Conheça a banda Sweet, do livro “Vida instantânea”

No romance Vida instantânea, escrito por Marcelo Duarte e Penélope Martins, seis adolescentes vencem um reality show e formam a banda Sweet, que vira um fenômeno musical da noite para o dia. Mas a inesperada saída de uma das integrantes vem cercada de grande mistério.

Por que Bárbara desistiu de seu grande sonho na carreira artística? O cancelamento do grupo nas redes sociais muda a vida de todos eles, especialmente de Theo, e atrapalha uma promissora história de amor.

Até descobrir a razão do misterioso desaparecimento de Bárbara, acompanhamos como Theo e seus colegas de banda lidam com o término da fama, enquanto a obra nos convida a pensar sobre assuntos que estão na ordem do dia, como culturas do imediatismo, do cancelamento e do assédio.

E tem mais! Ao longo dos capítulos, você poderá ouvir a trilha sonora, composta e gravada especialmente para o livro. São oito canções criadas pela própria Penélope, com música do produtor e instrumentista Rodrigo Di Giorgio.

Confira a playlist e conheça mais sobre o livro!


Marcelo Duarte é jornalista e escritor. Lançou em 1995 o primeiro O guia dos curiosos, hoje uma coleção com dez volumes. Tem também dez romances juvenis publicados, entre eles Esquadrão Curioso: caçadores de fake news, O mistério da figurinha dourada e Que nem maré. É atualmente um dos curadores do Museu do Futebol, em São Paulo. Trabalhou na rádio (Bandeirantes SP e BandNews FM) e na televisão (Loucos por Futebol, na ESPN-Brasil). Compartilha seus conteúdos nas redes sociais do @guiadoscuriosos, que soma hoje quase 1 milhão de seguidores.

 

Penélope Martins é escritora e narradora de histórias. Advogada pós-graduada em direitos humanos, dedica-se à formação de novos leitores desde 2006, produzindo conteúdo para o desenvolvimento contínuo de educadores e mediadores. Atua em projetos de fomento da palavra escrita e falada. Participou de coletivos de mulheres com poesia autoral e é autora e curadora do projeto Mulheres que Leem Mulheres. Entre seus livros publicados estão Minha vida não é cor-de-rosa e Uma boneca para Menitinha, ambos ganhadores do Prêmio Biblioteca Nacional.

Todas as mulheres de José de Alencar

Escritor cearense marcou seu nome na literatura brasileira com romances que colocaram a personalidade forte de suas protagonistas em destaque

Lucíola”, lançamento da Panda Books na série “Clássicos da Língua Portuguesa”, não é a única obra de José de Alencar (1829-1877) a trazer no nome uma figura feminina. Também não é o único título a apostar na personalidade forte e envolvente de uma protagonista feminina para desenvolver um romance capaz de prender a atenção do leitor.

Na verdade, o escritor cearense desenvolveu uma espécie de trilogia de perfis femininos que compõem o que se pode chamar de “mulheres alencarianas”. As histórias não estão ligadas do ponto de vista narrativo e tampouco são uma continuação uma da outra, mas podem ser interpretadas como partes de uma triologia pelas semelhanças na estrutura do romance – são mulheres fortes, de personalidade, que retratam o tempo em que viveram (e no qual Alencar viveu e escreveu) e que têm uma visão mais avançada dos costumes.

Lucíola”, o primeiro deles, por exemplo, saiu em 1862, num Brasil já independente e ainda não republicano; em tempos pré-iluministas de uma moral extremamente rígida sobretudo para as mulheres. Só que, ao mesmo tempo, com a memória ainda fresca de um dos grandes sucessos do escritor francês Alexandre Dumas: “A dama das camélias”, lançado em 1848. São muitas as semelhanças entre o clássico europeu e a trajetória da menina Maria da Glória. Ao ser expulsa de casa, ele se tornou Lúcia, uma cortesã – igual à Camille de Dumas (eram chamadas de “cortesãs” as prostitutas que atendiam clientes ricos).

Lucíola vive os seus conflitos internos e a repulsa pela própria vida de devassidão, enquanto encanta um jovem pernambucano chamado Paulo, que se apaixona pela pureza daquela mulher.

