos de registrar as impressões dele. Colhemos depoimentos que o jogador deu para documentários feitos sobre a conquista e colocamos os créditos das fontes.

Por que incluir o drama da morte dos garotos do Ninho do Urubu?

Eu tentei contar, de uma maneira bem humana, quem era cada um deles. Junto com a queda do avião da Chapecoense, para mim, essa é a maior tragédia do futebol brasileiro. Foram dez meninos entre 14 e 16 anos, com muita coisa para viver, todos eram a esperança e o orgulho das famílias, e morreram por negligência. Eles estavam até que bem instalados, mas houve uma falha muito grave. Nós não podemos virar as costas. O livro traz fotos dos jogadores em visitas a sobreviventes – isso mexeu com todo mundo. Mas a postura do clube foi muito ruim, faltou humanidade no trato. Eu não seria honesto se deixasse de contar o que aconteceu. Cada um dos meninos ganhou uma página, e o livro é dedicado a eles. Não se pode esquecer o que aconteceu, porque nesses casos falta justiça – descobrir quem foi o culpado, os motivos que levaram à tragédia, criar mecanismos para que isso não se repita, normas de segurança para quem vai receber essas crianças na base.

Sobre a Libertadores, você estava em Lima no jogo da decisão?

Não. Quando a final mudou para Lima, eu cheguei a fazer contas para saber quanto custava a viagem. Tenho um filho de 5 anos, e dava seis meses de mensalidades da escola dele. A escola do meu filho marcou a apresentação de fim de ano para aquele mesmo dia. Ele não gosta de muito barulho, é mais quieto, a apresentação era com uma música do Carrapicho e tinha coreografia. Fui pensando que não aconteceria muita coisa. Chegou na hora, ele parecia profissional, dançou, fez a coreografia inteira, eu me emocionei e chorei junto com a minha esposa. Quando acabou, eu sabia que, independentemente do que acontecesse em Lima, o meu dia estava ganho. Mas ainda teve a surpresa de o jogo ser como foi.

Você tinha quantos anos na conquista de 1981?

O 1981 é um ajuste meu por não ter visto aquele time jogar, pois eu tinha 2 anos. Acabou que A virada, apesar de não planejado, faz as pazes com esse outro momento. Como eu conversei com todo mundo, vi cada uma das partidas, desde o começo da Libertadores, para poder contar, é como se eu tivesse ido a Lima. Acho que eu vi e ouvi mais do que quem estava lá.

Qual foi o sentimento de receber um vídeo do Zico na live de lançamento?

Ele é a razão de eu ser Flamengo! Cresci no auge do Zico. É um cara que norteia muito o meu caminho até o jornalismo esportivo. O primeiro livro me colocou em uma encruzilhada. Eu tive chances de entrevistá-lo antes, mas sempre corri. Ficava pensando que, se ele não fosse uma pessoa boa, a minha vida desmoronaria. Quando escrevi o 1981, fiz duas entrevistas grandes com ele, cada uma com cerca de duas horas. E o Zico é muito mais legal do que eu poderia imaginar, mais craque fora do que em campo. Quando recebi o vídeo, vi que ele, lá do Japão, perdeu um tempo para mandar uma mensagem de carinho e fazer toda a nação rubro-negra olhar para o lançamento. Foi um prêmio tão grande quanto são o texto da orelha escrito pelo Lúcio de Castro e a contracapa do Mauro Cézar Pereira.

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