“Parabéns a Você” completa 80 anos e ganha um grande mistério de presente

Todos os dias, cerca de 600 mil pessoas fazem aniversário no Brasil. Por isso, há anos, “Parabéns a Você” lidera o nosso ranking das músicas mais cantadas. A melodia foi criada pelas irmãs americanas Mildred e Patricia Smith Hill, que davam aula numa escola primária em Louisville, em 1875. Turistas americanos trouxeram a canção para o Brasil no final dos anos 1930. Mas havia um radialista, defensor da música brasileira, que não se conformava em ouvir as famílias cantando em inglês. Em outubro de 1941, ele lançou um concurso para a escolha de uma letra em português para aquela música. O concurso teve 5.000 participantes e a ganhadora foi uma dona-de-casa de 40 anos, moradora de Pindamonhangaba-SP: Bertha Celeste Homem de Mello. O jornalista e escritor Marcelo Duarte está lançando “Parabéns a Você”, uma obra juvenil que conta a história de Bertha dentro de uma trama ficcional cheia de suspense. A capa e as ilustrações são de Evandro Marenda. Nessa entrevista ao Panda News, Marcelo conta como foi o trabalho de pesquisa e de escrita.

Parabéns a você… pelo livro!
[risos] Muito obrigado! Costumamos desejar muitos anos de vida, né? E esse livro demorou dez anos para ficar pronto!

Dez anos? Como assim?
Tive a ideia de escrever a biografia do “Parabéns a Você” e de sua criadora, Bertha Celeste Homem de Mello, em 2011. Fiquei encantado com a história da música americana, do concurso de rádio que elegeu a versão brasileira, o fato de ser há anos a canção mais executada no país. Inicialmente, meu plano era lançar o livro nas comemorações dos 70 anos da letra em português do “Parabéns a Você”, em 2012. Fiz uma primeira pesquisa para saber tudo o que já tinha sido publicado sobre ela – e não era tanta coisa assim. As reportagens meio que se repetiam. Até que consegui o contato da única neta de Bertha, Eliana Homem de Mello Prado, e marquei uma entrevista. Conversei por duas horas com Eliana e percebi que a vida de Dona Bertha tinha sido bastante simples, o próprio concurso não foi assim um grande acontecimento na época. Saí com a sensação de que a história poderia não render um livro. Mesmo assim, fiz um esboço do livro e acabei desistindo.

Marcelo Duarte, autor do livro “Parabéns a você”

O que fez você retomar o projeto?
Na verdade, ela nunca saiu da minha cabeça. No começo da pandemia, eu comentei comigo mesmo que a música iria completar 80 anos no começo de 2022. Então reli todo o material que eu tinha pesquisado. Era uma época em que eu estava com uma agenda cheia de lives com escolas. Conversando com as crianças, certa manhã, tive um estalo. Por que não escrever uma história ficcional em que eu contasse a história verdadeira de dona Bertha? Pensei numa história de suspense policial, que combinaria bem com os anos 1940. E, no final das contas, só sei que foi uma delícia escrever.

A história se passa nos anos 1940 em Pindamonhangaba, onde Bertha Celeste morava. Você foi visitar a cidade?
Sim, claro. Viajei até Pinda, que fica a 150 quilômetros de São Paulo, principalmente para fazer uma pesquisa nas edições do jornal “Tribuna do Norte” entre 1941 e 1943. Foi uma viagem no tempo. Mas não encontrei uma única linha sobre o concurso e sobre a vitória de uma cidadã pindamonhangabense. Não é fácil falar esse gentílico… Parece que vai travar a língua [risos]. O que eu consegui foi pegar nomes de estabelecimentos, de pessoas e de ruas da cidade da época. Coloquei até os filmes que o cinema da cidade estava exibindo naquele momento…

O que você fez com aquele material de dez anos atrás?
Toda a pesquisa de 2011 entrou no livro também. Está num capítulo especial, depois que termina a parte ficcional. Assim o livro cumpre totalmente a sua função. Diverte e informa. A principal descoberta é que todas as reportagens que eu tinha lido sobre o concurso diziam que ele tinha sido promovido pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Na verdade, o radialista Henrique Foréis Domingues, conhecido como “Almirante”, lançou o concurso no programa “Orquestra de Gaitas da Rádio Nacional”, em outubro de 1941. A ganhadora foi anunciada no dia 6 de fevereiro de 1942. Almirante só se transferiu para a Rádio Tupi um mês depois.

