Clássicos da literatura nos cursinhos

Livros clássicos costumam ser um desafio para todos os tipos de leitores, e, nos cursinhos preparatórios para o vestibular, isso não é diferente. “A gente tem pouquíssimo tempo para trabalhar muita coisa”, explica Carolina Prospero, professora de literatura do cursinho da FEA-USP.

A professora Carolina conhece muito bem os desafios de se trabalhar com os clássicos da literatura em cursinho.

Alunos e professores concordam que a linguagem é o maior desafio. Dagoberto Domingos Teodoro, também professor do cursinho da FEA, explica que os alunos costumam achar que a dificuldade acontece só por estarem no século XXI, mas parte disso vem desde quando as obras foram publicadas. “A norma culta da língua é uma variante que o povo não usa no dia a dia”, explica. O distanciamento histórico causa confusão quando aparecem objetos ou expressões que caíram em desuso. “Um aluno me perguntou o que era telegrama”, conta Dagoberto. O serviço é disponibilizado pelos Correios até hoje.

O humor é uma das estratégias do professor Dagoberto para ensinar seus alunos.

Quando Iracema era leitura obrigatória na Fuvest, Carolina conheceu a edição da Panda Books numa visita à livraria. “Falei dela em sala de aula, uma das alunas tinha e mostrou para os outros. Os que usaram a edição da Panda adoraram.” Os livros contam com ilustrações e notas nas laterais das páginas para facilitar a compreensão dos jovens leitores. Fátima Mesquita, autora dos textos informativos, brinca que adora descascar abacaxis. “Todos os livros que eu faço são assim, eu tento entender as coisas para explicar de um jeito mais simples”, conta. Para a coleção de clássicos, ela revela que faz pesquisas na internet, em quatro dicionários diferentes e ainda procura saber se em outras épocas houve um significado diferente para as palavras.

Aluno de escola pública, Matheus descobriu um mundo novo com a literatura no cursinho.

“Passei a conhecer o contexto em que a obra foi escrita”, explica Matheus Manoel Domingues Pedroso, aluno de Carolina e leitor dos clássicos da Panda Books. Ele conta que pesquisa as características da sociedade da época, a vida do autor, e, se possível, gosta de ter contato com entrevistas dadas por ele. Matheus ainda fez um amigo no cursinho para quem liga todos os dias: “Discutimos as matérias e como encaixar passagens das obras na redação. Gostamos muito do Machado de Assis, e dá para colocar os livros dele em qualquer texto do vestibular.”

Sofia conheceu a paixão por leitura em casa, com os pais, mas também luta contra a defasagem do ensino público.

Para Sofia Oliveira de Lucia, também aluna do cursinho da FEA-USP, existe um desafio maior: a defasagem do ensino médio. “Não acho que seja só a dificuldade dos livros. O problema, na verdade, vem de mim e de outros alunos que estudamos em escolas públicas.” Matheus afirma que sequer ouviu falar de Machado na escola. “Conheci no cursinho da FEA, eles foram anjos na minha vida”, completa.

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