Gustavo Piqueira: o designer original, criativo e moderno da coleção “Clássicos”

Quem está por trás do bem sucedido projeto da coleção Clássicos, da Panda Books, é o designer gráfico Gustavo Piqueira. Fundador do estúdio Casa Rex, ele e a equipe já receberam mais de 500 prêmios internacionais – e continuam somando. Gustavo e a Casa Rex são os responsáveis pela ideia das capas e da organização interna dos livros, incluindo ilustrações, notas de rodapé e boxes.

Como um projeto assim começa a surgir?

Primeiro há uma concepção geral, que é rápida. A ideia era assumir que um clássico em versão escolar precisaria trabalhar uma possível aversão que o aluno tem de leituras obrigatórias. Por isso, esse teor um pouco anárquico – já vem rabiscado. Desse princípio, nós temos alguns desdobramentos: como abordar todas as notas, os boxes, misturar ilustrações diferentes. Essa quantidade de elementos maior que em um livro comum atende o conceito do livro de um jovem e, ao mesmo tempo, ajuda a organizar a grande quantidade de paratextos.

Quais são as etapas seguintes?

São dois passos paralelos que se cruzam em um momento. Depois desse que eu chamo de “tom”, que não precisa ser materializado, temos a parte prática: entender o conteúdo. O livro é um território que você vai ocupar. É importante entender tanto suas características físicas quanto o que precisa caber nele. Tudo isso envolve pegar o texto, jogar no espaço, no número de páginas, usar um tamanho de fonte que seja bom para leituras e entender quais são os paratextos, para saber quantas variações serão necessárias. Nos Clássicos, da Panda Books, a mancha, que é a parte ocupada pelo texto, é menor do que o comum, para caber as notas e os boxes. Essa série de testes é um pré-projeto. Aí, nós escolhemos a fonte, a cor e as ilustrações.

Coleção “Clássicos” da Panda Books

Como foi o desenvolvimento do projeto da capa?

A proposta de capa original era diferente da que acabou adotada. Ela apresentava retratos dos autores rabiscados. Por exemplo, o Machado de Assis com o bigode rabiscado da forma que os alunos costumam fazer de brincadeira. Foi a única mudança do original. Gosto desse trabalho, porque já tem 10 anos e ainda se mantém. Alguns ficam velhos, é um aspecto inerente da minha atividade. Sempre que um projeto continua interessante com o passar do tempo é sinal de que ele se apoiava em algo original, e não apenas no espírito da época em que foi feito.

Josca Ailine Baroukh

Josca Ailine Baroukh: A autora que forma crianças e educadores

A autora e educadora Josca Ailine Baroukh é do tipo de pessoa que se diverte com suas atividades profissionais e, consequentemente, trabalha bastante. Em 1984, ela se formou no Instituto de Psicologia da USP. Voltada à psicanálise, terminou o curso e logo abriu um consultório. “Comecei a atender crianças, mas sou filha única e não tive muitas crianças no meu entorno. Então, eu senti a necessidade de estar mais próxima delas”. Partiu para um estágio na Escola de Educação Infantil Alecrim e se apaixonou – já em 1986 fechou o consultório e migrou para o ensino.

Ao longo de 14 anos, Josca trabalhou com diferentes faixas etárias da educação infantil e início do Ensino Médio, o que abriu portas para outros trabalhos. Tornou-se formadora de educadores, realizou projetos no Instituto Tomie Ohtake e foi indicada para colaborar com a Panda em 2010. Por aqui, ela realizou leituras críticas, catálogos e escreveu pequenos textos. Josca também traduziu a coleção “Pequenos filósofos”. Então, veio o convite da Coordenadora de Projetos Especiais da editora, Tatiana Fulas: “Você já faz tantas coisas, por que não escreve um livro também?”. Foi o início da história de “Parlendas para brincar”, feito em parceria com Lucila Silva de Almeida. “Eu gosto de escrever com outra pessoa, para conversar. Assim, o livro fica mais rico”.