Andrew Jennings: a morte do inimigo número 1 da FIFA

O jornalista escocês Andrew Jennings, o inimigo número 1 da FIFA e de cartolas como João Havelange, Joseph Blatter e Ricardo Teixeira, morreu no dia 8 de janeiro, aos 78 anos. Jennings já havia investigado a máfia italiana, o Comitê Olímpico Internacional e até a corrupção dentro da Scotland Yard. Mas comprou a maior de suas brigas, contra a FIFA, em 1999. Revelou como as eleições internas são manipuladas, como funciona a compra de direitos de transmissão e até as negociatas para a escola do país-sede de uma Copa do Mundo. Jennings foi o primeiro jornalista da história a ser banido de todas as instalações, de todos os eventos e de todas as entrevistas coletivas da entidade sediada em Zurique, na Suíça. Seus dois principais livros – “Jogo Sujo” e “Um Jogo Cada Vez Mais Sujo” – foram publicados pela Panda Books. O diretor editorial Marcelo Duarte deu um depoimento sobre os tensos bastidores para publicação das duas obras:

“Na cobertura da Copa da África do Sul, em 2010, eu descobri numa livraria de Joanesburgo o livro ‘Foul!’, do repórter investigativo escocês Andrew Jennings. A orelha dizia que o livro tinha sido traduzido para 12 línguas e foi transformado em documentário pela BBC. ‘Foul!’ acabou sendo a minha leitura no voo de volta. Devorei o livro e, ao chegar em casa, escrevi para o próprio Jennings. Negociei com ele os direitos para a publicação da obra em português. O livro foi lançado no Brasil com o nome de ‘Jogo Sujo – O mundo secreto da FIFA: Compra de votos e escândalo de ingressos’. As denúncias foram o estopim para a maior investigação do submundo do futebol, que acabou com a prisão de vários dirigentes. Jennings esteve no Brasil para um seminário sobre jornalismo investigativo e tive o privilégio de conhecê-lo. ‘Jogo Sujo’ serviu de inspiração para muitos outros livros investigativos de futebol que vieram logo depois.

No final de 2013, Jennings me escreveu para avisar que estava trabalhando em um novo livro, uma espécie de continuação do primeiro , mas com bastidores de corrupção envolvendo também a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Queria que o livro fosse publicado primeiro aqui e só depois no resto do mundo. Para conseguirmos lançar a obra antes da Copa, ele teve que ir mandando os capítulos aos poucos, à medida que ia terminando. A Panda Books agendou o lançamento de ‘Um jogo cada vez mais sujo – O padrão FIFA de fazer negócios e manter tudo em silêncio’ para 5 de maio. No dia 22 de abril, eu enviei o capítulo 7 (‘Você quer comprar ingressos para a Copa do Mundo?’), que detalhava a ação da máfia de desvio e revenda de ingressos, para o jornalista Juca Kfouri, blogueiro do UOL, como estratégia de divulgação. No dia seguinte, começamos a receber pesadas ameaças de dois escritórios internacionais de advocacia que representavam a FIFA e o Comitê Organizador. Mas resolvemos confiar e bancar a apuração de Andrew. A Panda Books colocou o livro no mercado com o coração na mão.

Uma semana antes da final da Copa, Raymond Whelan, CEO da Match, empresa que tinha exclusividade para venda de camarotes e pacotes corporativos em eventos da Fifa, foi detido em operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro. As denúncias do livro ‘Um jogo cada vez mais sujo’ estavam ali todas confirmadas. Mais um golaço de Jennings.”

Jennings irá fazer muita falta a quem torce pelo lado limpo do futebol. Morreu no sábado, dia 8 de janeiro, aos 78 anos.

10 curiosidades sobre “Oliver Twist”, o novo clássico da Panda Books

Romance escrito na primeira metade do século XIX ganhará nova tradução no Brasil

Quando a mais nova tradução do romance “Oliver Twist”, escrito pelo britânico Charles Dickens, for lançado no Brasil no final de janeiro, a obra estará perto de completar 185 anos de vida. O livro, cuja primeira parte foi concluída em 1837, será o segundo da série “Clássicos Internacionais”. da Panda Books, inaugurada este ano com “O retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde.

Confira 10 curiosidades sobre “Oliver Twist”:

1. Charles Dickens tinha apenas 25 anos quando começou a publicar o livro em forma de folhetim na revista “Bentley’s Miscellany”. Os 53 capítulos, em geral, eram publicados de dois em dois: os dois primeiros foram lançados em fevereiro de 1837 e os dois últimos em abril de 1839.

2. “Oliver Twist” foi publicado pela primeira vez no Brasil em 1870, também em forma de folhetim no “Jornal da Tarde”, do Rio de Janeiro. Documentos da época indicam que uma parte dos textos foi traduzida por Machado de Assis, que colaborava para o periódico à época.

