Josca Ailine Baroukh

Josca Ailine Baroukh: A autora que forma crianças e educadores

A autora e educadora Josca Ailine Baroukh é do tipo de pessoa que se diverte com suas atividades profissionais e, consequentemente, trabalha bastante. Em 1984, ela se formou no Instituto de Psicologia da USP. Voltada à psicanálise, terminou o curso e logo abriu um consultório. “Comecei a atender crianças, mas sou filha única e não tive muitas crianças no meu entorno. Então, eu senti a necessidade de estar mais próxima delas”. Partiu para um estágio na Escola de Educação Infantil Alecrim e se apaixonou – já em 1986 fechou o consultório e migrou para o ensino.

Ao longo de 14 anos, Josca trabalhou com diferentes faixas etárias da educação infantil e início do Ensino Médio, o que abriu portas para outros trabalhos. Tornou-se formadora de educadores, realizou projetos no Instituto Tomie Ohtake e foi indicada para colaborar com a Panda em 2010. Por aqui, ela realizou leituras críticas, catálogos e escreveu pequenos textos. Josca também traduziu a coleção “Pequenos filósofos”. Então, veio o convite da Coordenadora de Projetos Especiais da editora, Tatiana Fulas: “Você já faz tantas coisas, por que não escreve um livro também?”. Foi o início da história de “Parlendas para brincar”, feito em parceria com Lucila Silva de Almeida. “Eu gosto de escrever com outra pessoa, para conversar. Assim, o livro fica mais rico”.

Em seu primeiro livro, buscou valorizar a cultura brasileira e fornecer um repertório de parlendas maior para professores e crianças com cerca de 6 anos de idade. “Eu tinha várias, que usava quando dava aulas para o pré. A Lucila vem de uma família do nordeste e do centro-oeste e tinha outras parlendas”. Ficaram empolgadas e também escreveram “Adivinhas para brincar”. Josca ainda participou da formulação do selo Panda Educação, quando veio mais um convite: “Ler antes de saber ler − Oito mitos escolares sobre a leitura literária” é fruto de sua experiência com a formação de professores e da parceria com a autora Ana Carolina Carvalho.

Por volta de 2017 chegou o momento de a Panda ter mais livros para bebês, e Tatiana sabia com quem conversar. “Você vê que a maior parte dos meus livros foram propostos pela Tati, e eu sou muito agradecida por isso. Se ela não me cutucasse, talvez eu não teria escrito”. Com textos que variam entre o estilo literário e o didático, “O penico do bebê” e “Vamos tomar banho” foram as primeiras obras solo de Josca. Ela gostou de escrever e mais livros ainda estão por vir.

Fábio Sgroi

“Faço piada do tiozão do pavê mesmo!”

Na década de 1980, a mãe do então adolescente Fábio Sgroi gerenciava o café do Teatro Imprensa, na região central de São Paulo. O garoto era sempre escalado para ajudá-la. “Levava café para atores importantes, como o Dionísio Azevedo e a Elizabeth Savalla”, lembra ele. “Os autores me davam até cópias dos roteiros para ler”. Enquanto as peças eram encenadas, Fábio tinha cerca de duas horas para se dedicar ao passatempo preferido: o desenho. “Um dia, um cara viu os meus desenhos e passou para minha mãe o telefone de um primo dele, que trabalhava com o Maurício de Sousa. Ela pegou o telefone, mas eu achei que fosse mentira”.

Aquele foi o “número da sorte” de Fábio Sgroi, hoje com 47 anos e cerca de cem livros lançados. O ilustrador e escritor já publicou seus desenhos em 13 livros da Panda Books. Os destaques são os seis livros que ele fez em parceria com a escritora Fátima Mesquita e Viagem por dentro do cérebro, escrito pelo psiquiatra Daniel Martins de Barros e finalista do Prêmio Jabuti de 2014.

Pelo sim pelo não, Fábio resolveu ligar para o número de telefone e a história era verdadeira. A partir daí, ele passou cerca de dois anos visitando a Maurício de Sousa Produções, sempre às quartas-feiras: “Foi informal, mas eu aprendi mais com ele do que com qualquer professor na vida”. Acabou conhecendo todos os funcionários. “Só o Maurício não sabia que eu ia na empresa dele”, conta, dando risada. Para não gerar problemas a ninguém, Fábio prefere manter em segredo os nomes dos amigos que fez. “Aqueles eram outros tempos. Na época, eu era tão fã do Maurício, que acharia uma tremenda honra ser jogado da janela do estúdio dele pelos seguranças”, brinca.

