Todos os dias, cerca de 600 mil pessoas fazem aniversário no Brasil. Por isso, há anos, “Parabéns a Você” lidera o nosso ranking das músicas mais cantadas. A melodia foi criada pelas irmãs americanas Mildred e Patricia Smith Hill, que davam aula numa escola primária em Louisville, em 1875. Turistas americanos trouxeram a canção para o Brasil no final dos anos 1930. Mas havia um radialista, defensor da música brasileira, que não se conformava em ouvir as famílias cantando em inglês. Em outubro de 1941, ele lançou um concurso para a escolha de uma letra em português para aquela música. O concurso teve 5.000 participantes e a ganhadora foi uma dona-de-casa de 40 anos, moradora de Pindamonhangaba-SP: Bertha Celeste Homem de Mello. O jornalista e escritor Marcelo Duarte está lançando “Parabéns a Você”, uma obra juvenil que conta a história de Bertha dentro de uma trama ficcional cheia de suspense. A capa e as ilustrações são de Evandro Marenda. Nessa entrevista ao Panda News, Marcelo conta como foi o trabalho de pesquisa e de escrita.
Parabéns a você… pelo livro!
[risos] Muito obrigado! Costumamos desejar muitos anos de vida, né? E esse livro demorou dez anos para ficar pronto!
Dez anos? Como assim?
Tive a ideia de escrever a biografia do “Parabéns a Você” e de sua criadora, Bertha Celeste Homem de Mello, em 2011. Fiquei encantado com a história da música americana, do concurso de rádio que elegeu a versão brasileira, o fato de ser há anos a canção mais executada no país. Inicialmente, meu plano era lançar o livro nas comemorações dos 70 anos da letra em português do “Parabéns a Você”, em 2012. Fiz uma primeira pesquisa para saber tudo o que já tinha sido publicado sobre ela – e não era tanta coisa assim. As reportagens meio que se repetiam. Até que consegui o contato da única neta de Bertha, Eliana Homem de Mello Prado, e marquei uma entrevista. Conversei por duas horas com Eliana e percebi que a vida de Dona Bertha tinha sido bastante simples, o próprio concurso não foi assim um grande acontecimento na época. Saí com a sensação de que a história poderia não render um livro. Mesmo assim, fiz um esboço do livro e acabei desistindo.
O que fez você retomar o projeto?
Na verdade, ela nunca saiu da minha cabeça. No começo da pandemia, eu comentei comigo mesmo que a música iria completar 80 anos no começo de 2022. Então reli todo o material que eu tinha pesquisado. Era uma época em que eu estava com uma agenda cheia de lives com escolas. Conversando com as crianças, certa manhã, tive um estalo. Por que não escrever uma história ficcional em que eu contasse a história verdadeira de dona Bertha? Pensei numa história de suspense policial, que combinaria bem com os anos 1940. E, no final das contas, só sei que foi uma delícia escrever.
A história se passa nos anos 1940 em Pindamonhangaba, onde Bertha Celeste morava. Você foi visitar a cidade?
Sim, claro. Viajei até Pinda, que fica a 150 quilômetros de São Paulo, principalmente para fazer uma pesquisa nas edições do jornal “Tribuna do Norte” entre 1941 e 1943. Foi uma viagem no tempo. Mas não encontrei uma única linha sobre o concurso e sobre a vitória de uma cidadã pindamonhangabense. Não é fácil falar esse gentílico… Parece que vai travar a língua [risos]. O que eu consegui foi pegar nomes de estabelecimentos, de pessoas e de ruas da cidade da época. Coloquei até os filmes que o cinema da cidade estava exibindo naquele momento…
O que você fez com aquele material de dez anos atrás?
Toda a pesquisa de 2011 entrou no livro também. Está num capítulo especial, depois que termina a parte ficcional. Assim o livro cumpre totalmente a sua função. Diverte e informa. A principal descoberta é que todas as reportagens que eu tinha lido sobre o concurso diziam que ele tinha sido promovido pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Na verdade, o radialista Henrique Foréis Domingues, conhecido como “Almirante”, lançou o concurso no programa “Orquestra de Gaitas da Rádio Nacional”, em outubro de 1941. A ganhadora foi anunciada no dia 6 de fevereiro de 1942. Almirante só se transferiu para a Rádio Tupi um mês depois.