O que você vê quando olha no espelho?

Padrões de beleza, anorexia, bulimia e cyberbullying: Shirley Souza narra os conflitos de três adolescentes em busca da autoaceitação

 

 

“O que você vê quando olha no espelho?”, pergunta a escritora paulista Shirley Souza em “Espelhos”, ficção juvenil lançada pela Panda Books. Para construir a história de três adolescentes, que lidam com os conflitos relacionados aos padrões de beleza impostos pela sociedade, foi preciso olhar para a vida real: “Esse constante conflito com a nossa imagem é algo que faz parte da realidade humana, bem como nossas inseguranças, sejamos adolescentes ou adultos. São questões atemporais e universais, que fazem parte da nossa construção”.

 

O tema é atemporal, mas a história em si é protagonizada por jovens na era das redes sociais. Isso exigiu de Shirley um trabalho de investigação para construir as personalidades, os conflitos e as reações de Felipe, Mara e Aline. “Olhei ao meu redor, ouvi adolescentes e pesquisei muito”, conta. “Foi um trabalho de imersão, de aproximação com a realidade de adolescentes que enfrentam a bulimia, a anorexia e este conflito com a autoimagem”.

 

Na história, Felipe é um estudante que, cansado de ser chamado de “gordo”, adere à febre das academias. Só que ele passa a exagerar na dose, a ponto de colocar a saúde em risco; Mara, antes despreocupada quanto aos padrões estéticos, passa a enxergar o tema com outros olhos ao se apaixonar pela primeira vez; e Aline perdeu o senso crítico e agora segue um número enorme de dietas malucas que encontra na internet.

 

Internet que, aliás, é de muitas formas uma protagonista de “Espelhos”: “A internet permite moldar a nossa imagem a ponto de construirmos algo que beira o irreal”, observa Shirley. “De que modo? Decidindo o que mostrar ou não ao mundo, distanciando nosso perfil de quem de fato somos. A maior exposição a que as pessoas se sujeitam gera novas nuances para nossas dores, inseguranças e ansiedades. Os sentimentos vividos hoje possuem a mesma essência de décadas atrás, mas a maneira como são experimentados mudou. Por exemplo: o cyberbullying é uma realidade que pode acompanhar um adolescente que se expõe na rede. Suas imagens, uma vez postadas, podem ser compartilhadas e utilizadas de maneira inadequada. Lidar com essa realidade é um desafio”, diz a autora.

 

Apesar do assédio virtual do cyberbullying e da construção de padrões inalcançáveis de beleza, a internet não é exatamente uma vilã na visão de Shirley. “Ela tem trazido a valorização da diversidade”, afirma. “É mais difícil valorizar um único padrão de beleza em um universo onde todos podem produzir conteúdos e dizer o que pensam. Ainda assim temos padrões arraigados em nossa cultura e isso não é fácil de desconstruir. É um processo longo e não sei se finito”. Ao longo da adolescência, quando se mudou para São Paulo, Shirley também passou por um processo de autodescoberta a respeito de quem era e de quem gostaria de ser: “Cada pessoa é diferente e a beleza da humanidade está justamente nessas diferenças”.

 

Mais do que narrar os sentimentos dos três protagonistas, o livro mostra as reações nem sempre amenas que as outras pessoas têm quando se deparam com os dramas de terceiros. Na verdade, mesmo que os três protagonistas tenham as suas questões, o conflito do outro parece sempre mais simples de entender e de resolver. Novamente falamos, então, da forma como a internet modifica as formas de interação: “Temos caminhos, regras de boas práticas, mas mesmo os adultos quebram estas regras com frequência”, acredita Shirley. “É uma nova modalidade de convívio social e, como tal, as nuances são muitas e o aprendizado só vem com a experiência”.

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