Mas com a frequência de visitas, um dia eles se cruzaram. Fábio tomou o elevador com destino ao quarto andar, onde trabalhava seu amigo. Só que ele parou no primeiro e o pai da Turma da Mônica entrou. “Acho até ele achou que eu trabalhava lá”, diverte-se. “Fiquei com medo de ele perguntar como estava a produção, mas foi uma conversa de elevador – por três andares falamos sobre vento e chuva”.

Trabalhar com Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e companhia virou a sua meta da adolescência. Começou copiando duas páginas de gibis por dia. Acabou largando a escola para se trancar no quarto e dobrar o ritmo de trabalho. “Minha família começou a achar que eu estava ficando louco. Até eu pensei que estava louco”. Não era loucura, Fábio ficou entre os finalistas dos complicados testes para trabalhar com Maurício, mas não passou. Com os contatos feitos na empresa, conseguiu outros trabalhos e retomou os estudos.

No final da adolescência, ele se tornou roteirista de histórias em quadrinhos. Escritor prolixo, fazia cerca de trezentas páginas por mês: “Duzentas não eram aprovadas, mas as outras, sim, e eu ganhava um bom dinheiro para quem tinha só 19 anos. Minha mãe começou a pensar que eu estava fazendo atividades ilícitas!”. Tudo mudou em 1992. Por causa do Plano Collor, o mercado de quadrinhos afundou.

Depois de receber indicações de outros profissionais dos tempos dos Estúdios Maurício de Sousa, ele se estabilizou fazendo ilustrações para livros didáticos. “Com a prática, pude amadurecer meu desenho e me soltar mais”. Seus amigos já haviam avisado que Fábio estava muito focado em quadrinhos e precisava diversificar. Deu certo. Hoje, ele se diz muito mais confortável com ilustrações do que com a escrita. “Qualquer demanda de desenho que aparecer eu aceito, tanto faz se for um projeto experimental ou algo realista. Para escrever, eu não consigo, apesar de gostar muito”. Os livros de sua própria autoria são voltados ao público infantil, principalmente do início do Fundamental. Por gostar do lado didático, Fábio se define como arte-educador.

Atualmente, Fábio Sgroi é mestre em Arquitetura e Urbanismo – desenvolveu uma proposta de política pública, por meio de uma estratégia pedagógica de arte-educação, que usava o desenho como um meio para a criança se conectar com o seu ambiente. O ilustrador e autor também acaba de iniciar sua carreira como professor universitário, na Faculdade São Judas Tadeu. “Tenho muito prazer em dar aulas. Além de desenhar, gosto de pesquisar o desenho e transmitir esse conhecimento”. Ele também ministra cursos na Universidade do Livro e já ensinou quadrinhos para alunos do Fundamental II.

No início dos anos 2000, foi trabalhar por um período no estúdio de um amigo, para ajudar em um projeto. Na mesma época, a Panda contratou a empresa para diagramar e ilustrar Almanaque de puns, melecas e coisas nojentas, de Fátima Mesquita. Fábio, que ainda não havia trabalhado com a Panda Books, estava em hora de almoço quando se deparou com o livro: “Comecei a ver e adorei, fiquei me perguntando quem era a doida que tinha escrito aquilo”. Por três dias seguidos, ele passou uma parte do almoço vendo aquele livro e imaginando as ilustrações, mas esse trabalho já estava combinado com outro profissional. “Não lembro o que aconteceu, mas ele desistiu. Como não tinha muita voz ali, fiquei na minha e foram atrás de outro cara, que também não deu certo. Então, me pediram um rafe (rascunho). Eu fiz e enviaram para a Panda, que adorou meu desenho”. Foi assim que começou a parceria com a autora, hoje chamada carinhosamente por ele de “comadre”: “Só com ela eu desenho coisas como um cara que solta um pum e sai voando”.

Segundo Fábio, suas maiores influências são quadrinhos de humor galhofeiro, com destaque para o ilustrador espanhol Sergio Aragonés, que fez fama com quadrinhos sem fala na revista Mad. Outros nomes são Alcir Linhares, Eva Furnari e a revista Chiclete com Banana – lançada em 1983 com os cartuns escrachados de humor político de Glauco, Angelí e Laerte. “Faço piada de tiozão do pavê mesmo, é divertido, as pessoas gostam”.