Em seu primeiro livro, buscou valorizar a cultura brasileira e fornecer um repertório de parlendas maior para professores e crianças com cerca de 6 anos de idade. “Eu tinha várias, que usava quando dava aulas para o pré. A Lucila vem de uma família do nordeste e do centro-oeste e tinha outras parlendas”. Ficaram empolgadas e também escreveram “Adivinhas para brincar”. Josca ainda participou da formulação do selo Panda Educação, quando veio mais um convite: “Ler antes de saber ler − Oito mitos escolares sobre a leitura literária” é fruto de sua experiência com a formação de professores e da parceria com a autora Ana Carolina Carvalho.

Por volta de 2017 chegou o momento de a Panda ter mais livros para bebês, e Tatiana sabia com quem conversar. “Você vê que a maior parte dos meus livros foram propostos pela Tati, e eu sou muito agradecida por isso. Se ela não me cutucasse, talvez eu não teria escrito”. Com textos que variam entre o estilo literário e o didático, “O penico do bebê” e “Vamos tomar banho” foram as primeiras obras solo de Josca. Ela gostou de escrever e mais livros ainda estão por vir.

Podcast Esquadrão Curioso

Esquadrão Curioso ensina como identificar e combater notícias falsas em novo podcast

O livro Esquadrão Curioso – Caçadores de fake news, do jornalista e escritor Marcelo Duarte, lançado em 2018, acaba de ganhar uma versão no formato podcast. “Caçadores de Fake News” chegará às principais plataformas de streaming (Spotify, Deezer, Google Podcast e Apple Podcast, entre outros) na primeira quinta-feira de fevereiro, dia 4. Misturando ficção com realidade, os quatro personagens da trama – Isa, Pudim, Leo e Débora – entrevistam 11 jornalistas, educadores e formadores de opinião de Brasil, Estados Unidos e outros países, para entender o que são as fake news, como elas surgem e como se espalham tão depressa, os perigos que causam e como combatê-las.

A série teve apoio da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil, por meio de seu Edital Anual de Projetos, que financia programas que fortaleçam as relações entre Brasil e Estados Unidos, destaquem valores compartilhados entre os dois países e promovam a cooperação bilateral. “Informações falsas podem até tirar vidas, então é crucial fomentar o pensamento crítico em jovens desde cedo, de modo a ajudar a formar cidadãos engajados e conscientes.  Os Estados Unidos já têm bastante experiência nessa área e achamos que é importante dividir essa experiência com os brasileiros”, afirmou o cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Adam Shub.

São cinco episódios de 20 minutos com muito entretenimento e informação, que poderão ser trabalhados nas escolas, com alunos do Ensino Fundamental e Médio. “Não quisemos limitar a faixa etária, pois nunca sabemos quando a criança passará por uma situação assim. Elas precisam estar preparadas”, afirma Marcelo. Os educadores poderão encontrar sugestões pedagógicas, o perfil dos entrevistados, links importantes e até mesmo um glossário no site www.cacadoresdefakenews.com.br, criado especialmente como suporte do podcast.

Na trama, os personagens recebem o desafio de criar um podcast sobre fake news para um trabalho escolar. Com o objetivo de coletar informações relevantes e verdadeiras para o programa, eles conversam com diversos jornalistas especialistas no assunto de todas as formas – pelo telefone, trocando mensagens de WhatsApp, entrando em plataformas de reunião e mesmo presencialmente. “É urgente e necessário falar de educação midiática e, agora, mais do que nunca, precisamos que nossos jovens aprendam a importância de uma notícia bem apurada. Estamos vivendo um momento crítico, as pessoas precisam confiar e acreditar na imprensa profissional”, diz Marcelo.

Os episódios têm muito humor. Os personagens foram muito bem recebidos pelos entrevistados, que entraram no clima da aventura e colaboraram com sua didática e muito conhecimento. As vozes dos personagens foram criadas por atores profissionais de muito destaque em musicais, programas de TV e dublagem no cinema. Fazem parte do elenco Mariana Elisabetsky (“Mudança de Hábito”, “O Mágico de Oz” e “Grease”), interpretando Isa; Arthur Berges (“Um Violonista no Telhado”, “Rent” e “Chaplin – O musical”), que dá voz ao Pudim; Luciana Ramanzini (“Natureza Morta” e “Bento Batuca”), no papel de Débora; e Hugo Picchi (“Cocoricó” e “Irmão do Jorel”), que faz Leo e do narrador.

