Conheça a vida de Machado de Assis

Nos últimos dias, Machado de Assis voltou a ser destaque no Brasil e no mundo. A escritora e podcaster americana Courtney Henning Novak se propôs a ler um livro de cada país do mundo, em ordem alfabética, e já na letra B viralizou com seus comentários a respeito de Memórias póstumas de Brás Cubas. “Este é o melhor livro já escrito“, proclamou Courtney. “O que vou fazer depois de terminá-lo? Ainda tenho que ler livros de Brunei a Zimbábue”. Courtney ainda prometeu fazer aulas de português.

Confira o vídeo dela:

O que você conhece de Machado de Assis, o maior escritor brasileiro?

Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839, filho de um brasileiro, Francisco, pintor de paredes, e uma portuguesa dos Açores, dona Maria, lavadeira que, no entanto, morreu quando ele tinha só dez anos de idade.

Quando novo, descolou uns trocados vendendo doces feitos pela madrasta e engraxando sapatos. Mais tarde, fez bicos de revisor, ralou em tipografia, foi funcionário público em variadas instâncias (começando como auxiliar do auxiliar e chegando até a diretor chefão). E escreveu: crítica de teatro, poema, resenha de debate do Senado, peça teatral, contos, romances, ensaios, artigos e crônicas para jornais e revistas e ainda soluções para jogos de xadrez.

Mas nada foi fácil pro Machadão. O sujeito sofria de epilepsia, uma doença neurológica sem cura e carregada de preconceito, em especial naqueles tempos. Além disso, nosso amigo era negro e também meio gago. E, como você já deve ter sacado, bem pobre mesmo. Os pais do pai dele eram escravos alforriados que haviam trabalhado praticamente a vida toda pra família de sua madrinha. Mas era inteligente que só. Tinha esse supertalento atômico para línguas.

Aprendeu muita coisa (mas muita mesmo!) por conta própria, nos livros da biblioteca da família rica da madrinha e de tudo quanto era jeito que ele podia achar. Tinha esse apetite para aprender. Voraz mesmo.

Deixou seus vários livros, sua obra, que já foi traduzida e estudada por tudo quanto é canto desse planeta Terra. O que é raro, bem raro mesmo para autores brasileiros.

Você pode conhecer mais de Machado de Assis em nossas edições de Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e O alienista, da Coleção Clássicos da Língua Portuguesa. Os livros contam com notas explicativas, mapas dos personagens e prefácio contextualizando a obra e o autor (como esse trechinho biográfico sobre Machadão que você acabou de ler) de Fátima Mesquita.

Conheça a banda Sweet, do livro “Vida instantânea”

No romance Vida instantânea, escrito por Marcelo Duarte e Penélope Martins, seis adolescentes vencem um reality show e formam a banda Sweet, que vira um fenômeno musical da noite para o dia. Mas a inesperada saída de uma das integrantes vem cercada de grande mistério.

Por que Bárbara desistiu de seu grande sonho na carreira artística? O cancelamento do grupo nas redes sociais muda a vida de todos eles, especialmente de Theo, e atrapalha uma promissora história de amor.

Até descobrir a razão do misterioso desaparecimento de Bárbara, acompanhamos como Theo e seus colegas de banda lidam com o término da fama, enquanto a obra nos convida a pensar sobre assuntos que estão na ordem do dia, como culturas do imediatismo, do cancelamento e do assédio.

E tem mais! Ao longo dos capítulos, você poderá ouvir a trilha sonora, composta e gravada especialmente para o livro. São oito canções criadas pela própria Penélope, com música do produtor e instrumentista Rodrigo Di Giorgio.

Confira a playlist e conheça mais sobre o livro!


Marcelo Duarte é jornalista e escritor. Lançou em 1995 o primeiro O guia dos curiosos, hoje uma coleção com dez volumes. Tem também dez romances juvenis publicados, entre eles Esquadrão Curioso: caçadores de fake news, O mistério da figurinha dourada e Que nem maré. É atualmente um dos curadores do Museu do Futebol, em São Paulo. Trabalhou na rádio (Bandeirantes SP e BandNews FM) e na televisão (Loucos por Futebol, na ESPN-Brasil). Compartilha seus conteúdos nas redes sociais do @guiadoscuriosos, que soma hoje quase 1 milhão de seguidores.

 

Penélope Martins é escritora e narradora de histórias. Advogada pós-graduada em direitos humanos, dedica-se à formação de novos leitores desde 2006, produzindo conteúdo para o desenvolvimento contínuo de educadores e mediadores. Atua em projetos de fomento da palavra escrita e falada. Participou de coletivos de mulheres com poesia autoral e é autora e curadora do projeto Mulheres que Leem Mulheres. Entre seus livros publicados estão Minha vida não é cor-de-rosa e Uma boneca para Menitinha, ambos ganhadores do Prêmio Biblioteca Nacional.