3. A obra já foi adaptada 18 vezes para o cinema. Na primeira delas, em 1909, o cinema ainda era mudo. “Oliver!”, um filme britânico de 1968, faturou o Oscar de melhor fotografia; neste século XXI, foram duas adaptações: uma em 2005, sob a batuta do diretor Roman Polanski; e a mais recente em 2021, produzida pelo canal SKY Cinema, do Reino Unido, e ambientada nos dias de hoje.

4. Além das versões cinematográficas, “Oliver Twist” se transformou em programas de TV em sete oportunidades – no Reino Unido, na Austrália, na França e nos Estados Unidos; a primeira versão foi da BBC, como um seriado de 13 capítulos, em 1962; a mais longa foi uma adaptação franco-americana em forma de desenho animado com 52 capítulos, que foi ao ar entre 1996 e 1997. A obra ganhou também um musical, que já foi traduzido para cerca de 20 idiomas.

5. A personagem Fagin fez com que a obra fosse acusada, desde a sua publicação, de antissemitismo por causa da construção estereotipada do homem judeu; no livro “Antissemitismo: uma enciclopédia histórica de preconceito e perseguição”, lançado em 2005 pela inglesa Nadia Valman, a obra é criticada por associar Fagin – muitas vezes classificado apenas como “o Judeu” – ao
Diabo.

6. O ano em que “Oliver Twist” começou a ser publicado, 1837, também foi o ano que marcou a ascensão ao trono da Rainha Vitória no Reino Unido; a Era Vitoriana, que terminaria apenas em 1901, foi marcada, dentre outras coisas, por escancarar a desigualdade entre as classes sociais. As críticas à sociedade britânica foram uma grande marca do livro e ajudaram o texto de Dickens a se aproximar dos leitores.

7. Logo nos primeiros capítulos, quando apresenta a personagem que dá título à obra, Dickens aborda um dos principais problemas do Reino Unido no início do século XX: o trabalho infantil. No livro, Oliver Twist começa a trabalhar aos 12 anos em uma fábrica que produzia graxa para sapatos. Documentos da época registram crianças de até 4 anos de idade trabalhando em fábricas, além de inúmeros casos de acidentes de trabalho, alergias e doenças relacionadas às atividades precoces. O subtítulo original – A Parish Boy’s Progress – também faz menção a esta questão: “parish boy”, algo como “garoto da freguesia”, era como se chamavam os meninos que trabalhavam nas fábricas.

8. “Oliver Twist” traz algumas referências da vida do autor: além de ter ele próprio trabalhado na infância, Dickens também sofria de epilepsia, mal que afeta a personagem Monks. Já a criminosa Nancy guarda muitas semelhanças com Eliza Greenwood, uma assassina que marcou a cultura popular britânica no século XIX.

9. Charles Dickens morreu em 1870, aos 58 anos, deixando um pedido: ele jamais gostaria de ser transformado em estátua. Não foi atendido: já em 1891 foi erguida a primeira estátua na Filadélfia, nos Estados Unidos; em 2013 veio outra, em Portsmouth, sua cidade natal, na Inglaterra.

10. A residência onde o autor morava, em Londres, quando lançou Oliver Twist, hoje abriga o Museu Charles Dickens. O local reúne retratos, manuscritos, itens pessoais e até a escrivaninha onde o livro foi escrito. A casa também tem uma programação de espetáculos teatrais que, em geral, fazem referência à vida e à obra do homenageado.

Aprendizagens Visíveis: uma nova forma de pensar a educação

Livro reúne artigos de 17 autores para compartilhar práticas inovadoras que colocam o aprendizado no centro do planejamento pedagógico

 

De que forma um estudante aprende mais em sala de aula? Essa pergunta parece difícil de ser respondida, mas depois de algumas décadas de pesquisas um grupo de educadores chegou a uma conclusão: o aprendizado é mais eficiente quando professores, diretores e alunos entendem cada etapa do processo.

Planejar, anotar, escrever, tornar explícito para o estudante de que forma ele vai aprender, criar mecanismos para que ele perceba o próprio aprendizado e, por fim, criar estratégias de avaliação que sejam capazes de detectar com clareza a evolução de cada um são alguns dos princípios da “aprendizagem visível”, uma expressão criada há pouco mais de uma década pelo neozelandês John Hattie, mas que resume um século de reflexões sobre a necessidade de otimizar o processo de ensino.