Fábio Sgroi

“Faço piada do tiozão do pavê mesmo!”

Na década de 1980, a mãe do então adolescente Fábio Sgroi gerenciava o café do Teatro Imprensa, na região central de São Paulo. O garoto era sempre escalado para ajudá-la. “Levava café para atores importantes, como o Dionísio Azevedo e a Elizabeth Savalla”, lembra ele. “Os autores me davam até cópias dos roteiros para ler”. Enquanto as peças eram encenadas, Fábio tinha cerca de duas horas para se dedicar ao passatempo preferido: o desenho. “Um dia, um cara viu os meus desenhos e passou para minha mãe o telefone de um primo dele, que trabalhava com o Maurício de Sousa. Ela pegou o telefone, mas eu achei que fosse mentira”.

Aquele foi o “número da sorte” de Fábio Sgroi, hoje com 47 anos e cerca de cem livros lançados. O ilustrador e escritor já publicou seus desenhos em 13 livros da Panda Books. Os destaques são os seis livros que ele fez em parceria com a escritora Fátima Mesquita e Viagem por dentro do cérebro, escrito pelo psiquiatra Daniel Martins de Barros e finalista do Prêmio Jabuti de 2014.

Pelo sim pelo não, Fábio resolveu ligar para o número de telefone e a história era verdadeira. A partir daí, ele passou cerca de dois anos visitando a Maurício de Sousa Produções, sempre às quartas-feiras: “Foi informal, mas eu aprendi mais com ele do que com qualquer professor na vida”. Acabou conhecendo todos os funcionários. “Só o Maurício não sabia que eu ia na empresa dele”, conta, dando risada. Para não gerar problemas a ninguém, Fábio prefere manter em segredo os nomes dos amigos que fez. “Aqueles eram outros tempos. Na época, eu era tão fã do Maurício, que acharia uma tremenda honra ser jogado da janela do estúdio dele pelos seguranças”, brinca.

Mas com a frequência de visitas, um dia eles se cruzaram. Fábio tomou o elevador com destino ao quarto andar, onde trabalhava seu amigo. Só que ele parou no primeiro e o pai da Turma da Mônica entrou. “Acho até ele achou que eu trabalhava lá”, diverte-se. “Fiquei com medo de ele perguntar como estava a produção, mas foi uma conversa de elevador – por três andares falamos sobre vento e chuva”.

Trabalhar com Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e companhia virou a sua meta da adolescência. Começou copiando duas páginas de gibis por dia. Acabou largando a escola para se trancar no quarto e dobrar o ritmo de trabalho. “Minha família começou a achar que eu estava ficando louco. Até eu pensei que estava louco”. Não era loucura, Fábio ficou entre os finalistas dos complicados testes para trabalhar com Maurício, mas não passou. Com os contatos feitos na empresa, conseguiu outros trabalhos e retomou os estudos.

No final da adolescência, ele se tornou roteirista de histórias em quadrinhos. Escritor prolixo, fazia cerca de trezentas páginas por mês: “Duzentas não eram aprovadas, mas as outras, sim, e eu ganhava um bom dinheiro para quem tinha só 19 anos. Minha mãe começou a pensar que eu estava fazendo atividades ilícitas!”. Tudo mudou em 1992. Por causa do Plano Collor, o mercado de quadrinhos afundou.

Depois de receber indicações de outros profissionais dos tempos dos Estúdios Maurício de Sousa, ele se estabilizou fazendo ilustrações para livros didáticos. “Com a prática, pude amadurecer meu desenho e me soltar mais”. Seus amigos já haviam avisado que Fábio estava muito focado em quadrinhos e precisava diversificar. Deu certo. Hoje, ele se diz muito mais confortável com ilustrações do que com a escrita. “Qualquer demanda de desenho que aparecer eu aceito, tanto faz se for um projeto experimental ou algo realista. Para escrever, eu não consigo, apesar de gostar muito”. Os livros de sua própria autoria são voltados ao público infantil, principalmente do início do Fundamental. Por gostar do lado didático, Fábio se define como arte-educador.