Todas as mulheres de José de Alencar

Escritor cearense marcou seu nome na literatura brasileira com romances que colocaram a personalidade forte de suas protagonistas em destaque

Lucíola”, lançamento da Panda Books na série “Clássicos da Língua Portuguesa”, não é a única obra de José de Alencar (1829-1877) a trazer no nome uma figura feminina. Também não é o único título a apostar na personalidade forte e envolvente de uma protagonista feminina para desenvolver um romance capaz de prender a atenção do leitor.

Na verdade, o escritor cearense desenvolveu uma espécie de trilogia de perfis femininos que compõem o que se pode chamar de “mulheres alencarianas”. As histórias não estão ligadas do ponto de vista narrativo e tampouco são uma continuação uma da outra, mas podem ser interpretadas como partes de uma triologia pelas semelhanças na estrutura do romance – são mulheres fortes, de personalidade, que retratam o tempo em que viveram (e no qual Alencar viveu e escreveu) e que têm uma visão mais avançada dos costumes.

Lucíola”, o primeiro deles, por exemplo, saiu em 1862, num Brasil já independente e ainda não republicano; em tempos pré-iluministas de uma moral extremamente rígida sobretudo para as mulheres. Só que, ao mesmo tempo, com a memória ainda fresca de um dos grandes sucessos do escritor francês Alexandre Dumas: “A dama das camélias”, lançado em 1848. São muitas as semelhanças entre o clássico europeu e a trajetória da menina Maria da Glória. Ao ser expulsa de casa, ele se tornou Lúcia, uma cortesã – igual à Camille de Dumas (eram chamadas de “cortesãs” as prostitutas que atendiam clientes ricos).

Lucíola vive os seus conflitos internos e a repulsa pela própria vida de devassidão, enquanto encanta um jovem pernambucano chamado Paulo, que se apaixona pela pureza daquela mulher.

Dois anos depois, José de Alencar lançou “Diva”. Não era de forma alguma uma continuação, mas hoje em dia talvez pudesse até ser considerado um spin-off porque traz de volta a figura de Paulo. A diferença é que ele deixa de ser um protagonista para ser tão somente uma testemunha dos encantos de seu amigo, o médico Augusto Amaral, pela jovem Emília – a “diva” da história.

Dessa forma, se quisermos analisar as duas obras em conjunto, temos dois homens semelhantes no comportamento e na forma de ver o mundo profundamente encantados por mulheres totalmente diferentes. A Emília de “Diva” não admite ser tocada e demora até se abrir para o amor ou mesmo para qualquer ação que escape de sua própria rigidez moral.

Em seus romances urbanos que flertaram com o realismo de Machado de Assis, Alencar conseguiu, em um intervalo de dois anos, surpreender ao sair dos supostos pecados cotidianos de Lúcia para o pudor indestrutível de Emília.

O tempo passou. O escritor cearense experimentou novos caminhos e alcançou com outra mulher – Iracema, a virgem dos lábios de mel, a representante da força dos povos originários brasileiros – o seu maior sucesso.

Já no fim da vida, Alencar voltou a explorar um romance urbano com protagonista feminina que, pelas semelhanças, fecha essa trilogia. “Senhora” foi publicado em 1875 para arrematar toda a reflexão do autor sobre os embates entre o amor e o interesse. Apresenta, em Aurélia Camargo, uma mulher forte e decidida, que poderia simplesmente aceitar a humilhação de ter sido preterida pelo seu grande amor, Fernando, mais preocupado em arranjar um casamento com uma mulher rica. Acontece que ela própria se torna essa mulher, que pode comprar Fernando para estabelecer uma relação de poder diferente daquela que os romances mais tradicionais idealizavam para as mulheres. É, de certa forma, um retrato também de um Brasil com mulheres mais alfabetizadas e letradas, que tiveram seus novos anseios desvendados por autores como Alencar.

Apesar de originalmente não terem ligação direta, as três obras são naturalmente associadas. Tanto que, em 2005, a TV Record colocou no ar a novela “Essas Mulheres”. O autor Marcílio Moraes aproveitou o fato de as três protagonistas viverem na mesma época e criou uma história na qual elas viraram amigas que viveram cada uma o seu romance. Christine Fernandes foi a “Senhora” Aurélia Camargo; Miriam Freeland, a “Diva” Emília Duarte; e Carla Cabral, a Lúcia – ou “Lucíola”, que a Panda Books apresenta em nova edição da coleção “Clássicos da Língua Portuguesa”.