Depois de mais de duas décadas pesquisando o tema, pensando a educação e formando professores, a consultora pedagógica Julia Pinheiro Andrade resolveu organizar uma coletânea de práticas e reflexões inovadoras baseadas nesta ideia: “Aprendizagens visíveis: Experiências teórico-práticas em sala de aula” foi lançado pela Panda Books e reúne artigos de 17 autores – Julia e mais 16 convidados.

Os textos têm total autonomia entre si. A introdução condensou a base teórica comum e então é possível ler autonomamente cada capítulo sem prejuízo na compreensão”, explica Julia.

Se ainda parece um pouco difícil enxergar de que inovações estamos falando, a autora dá algumas pistas: “Discutimos princípios de planejamento e formação continuada de professores evidenciando mudanças de concepção. Mostramos também algumas práticas “mão na massa” [quando o aluno produz algo com as próprias mãos], que são documentadas para que haja reflexão sobre o que foi produzido. Temos o “thinking design” para pensar como a gente articula essas estratégias de visibilidade do aprendizado, temos capítulos sobre estratégia de avaliação e temos capítulos sobre estratégias de compreensão pra entender como a gente pode alinhar ensino, currículo e avaliação dentro essa ideia de desenvolver a compreensão e não a memorização mecânica e ainda fazer isso de maneira visível para todos”, enumera.

Nessa entrevista, ela explica o que é a aprendizagem visível e traz detalhes sobre o processo de curadoria da obra.

 

O que este livro e principalmente este conceito das aprendizagens visíveis acrescentam para o debate sobre a educação do Brasil neste momento?

Pesquiso as aprendizagens visíveis desde 2015 e conheci muitas práticas potentes dentro e fora do Brasil. Quis organizar uma coletânea dessas práticas porque faltam materiais em português. Desde o início, a preocupação foi fazer uma curadoria com práticas transformadoras que tivessem fôlego para fazer uma reflexão teórica. São abordagens inovadoras que vão do ensino fundamental até o ensino superior. São práticas que alinham os objetivos, as estratégias metodológicas e as estratégias de avaliação, que tornam esse aprendizado visível porque documentam o aprendizado fazendo com que os estudantes desenvolvam uma consciência sobre o que eles estão aprendendo. Começar a trabalhar desse jeito é um caminho sem volta. Você não faz mais de outro jeito.

 

O livro reúne textos de 17 autores. Como foi feita essa curadoria?

Eu tinha alguns parceiros nas pesquisas sobre o tema desde o começo. Depois, selecionei algumas autoras que já trabalhavam baseadas no Projeto Zero [centro de pesquisa inaugurado em 1967], da Universidade de Harvard. Em seguida, olhei para o lado e vi quem estava desenvolvendo práticas inovadoras. Ao menos dois convites não se concretizaram por falta de tempo. Mas outros livros virão!

 

O neozelandês John Hattie é uma espécie de ‘pai’ da bibliografia sobre aprendizagens visíveis em nível internacional. Trata-se de algo mais ou menos recente como literatura. Quais são os principais preceitos e conceitos que representam a ideia de aprendizagem visível?

Hattie teve a felicidade de dar o nome a esse conceito dentro da sua metanálise, que buscava entender os fatores que mais influem no aprendizado para que a gente entenda em quais deles vale investir o tempo. Mas, do ponto de vista pedagógico, não é algo novo. Nova é a pesquisa. O que ele fortalece é algo que já era apontado por toda a pedagogia crítica ao longo do século XX: quando o estudante se envolve em atividades autênticas, com critérios e objetivos conhecidos, e se envolve também no sentido de ganhar consciência sobre o que está aprendendo, ele aprende mais. Isso já aparecia nas pesquisas de vários autores, inclusive do Paulo Freire. O próprio Projeto Zero já estuda o tema há mais de 50 anos e essa é a espinha dorsal do livro. Hattie organizou evidências robustas de pesquisa para explicitar o que é essencial.

 

O título do livro fala em “experiências teórico-práticas”. Como foi o equilíbrio entre essas duas vertentes – a teoria e a prática?

São estratégias que são refletidas teoricamente, mas todas elas foram colocadas em prática. Esse foi o pedido para todos os autores: eu os convidei por causa das práticas que eles desenvolvem, mas eu queria que houvesse reflexão teórica. Então, em todas as práticas, há uma contextualização sobre qual é a base teórica, quais são os conceitos-chave e como esses conceitos podem ser aplicados na sua realidade. A ideia é que os leitores se inspirem nessas práticas para potencializar as suas próprias práticas em sala de aula. Como eu posso ampliar a minha prática? O que eu posso testar? Esse é o convite.