Dois anos depois, José de Alencar lançou “Diva”. Não era de forma alguma uma continuação, mas hoje em dia talvez pudesse até ser considerado um spin-off porque traz de volta a figura de Paulo. A diferença é que ele deixa de ser um protagonista para ser tão somente uma testemunha dos encantos de seu amigo, o médico Augusto Amaral, pela jovem Emília – a “diva” da história.

Dessa forma, se quisermos analisar as duas obras em conjunto, temos dois homens semelhantes no comportamento e na forma de ver o mundo profundamente encantados por mulheres totalmente diferentes. A Emília de “Diva” não admite ser tocada e demora até se abrir para o amor ou mesmo para qualquer ação que escape de sua própria rigidez moral.

Em seus romances urbanos que flertaram com o realismo de Machado de Assis, Alencar conseguiu, em um intervalo de dois anos, surpreender ao sair dos supostos pecados cotidianos de Lúcia para o pudor indestrutível de Emília.

O tempo passou. O escritor cearense experimentou novos caminhos e alcançou com outra mulher – Iracema, a virgem dos lábios de mel, a representante da força dos povos originários brasileiros – o seu maior sucesso.

Já no fim da vida, Alencar voltou a explorar um romance urbano com protagonista feminina que, pelas semelhanças, fecha essa trilogia. “Senhora” foi publicado em 1875 para arrematar toda a reflexão do autor sobre os embates entre o amor e o interesse. Apresenta, em Aurélia Camargo, uma mulher forte e decidida, que poderia simplesmente aceitar a humilhação de ter sido preterida pelo seu grande amor, Fernando, mais preocupado em arranjar um casamento com uma mulher rica. Acontece que ela própria se torna essa mulher, que pode comprar Fernando para estabelecer uma relação de poder diferente daquela que os romances mais tradicionais idealizavam para as mulheres. É, de certa forma, um retrato também de um Brasil com mulheres mais alfabetizadas e letradas, que tiveram seus novos anseios desvendados por autores como Alencar.

Apesar de originalmente não terem ligação direta, as três obras são naturalmente associadas. Tanto que, em 2005, a TV Record colocou no ar a novela “Essas Mulheres”. O autor Marcílio Moraes aproveitou o fato de as três protagonistas viverem na mesma época e criou uma história na qual elas viraram amigas que viveram cada uma o seu romance. Christine Fernandes foi a “Senhora” Aurélia Camargo; Miriam Freeland, a “Diva” Emília Duarte; e Carla Cabral, a Lúcia – ou “Lucíola”, que a Panda Books apresenta em nova edição da coleção “Clássicos da Língua Portuguesa”.

Tiago Berg

O sabe-tudo de hinos e bandeiras do mundo inteiro

No dia 3 de julho de 1998, a seleção brasileira venceu a Dinamarca por 3 X 2 pelas Quartas de Final da Copa da França. Tiago José Berg tinha 14 anos, estava na 8ª série e vivia ainda em sua cidade natal, Cordeirópolis, a 164 quilômetros de São Paulo. Ele estava encantado. Apesar de o Brasil perder a final para os anfitriões, foi a Copa mais importante da sua vida. Foi quando TV Globo começou a exibir traduções de hinos nacionais tocados antes dos jogos.

“O hino dinamarquês fala que o país é a sala de Freya. Mas quem é ela?”. Tiago pesquisou e descobriu que se trata da deusa nórdica da fertilidade. Também soube que a Dinamarca definiu seu nacionalismo entre os séculos XVIII e XIX, quando houve um festival de música para escolher o hino. Uma canção estudantil se tornou muito popular e acabou vencedora.

Curioso, ele decidiu buscar hinos, bandeiras e brasões. Contou com a ajuda dos pais para escrever cartas a embaixadas de outros países. Também pedia para a mãe gravar as aberturas dos jogos em fita cassete e avisava: “Quero só os hinos, não precisa gravar o jogo”.