 

Veja abaixo as capas de todos os livros da Panda Books ilustrados por Fábio Sgroi:

Caio Vilela

Dia do Fotógrafo: Os registros de Caio Vilela pelo mundo

8 de janeiro é Dia do Fotógrafo. Celebramos a data com Caio Vilela, autor das imagens de “Futebol sem fronteiras” e “Um mundo de crianças”. Ele faz diversas viagens a trabalho, já visitou 108 países e foi até para a Antártida, mas, curiosamente, cresceu em uma casa onde esses passeios não aconteciam. Os pais caíam na estrada apenas para visitar avós de Caio, que moravam no interior de São Paulo. Tem outra: eles também não eram de tirar fotos. Nunca. Apenas o avô materno, Alcyr Ribeiro, tinha câmera e fez registros da infância do fotógrafo. “Era só aquela foto de aniversário, do moleque assoprando o bolo”, lembra.

O interesse por clicar o mundo surgiu graças ao amigo de escola Cláudio Wakahara: “Ele fotografava por diversão, revelava e ampliava fotos no laboratório de seu pai”. Caio visitava o lugar e teve seu primeiro emprego lá, como assistente do arquiteto e museólogo Júlio Abe Wakahara. “Era um casarão antigo na Bela Vista. Você entrava e descia várias escadas para chegar ao laboratório”. Tinha, então, 16 anos e ganhou de presente a câmera do avô. A levou para sua primeira viagem internacional, quando fotografou na Patagônia, em 1990, aos 19 anos. A vontade de viajar foi estimulada pelo outro avô: Saulo Vilela. Apaixonado por trens e geografia, gostava de testar o conhecimento dos netos: “Ele nos perguntava coisas como a capital da República do Congo e países banhados pelo Oceano Índico”.

Conforme juntava economias com o dinheiro do trabalho, Caio viajava e fotografava. Em seus mochilões, gostava de brincar com crianças, especialmente nas regiões pobres. “Eu me divertia com elas, desenhava e visitava escolas. Também fazia anotações sobre como era o lazer, a alimentação, e a educação”. Chegou um momento em que reuniu todo o material e criou o livro “Um mundo de crianças”, com a jornalista Ana Busch.

Em suas andanças pelo mundo, certa vez, fotografou uma partida de futebol de rua no Irã. Estava em uma cidade chamada Yazd e gostou do contraste entre a pelada e a arquitetura característica do local ao fundo. O estalo veio depois de a imagem ser publicada na revista de bordo da Varig: “Comecei a procurar futebol nas viagens”. Em visitas a lugares muito emblemáticos, como o Machu Picchu, ele até levava uma bola. Mas Caio virou um especialista e descobriu até o horário sagrado do futebol: 17h. “Quem trabalha, já trabalhou; quem estuda, estudou; o sol já baixou e, nos países islâmicos, é o horário logo depois da reza. Às 5 da tarde, com uma bicicleta alugada ou um taxista esperto, eu consigo achar o futebol acontecendo em qualquer lugar do mundo”.

O livro deu origem a uma exposição no Museu do Futebol, em São Paulo, entre 2009 e 2010. Era chamada “Ora, Bolas! O Futebol Pelo Mundo”. Caio não parou de fotografar o esporte nas ruas de onde viajava. O material cresceu, e os convites para expor também. No Brasil, suas imagens foram apresentadas em shopping centers, no Conjunto Nacional, em São Paulo, e em diferentes unidades do Sesc, como na “Futegrafias”, exposição que aconteceu durante a Copa do Mundo de 2014.

O trabalho ganhou o mundo e foi apresentado em lugares como Belgrado (Sérvia), Islamabade (Paquistão), Doha (Catar), Quito (Equador), a prefeitura de Paris (França) e o Planetário de Bogotá (Colombia).

Tiago Berg

O sabe-tudo de hinos e bandeiras do mundo inteiro

No dia 3 de julho de 1998, a seleção brasileira venceu a Dinamarca por 3 X 2 pelas Quartas de Final da Copa da França. Tiago José Berg tinha 14 anos, estava na 8ª série e vivia ainda em sua cidade natal, Cordeirópolis, a 164 quilômetros de São Paulo. Ele estava encantado. Apesar de o Brasil perder a final para os anfitriões, foi a Copa mais importante da sua vida. Foi quando TV Globo começou a exibir traduções de hinos nacionais tocados antes dos jogos.

“O hino dinamarquês fala que o país é a sala de Freya. Mas quem é ela?”. Tiago pesquisou e descobriu que se trata da deusa nórdica da fertilidade. Também soube que a Dinamarca definiu seu nacionalismo entre os séculos XVIII e XIX, quando houve um festival de música para escolher o hino. Uma canção estudantil se tornou muito popular e acabou vencedora.