 

Falamos aqui de mudanças muito bruscas na forma de ensinar e avaliar. Na sua visão, essas ideias estão em conflito com o modelo padrão da educação brasileira? O professor tem a autonomia para aplicar esses conceitos ou será preciso se chocar com o diretor da sua escola ou até mesmo com as diretrizes do Ministério da Educação?

Todos os autores trabalham com formação de professores, então esse é um debate comum para eles. Todo professor, respeitando as orientações curriculares, consegue desenvolver a aprendizagem visível, a documentação da aprendizagem e a explicitação do processo de maneira mais significativa. Porém, é muito evidente que, quando há um conjunto de professores atuando dentro essa ideia, tudo fica mais potente. Essa é uma das observações da metanálise, de John Hattie. A inteligência coletiva cria uma cultura dentro de sala de aula. Quando a gestão está envolvida, temos as escolas que querem criar uma cultura de pensamento baseada no alinhamento entre os objetivos do currículo, a estratégia de aprendizado e a avaliação do processo.

 

O Brasil tem escolas, professores, alunos e condições de trabalho muito diferentes -não só de uma região para outra como muitas vezes dentro de uma mesma cidade. Essas ideias são universais? Ou a aplicabilidade é restrita a uma realidade específica?

Todo mundo pode fazer. São princípios. Claro que depende do espaço pedagógico que a escola oferece para esse tipo de visão. Em sistemas apostilados e muito controlados no que diz respeito ao tempo para tratar de cada tema, o espaço pra cultura do pensamento e do debate é menor. Em escolas baseadas em projetos autorais, o espaço é maior. Mas está documentado no livro: os conceitos podem ser adaptados mesmo nos modelos mais rígidos. As ideias já foram aplicadas inclusive em grupos enormes, de maneira online e presencial. É mais difícil do que em uma turma não tão grande, onde é possível criar espaços de debate, mas é possível.

 

Você mencionou o aprendizado remoto e esta foi uma das grandes novidades trazidas pela pandemia da covid-19. O que esta crise sanitária e os seus impactos na educação trouxeram de novo para o livro e para o conceito no qual ele se baseia?

O livro nasceu antes da pandemia, então as práticas também são anteriores. Mas várias delas foram lecionadas durante a pandemia. Há, inclusive, a documentação de aplicativos que foram usados no período de ensino remoto para auxiliar os registros e a interação entre os estudantes. Tem muita ilustração, muito QRCode, muitos links que foram utilizados… O princípio é tão eficaz que ajudou muito nesse período.

Escritores comemoram escolha de obra infantil como livro do ano pelo Prêmio Jabuti

Eleição de “Sagatrissuinorana”, de João Luiz Guimarães e Nelson Cruz, traz esperança de maior reconhecimento para os autores do gênero

A vitória na categoria Livro do Ano na 63ª edição do Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira, pertenceu a apenas dois autores: João Luiz Guimarães (texto) e Nelson Cruz (ilusrrações). Um universo muito maior de escritores, no entanto, se permitiu celebrar a escolha de “Sagatrissuinorana”. O reconhecimento à obra que homenageia o escritor mineiro Guimarães Rosa ao mesmo tempo em que relembra as vítimas das tragédias ambientais das cidades mineiras de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019, pode marcar um ponto de virada no status da literatura infantil, muitas vezes vista como algo “menor”.

Essa é a aposta de Tino Freitas, autor de “Um abraço passo a passo”, lançado pela Panda Books em 2016. Para ele, o próprio espanto causado por essa escolha mostra como este gênero tão importante é ao mesmo tempo tão subestimado: “A gente precisa estar mais presente nesses espaços. A escolha do Jabuti é uma forma de marcarmos território e mostrarmos que nós pertencemos a este ambiente artístico onde a literatura é uma forma de arte que emociona, desconcerta e surpreende”.

Penélope Martins, que assina “Aventuras de Pinóquio”, que a Panda Books lançou em 2018, vê a premiação como “um marco para todas as pessoas que dedicam suas vidas para fazer da leitura um direito de todas as pessoas”. E adiciona: “Escrever infâncias é voltar ao genuíno lugar de nós mesmos, à capacidade de dizer a vida ao brincar, construindo saberes na partilha. Isto é a razão de escrever e ler porque só somos humanos no espaço dialógico em que as ideias são trocadas e as reflexões permitem a construção de algo novo. Por isso, um viva para ‘Sagatrissuinorana’ e para todas as pessoas, editoras, escolas, famílias e leitores que acreditam no poder de contar histórias”.