Conforme contatava as embaixadas, ele recebia diversos materiais, como bandeiras, partituras de hinos e cartões com fotos de líderes políticos – “Tenho um do casal que é dono de Lichtenstein. É curioso, Luxemburgo e Arábia Saudita também são países com famílias que os fundaram ou são praticamente donas”. No processo, acabou recebendo endereços de outras embaixadas e passou a conversar com entidades esportivas. Do Comitê Olímpico Internacional, veio um guia com endereços de representações oficiais que os países têm ao redor do mundo.

Logo foi buscar embaixadas fora do Brasil. “Aqui não tinha um representante da Namíbia, por exemplo, mas tinha em Washington.” Para escrever textos em outros idiomas, ainda na virada do século, ele juntou dinheiro e comprou um programa de computador que fazia traduções. Desses lugares, também recebeu materiais, todos guardados com cuidado até hoje. “Antes da internet, eu usava isso como garantia do meu trabalho”, revela.

Ao terminar a escola, pôde unir a paixão às possibilidades que a vida oferecia. Sem dinheiro para estudar em uma cidade distante, cursou Geografia na Unesp da vizinha Rio Claro. Com 12 quilômetros entre sua casa e a universidade, ia e voltava todos os dias. Lá, também fez mestrado e doutorado, sempre estudando símbolos nacionais. Hoje, é professor do Instituto Federal de São Paulo, no campus Capivari. É casado e mora em Piracicaba, a principal cidade da região.

Tiago publicou com a Panda Books os livros Hinos de todos os países do mundo (2008) e Bandeiras de todos os países do mundo (2013). Dois anos após o primeiro chegar às livrarias, recebeu um convite de Jô Soares para ir ao Programa do Jô. Com pouco mais de 20 mil habitantes, Cordeirópolis madrugou para assistir. Segundo ele, em cidades pequenas no interior ainda há mais resistência quando alguém tenta fazer algo diferente: “a entrevista foi boa porque mudou a percepção que as pessoas têm do meu trabalho”. Em 2011, o autor foi homenageado pela Câmara Municipal de Cordeirópolis com o Diploma de Gratidão do Município.

Além das informações completas, seus livros utilizam formatos originais. Bandeiras de todos os países do mundo lembra um álbum de figurinhas e traz não só os modelos atuais, mas também versões históricas utilizadas no passado.

Tiago sempre tem espaço para mais curiosidade. Durante a pesquisa com hinos, criou interesse pela vexilologia, o estudo das bandeiras. Ele participou de um congresso mundial sobre o assunto pela primeira vez em 2013, na cidade de Roterdã, Holanda. Lá, apresentou reflexões sobre bandeiras e paisagens. Ficou em uma mesa com representantes de Rússia, China e Índia – “Era um encontro do BRICS!”.

Em 2017, Tiago conseguiu participar pela segunda vez do Congresso de Vexilologia, agora em Londres, Inglaterra. Conheceu representantes da Geórgia e foi fazer amizade: “Perguntei se o nome do país em georgiano é Sakartvelo”. Ao receber uma resposta positiva, o autor cantou o Hino da Geórgia para os novos amigos. “Ficaram emocionados e me deram a bandeira deles de presente”. Na ocasião, também conheceu o autor polonês Alfred Znamierowski, que inspirou seu livro sobre bandeiras.

Durante o congresso, Tiago apresentou um trabalho que faz na escola e foi bem recebido pelos vexilologistas. Como exemplo, ele cita um projeto realizado durante a Copa da Rússia, em 2018. “Nós temos 27 unidades federativas, nos Estados Unidos são 50, na Rússia, 84.” Pediu aos alunos que pesquisassem e fizessem as bandeiras de todas essas regiões. Assim, conheceram melhor a diversidade e a geografia do país, além de desmistificá-lo. O trabalho virou uma exposição na escola, chamada “Bandeiras regionais da Rússia”.

Tiago tem um quadro na Rádio Educativa de Piracicaba, chamado Hinos do Mundo, foi curador de uma exposição sobre bandeiras durante a Copa de 2014 e quer fundar a associação de vexilologia do Brasil e ir para o YouTube com curiosidades relacionadas à geografia. “Por exemplo, em 1971, o Turcomenistão fazia parte da URSS. Foram perfurar um poço de gás por lá, e começou a pegar fogo. Não tinha como apagar e os soviéticos deixaram lá. Pega fogo até hoje.”