Curioso, ele decidiu buscar hinos, bandeiras e brasões. Contou com a ajuda dos pais para escrever cartas a embaixadas de outros países. Também pedia para a mãe gravar as aberturas dos jogos em fita cassete e avisava: “Quero só os hinos, não precisa gravar o jogo”.

Conforme contatava as embaixadas, ele recebia diversos materiais, como bandeiras, partituras de hinos e cartões com fotos de líderes políticos – “Tenho um do casal que é dono de Lichtenstein. É curioso, Luxemburgo e Arábia Saudita também são países com famílias que os fundaram ou são praticamente donas”. No processo, acabou recebendo endereços de outras embaixadas e passou a conversar com entidades esportivas. Do Comitê Olímpico Internacional, veio um guia com endereços de representações oficiais que os países têm ao redor do mundo.

Logo foi buscar embaixadas fora do Brasil. “Aqui não tinha um representante da Namíbia, por exemplo, mas tinha em Washington.” Para escrever textos em outros idiomas, ainda na virada do século, ele juntou dinheiro e comprou um programa de computador que fazia traduções. Desses lugares, também recebeu materiais, todos guardados com cuidado até hoje. “Antes da internet, eu usava isso como garantia do meu trabalho”, revela.

Ao terminar a escola, pôde unir a paixão às possibilidades que a vida oferecia. Sem dinheiro para estudar em uma cidade distante, cursou Geografia na Unesp da vizinha Rio Claro. Com 12 quilômetros entre sua casa e a universidade, ia e voltava todos os dias. Lá, também fez mestrado e doutorado, sempre estudando símbolos nacionais. Hoje, é professor do Instituto Federal de São Paulo, no campus Capivari. É casado e mora em Piracicaba, a principal cidade da região.

Tiago publicou com a Panda Books os livros Hinos de todos os países do mundo (2008) e Bandeiras de todos os países do mundo (2013). Dois anos após o primeiro chegar às livrarias, recebeu um convite de Jô Soares para ir ao Programa do Jô. Com pouco mais de 20 mil habitantes, Cordeirópolis madrugou para assistir. Segundo ele, em cidades pequenas no interior ainda há mais resistência quando alguém tenta fazer algo diferente: “a entrevista foi boa porque mudou a percepção que as pessoas têm do meu trabalho”. Em 2011, o autor foi homenageado pela Câmara Municipal de Cordeirópolis com o Diploma de Gratidão do Município.

Além das informações completas, seus livros utilizam formatos originais. Bandeiras de todos os países do mundo lembra um álbum de figurinhas e traz não só os modelos atuais, mas também versões históricas utilizadas no passado.

Tiago sempre tem espaço para mais curiosidade. Durante a pesquisa com hinos, criou interesse pela vexilologia, o estudo das bandeiras. Ele participou de um congresso mundial sobre o assunto pela primeira vez em 2013, na cidade de Roterdã, Holanda. Lá, apresentou reflexões sobre bandeiras e paisagens. Ficou em uma mesa com representantes de Rússia, China e Índia – “Era um encontro do BRICS!”.

Em 2017, Tiago conseguiu participar pela segunda vez do Congresso de Vexilologia, agora em Londres, Inglaterra. Conheceu representantes da Geórgia e foi fazer amizade: “Perguntei se o nome do país em georgiano é Sakartvelo”. Ao receber uma resposta positiva, o autor cantou o Hino da Geórgia para os novos amigos. “Ficaram emocionados e me deram a bandeira deles de presente”. Na ocasião, também conheceu o autor polonês Alfred Znamierowski, que inspirou seu livro sobre bandeiras.

Durante o congresso, Tiago apresentou um trabalho que faz na escola e foi bem recebido pelos vexilologistas. Como exemplo, ele cita um projeto realizado durante a Copa da Rússia, em 2018. “Nós temos 27 unidades federativas, nos Estados Unidos são 50, na Rússia, 84.” Pediu aos alunos que pesquisassem e fizessem as bandeiras de todas essas regiões. Assim, conheceram melhor a diversidade e a geografia do país, além de desmistificá-lo. O trabalho virou uma exposição na escola, chamada “Bandeiras regionais da Rússia”.

Tiago tem um quadro na Rádio Educativa de Piracicaba, chamado Hinos do Mundo, foi curador de uma exposição sobre bandeiras durante a Copa de 2014 e quer fundar a associação de vexilologia do Brasil e ir para o YouTube com curiosidades relacionadas à geografia. “Por exemplo, em 1971, o Turcomenistão fazia parte da URSS. Foram perfurar um poço de gás por lá, e começou a pegar fogo. Não tinha como apagar e os soviéticos deixaram lá. Pega fogo até hoje.”