Dentro do próprio Prêmio Jabuti, a categoria Livro do Ano é recente. Teve início em 2018. Mas desde 1991 havia uma premiação chamada “Livro do Ano Ficção”, que jamais consagrou a literatura infantil e premiou grandes nomes como Chico Buarque de Hollanda (por “Estorvo”, em 1992, “Budapeste”, em 2004, e “Leite derramado”, em 2010), Carlos Heitor Cony (por “Quase memória”, de 1996, e “A casa do poeta trágico”, de 1998), Rachel de Queiroz (por “Memorial de Maria Moura”, em 1993), Lygia Fagundes Telles (por “Invenção e memória”, em 2001), Manoel de Barros (por “O fazedor do Amanhecer”, em 2002), Nélida Piñon (por “Vozes do deserto”, em 2005), Ferreira Gullar (por “Resmungos”, em 2006), Ignacio de Loyola Brandão (por “O menino que vendia Palavras”, em 2008) e Luís Fernando Veríssimo (por “Diálogos impossíveis”, em 2013).

A partir de 1993, o Jabuti também passou a premiar o “Livro do Ano Não Ficção” – unificando as duas categorias em 2018 –, tampouco sem consagrar a literatura feita para as crianças, mas premiando trabalhos de fôlego como “Rota 66 – A história da polícia que mata”, de Caco Barcellos, em 1993; “Estrela solitária”, de Ruy Castro, em 1996; “Estação Carandiru”, de Dráuzio Varella, em 2000; ou a trilogia “1808” (em 2008), “1822” (em 2011) e “1889” (em 2014), todos de autoria de Laurentino Gomes. Essa prateleira respeitável torna ainda mais impactante a presença de um livro infantil nesta galeria consagrada. No último dia 25, na entrega do prêmio, Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro, responsável pelo Jabuti, avaliou que o resultado reafirma a criança como o motor da literatura nacional: “É formando jovens leitores que conseguimos difundir os livros em todas as esferas da sociedade brasileira”, afirmou. “Por isso, é tão importante termos uma produção relevante para oferecer aos pequenos”.

Tino Freitas chama atenção inclusive para o fato de a eleição ter sido feita com a obra classificada como “livro infantil”, e não como um “livro ilustrado”: “Ganhou como livro infantil e ganhou como livro do ano enquanto livro infantil. A percepção de que ‘livro ilustrado’ é algo maior do que ‘livro infantil’, além de equivocada, não corresponde à verdade do Jabuti. O prêmio escolheu um livro feito para crianças como o melhor livro do ano e essa é a grande notícia”, resume.

Festa do Livro da USP acontecerá entre 8 e 15 de novembro

O tão aguardado encontro entre editoras, autores e leitores será remoto mais uma vez

A pandemia da Covid-19 não interrompeu uma tradição de mais de duas décadas na Universidade de São Paulo: mesmo em 2020, quando a vacinação ainda era apenas uma expectativa, a Edusp, a editora da USP, conseguiu realizar a Festa do Livro de maneira virtual. Um ano depois, os cuidados permanecem: mais da metade da população brasileira já foi imunizada, os números de casos e de mortes decorrentes da covid caíram bastante, mas a pandemia ainda não acabou. Então, a 23ª edição do evento reunirá leitores, autores e editoras de forma remota entre os dias 8 e 15 de novembro.

Desde 1999, anualmente editoras de todo o país reúnem os seus melhores títulos e oferecem descontos especiais para os leitores. O desconto mínimo é de 50% do preço de catálogo. A Panda Books
chegou à festa em 2005: “O que sempre nos motivou foi o contato direto com os leitores e poder ver as reações aos nossos títulos, capas e temas, além de poder abordar as obras com um pouco mais de profundidade. É um encontro com professores, estudantes, fãs e leitores de todas as idades”, comemora Patth Pachas, diretora comercial da Panda.

No formato remoto, as aglomerações em torno das tendas são substituídas por links para as lojas virtuais de cada uma das editoras a partir do portal oficial da Festa. “Já no ano passado foi uma experiência muito diferente. Se por um lado não vemos os leitores, por outro os leitores vieram de regiões mais distantes, como Amazonas, Roraima, Piauí e Santa Catarina”, afirma Patth, que vê neste novo formato a possibilidade de ampliar ainda mais o alcance do evento, que já era anteriormente marcado pela forte presença de visitantes do interior de São Paulo. O que ela espera é que, em 2022, as tendas possam estar novamente abarrotadas, com contato direto entre a editora e os leitores, mas sem abrir mão da possibilidade de alcançar o país inteiro: “Gostaria de ver um formato híbrido”, completa.

