Renato Santos

Por que falar sobre racismo em sala de aula

Renato Santos dá aulas de literatura para o ensino médio. Quando protestos pelos direitos dos negros começaram a ganhar força este ano, ele publicou um vídeo em seu perfil do Instagram com reflexões sobre a situação. Isto chamou a atenção da dona de uma das escolas onde trabalha, uma mulher branca:

— Não acho que acontece o que você fala. Não olho para uma pessoa vendo a cor da pele dela, isso é tão surreal!
— Pois é, mas existe. Você é dona de uma rede com três escolas, e quantos professores pretos tem?
— Mas a culpa não é minha, não me importo em contratar brancos ou negros.
— Eu perguntei outra coisa: quantos professores pretos você tem?
— Nas três unidades, quatro ou cinco.

E você? Quantos professores pretos teve durante a sua vida?

Ale Santos
Ale Santos, autor de “Rastros de resistência – histórias de luta e liberdade do povo negro”.

Autor de “Rastros de resistência: Histórias de luta e liberdade do povo negro”, Ale Santos afirma que é importante discutir as manifestações nas aulas porque o racismo prospera onde existe o silêncio. “Se a escola, que é um ponto de contato muito forte da criança com a sociedade, não discute isso, ela acaba favorecendo padrões coloniais que não foram combatidos”, explica. Ele lembra que a constituição de 1934 instaurava a educação eugênica no Brasil, o que só começou a ser confrontado em 2011 com a inserção do estudo de cultura africana e indígena nas escolas.

Rastros de resistência – histórias de luta e liberdade do povo negro
“Rastros de resistência – histórias de luta e liberdade do povo negro” resgata histórias apagadas pela colonização.

Quatro obras da Panda Books debatem a cultura africana e as condições de vida dos escravos e da população negra no Brasil atualmente. Com ilustrações de Cristiano Siqueira, o livro de Ale Santos resgata histórias reais que foram apagadas a partir do período de colonialismo. Ele nos apresenta reis, rainhas, guerreiros e amazonas que lutaram em seus territórios, como o líder quilombola Benedito Meia-Légua, a princesa guerreira Zacimba Gaba, que invadia navios negreiros, o poderoso Império Axânti, e também as atrocidades cometidas contra os povos da África e a perpetuação dos discursos de racismo.

Meu avô africano
“Meu avô africano” aborda a riqueza da cultura dos povos da África.

Em “Meu avô africano”, Vítor Iori aprende com o avô Zinho a história de seus antepassados, como era a vida no período da escravidão e a importância de preservar as raízes de seu povo. Ele recebe ajuda do avô e da tia para apresentar um trabalho na escola que se torna uma verdadeira aula sobre a riqueza da cultura africana. O texto é de Carmen Lucia Campos e as ilustrações de, Laurent Cardon.

O navio negreiro
Slim Rimografia abordou com um olhar atual e musicou o clássico poema de Castro Alves em “O navio negreiro”.

No século XIX, “O navio negreiro”, poema de Castro Alves, marcou a história da literatura brasileira por se tornar um ícone da denúncia das injustiças contra os negros. O rapper Slim Rimografia fez uma versão musicada e atual do poema que é apresentada com grafites do Grupo Opni no livro homônimo.

O filho do caçador e outras histórias-dilema da África
Com contos tradicionais da cultura africana, “O filho do caçador e outras histórias-dilema da África” traz reflexões ao final de cada texto.

Uma das tradições da cultura africana são as histórias-dilema. Elas propõem uma pergunta que pode ter várias respostas baseadas em diferentes pontos de vista. Por exemplo: certo dia, a linda filha do chefe de um povoado desapareceu. Como recompensa, quem a encontrasse ganharia sua mão em casamento. No entanto, cinco homens, cada um com sua habilidade, ajudam no resgate da moça. Com qual deles ela deveria se casar? Andi Rubinstein e Madalena Monteiro reuniram 15 desses contos em “O filho do caçador e outras histórias-dilema da África”. O livro tem ilustrações de Andrea Ebert.

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