Almanaque do Fundo do Mar no Mar…anhão

Escola Crescimento utiliza desde 2017 o livro publicado pela bióloga Rachel Azzari

 

“Um mergulho no fundo do mar: como será que vivem os animais da zona abissal?”. Pesquisar sobre a mais profunda camada dos oceanos era o mote de um trabalho literário realizado pela Escola Crescimento, em São Luís. Para chegar à resposta, os alunos do 1º ano do ensino fundamental não precisaram desbravar textos científicos de alta complexidade: além de receberem a visita de um biólogo, eles contaram com o “Almanaque do Fundo do Mar”, lançado em 2013 pela Panda Books. “Pesquisamos, lemos, fizemos fichas técnicas, construímos legendas, fizemos desenhos de observação e produzimos um documentário para apresentar aos pais. Foi um sucesso!”, comemora Gisele Regina, diretora pedagógica da unidade do bairro do Calhau.

 

Gisele explica ainda que o livro de Rachel Azzari já está em sintonia com a proposta da instituição há mais tempo: “Em 2017, a Escola Crescimento iniciou um processo de reforma na alfabetização que praticávamos. Construiu-se então um material didático que usamos até hoje. Uma parte desse material é a produção de fichas técnicas sobre animais do mar. O livro é um material adequado para pesquisa e aplicação dos procedimentos de estudos. Incentiva a pesquisa e aguça a curiosidade”, avalia.

 

A primeira unidade da Escola Crescimento foi aberta em 1984. A metodologia de ensino consiste em, antes de propor atividades, iniciar o assunto que será estudado por meio de vídeos e textos. Para as crianças em fase de alfabetização, o foco é nas leituras coletivas, com estímulo à interpretação dos textos: “Selecionamos atividades que ajudem o aluno a posicionar seu ponto de vista e ampliar seus repertórios por meio de diferentes tipos de textos e dados. Acreditamos em uma aprendizagem significativa por meio de intervenções que garantem engajamento dos alunos e que favoreçam o protagonismo dele”, define a diretora.

Edições atualizadas de clássicos: viagem prazerosa pelo passado

“Mensagem”, de Fernando Pessoa, é o oitavo clássico da coleção da Panda Books

 

A leitura de alguns dos chamados clássicos da literatura é indispensável para quem se prepara para vestibulares em todo o país. Obrigações, em tese, estão na contramão de qualquer atividade prazerosa. Mas essa regra pode ter suas exceções: nesse caso, versões atualizadas, com extenso material de apoio ao longo de todo o livro, ajudam a orientar o leitor e a atrair sua atenção para o que há de mais interessante.

Fernando Pessoa

No caso da série “Clássicos da Língua Portuguesa”, da Panda Books, esta missão é de responsabilidade da escritora Fátima Mesquita. Seu trabalho mais recente foi com “Mensagem”, publicado pelo português Fernando Pessoa em 1934: “É um livro de poesias sobre a história mais ou menos recente de Portugal baseado nos pensamentos de um autor que era muito místico. Então, é uma viagem. Para mim, foi uma descoberta”.

 

Fátima admite que a leitura não é tão simples, em parte pela estrutura das poesias e em parte pelo próprio misticismo do autor. Mas destaca que, com o apoio das notas auxiliares, o leitor pode entender melhor uma trama que tem tudo a ver com a História do Brasil, mas que não costuma ter grande destaque: “O livro é um voo rasante sobre a História de Portugal. Não estudamos muito sobre ela, mas existem várias ligações com o Brasil. O livro fala muito sobre processos de colonização e descolonização e mostra um povo português já chateado porque o país não tinha mais aquela grandiosidade de comandar várias partes do mundo. É uma história de ascensão e queda. E uma queda muito grande”, resume.

 

5 dicas para a leitura dos clássicos para os vestibulares

1 – Procure edições atualizadas e esteja atento às notas

Os textos são escritos em um português muito diferente do que se usa atualmente e as histórias se desenvolvem em épocas também muito diferentes. Por isso, versões atualizadas são importantes para explicar o significado de algumas expressões e para oferecer o contexto histórico ao leitor. Estar atento às notas complementares ao longo do livro é fundamental.

2 – Perceba os temas atuais

“Os clássicos são novelas das oito”, compara Fátima Mesquita. Parece loucura, mas faz sentido: “Se você for além da linguagem, verá que é assim. No caso dos clássicos brasileiros, muitos eram publicados como folhetins nos jornais, então trazem os ganchos pro capítulo seguinte, a diversão… Eles são divertidos”, explica. Até por isso, uma leitura atenta vai captar muitos temas que permanecem atuais em algumas dessas obras: violência, política, sexo, desigualdades, economia, moda, costumes, ou, de maneira mais ampla, tudo o que envolve as relações humanas.

3 – Mergulhe no que mais lhe interessa

Como os clássicos apresentam uma perspectiva histórica sobre temas que continuam fazendo parte das nossas vidas, a leitura pode abrir caminho para que se conheça mais sobre uma área específica de interesse. Um estudante que se interesse por moda, por exemplo, pode conhecer mais sobre as roupas do passado. Quem gosta de economia, poderá entender as dinâmicas econômicas de séculos passados, quando já se falava, por exemplo, em inflação. E, no aspecto social, os clássicos ajudam a entender as bases das desigualdades de raça e de gênero no Brasil e no mundo. Parar a leitura e fazer uma pesquisa na internet sobre algo que tenha despertado interesse pode ajudar a mudar a impressão geral sobre um livro.

4 – Tudo é interdisciplinar

Se por um lado é verdade que a leitura dos clássicos pode ajudar a entender conteúdos de outras matérias – especialmente a história –, por outro também é verdade que, entendendo melhor as outras matérias, a leitura ficará mais simples. Ter uma boa bagagem sobre assuntos das mais diferentes áreas vai encurtar os caminhos para facilitar o entendimento.

5 – Faça um planejamento

Não tente ler o livro inteiro de uma vez. Estude o tamanho do livro, encontre uma métrica que seja compatível com os seus hábitos (por exemplo, um capítulo por dia) e se organize para que a leitura não fique pesada. Naturalmente, imprevistos podem acontecer e atrasos podem ser compensados. Ou, se o momento estiver especialmente empolgante, o leitor pode se antecipar e depois tirar um dia de folga. O importante é manter a concentração e absorver a leitura.

 

O que é trabalho infantil?

Trabalho infantil é toda forma de trabalho realizado por crianças e adolescentes abaixo da idade mínima permitida pela legislação de cada país.

No Brasil, é proibido para menores de dezesseis anos, mas se for noturno, perigoso ou insalubre, a proibição se estende aos dezoito anos.

Na condição de aprendiz, a lei permite o trabalho protegido a partir de quatorze anos.

Entre as causas do trabalho infantil estão a desigualdade social, o racismo estrutural e questões culturais.

Como consequência, a violação expõe as crianças a violências físicas, psicológicas e sexuais, além de prejudicar a aprendizagem e causar evasão escolar, perpetuando a reprodução do ciclo da pobreza nas famílias.

 

Quer saber mais sobre o trabalho infantil?

 

No livro Meninos Malabares – Retratos do trabalho infantil no Brasil, de Bruna Ribeiro e Thiago Queiroz Luciano, você encontrará relatos sobre trabalho infantil na praia, na feira, no cemitério, na lanchonete, no Carnaval, além da mendicância durante a crise causada pela pandemia de Covid-19, seguida de uma verdadeira pandemia da fome.

Nas últimas páginas, você encontrará números, dados e contextualizações que podem contribuir para uma reflexão mais aprofundada sobre o assunto, com perspectiva histórica, jurídica, cultural e social.

Acesse nosso site e saiba mais!

 

 

 

Entre e sinta-se em casa!

Um convite para adentrar na obra de artistas contemporâneos e explorar novas possibilidades de ocupação da casa em que moramos

“Como nascem as casas? Dos sonhos, do desejo e da necessidade de ter um lugar para morar, das mãos dos trabalhadores, dos traços dos arquitetos, dos mutirões e das ideias dos artistas.”
O que difere a casa em que vivemos das casas criadas pelos artistas? Quantos tipos de casas podem existir? As arte-educadoras Diana Tubenchlak e Renata Sant’Anna apresentam no livro Entre: a arte é sua, da Panda Books, um olhar investigativo e poético para este espaço que passamos a ocupar em tempo integral. Obras de diversos artistas contemporâneos preenchem as páginas do livro, revelando as mais diferentes propostas. Cozinha com banheiro? Uma casa toda vermelha? Sofá na parede?

Nesse passeio pelo livro-casa estão obras de Regina Silveira, Mônica Nador, Romulllo Conceição, German Lorca, Alfredo Volpi, entre outros artistas, que permitem não só mostrar uma nova perspectiva sobre o objeto casa, mas que possibilitaram a transformação dos espaços. Conheça a shabono, casa dos índios yanomami que é incendiada para eliminar insetos, fotografada por Claudia Andujar; a casa-carro dos artistas colombianos Ninibe Forero e Leonardo Ruge que se refugiaram no Rio de Janeiro; e a casa toda vermelha de Cildo Meireles. Ao final do livro, na seção informativa, as autoras apresentam propostas de experiências artísticas para serem vivenciadas pelos pequenos leitores em suas casas, transformando-as em uma casa-ateliê.

 

TRECHOS