Atualmente, Fábio Sgroi é mestre em Arquitetura e Urbanismo – desenvolveu uma proposta de política pública, por meio de uma estratégia pedagógica de arte-educação, que usava o desenho como um meio para a criança se conectar com o seu ambiente. O ilustrador e autor também acaba de iniciar sua carreira como professor universitário, na Faculdade São Judas Tadeu. “Tenho muito prazer em dar aulas. Além de desenhar, gosto de pesquisar o desenho e transmitir esse conhecimento”. Ele também ministra cursos na Universidade do Livro e já ensinou quadrinhos para alunos do Fundamental II.

No início dos anos 2000, foi trabalhar por um período no estúdio de um amigo, para ajudar em um projeto. Na mesma época, a Panda contratou a empresa para diagramar e ilustrar Almanaque de puns, melecas e coisas nojentas, de Fátima Mesquita. Fábio, que ainda não havia trabalhado com a Panda Books, estava em hora de almoço quando se deparou com o livro: “Comecei a ver e adorei, fiquei me perguntando quem era a doida que tinha escrito aquilo”. Por três dias seguidos, ele passou uma parte do almoço vendo aquele livro e imaginando as ilustrações, mas esse trabalho já estava combinado com outro profissional. “Não lembro o que aconteceu, mas ele desistiu. Como não tinha muita voz ali, fiquei na minha e foram atrás de outro cara, que também não deu certo. Então, me pediram um rafe (rascunho). Eu fiz e enviaram para a Panda, que adorou meu desenho”. Foi assim que começou a parceria com a autora, hoje chamada carinhosamente por ele de “comadre”: “Só com ela eu desenho coisas como um cara que solta um pum e sai voando”.

Segundo Fábio, suas maiores influências são quadrinhos de humor galhofeiro, com destaque para o ilustrador espanhol Sergio Aragonés, que fez fama com quadrinhos sem fala na revista Mad. Outros nomes são Alcir Linhares, Eva Furnari e a revista Chiclete com Banana – lançada em 1983 com os cartuns escrachados de humor político de Glauco, Angelí e Laerte. “Faço piada de tiozão do pavê mesmo, é divertido, as pessoas gostam”.

 

Veja abaixo as capas de todos os livros da Panda Books ilustrados por Fábio Sgroi:

Lançamento "Eu estou aqui"

Lançamentos virtuais ou presenciais: emoção é o que não falta

Agora, no mês de fevereiro, estamos completando um ano sem aquele contato com nossos leitores em tardes e noites de autógrafos. O isolamento social fez os lançamentos de livros migrarem para o formato digital. A primeira experiência virtual que tivemos foi com o livro A vez e a voz das crianças – Escutas antropológicas e poéticas das infâncias, escrito pela educadora Adriana Friedmann e publicado pelo selo Panda Educação em maio de 2020. A autora diz que foi emocionante interagir com as pessoas por meio das câmeras e revela que o formato superou suas expectativas: “Mesmo sendo virtual, a gente se conecta e se emociona profundamente”. Adriana tem filhos e familiares vivendo em diferentes Estados e até mesmo fora do Brasil. O evento pela internet foi a primeira oportunidade de reunir a todos em lançamento dela.

Em novembro passado, o jornalista Dudu Monsanto lançou seu segundo livro sobre o Flamengo: A virada – milagre em Lima aborda o título da Libertadores conquistado em 2019. A live de lançamento reuniu 300 pessoas simultaneamente e teve início com um vídeo especial – Zico, ídolo rubro-negro, estava no Japão e gravou uma mensagem para o autor, parabenizando pelo livro e incentivando torcedores à leitura. “Ele é a razão de eu ser Flamengo”, revela Dudu. No dia seguinte, Dudu foi até a editora e autografou 750 exemplares do livro vendidos durante a live. O trabalho começou às 9 da manhã e só terminou às três e meia da tarde, sem paradas.

Embora o formato digital tenha encontrado um jeito de conectar autores e leitores, as recordações de lançamentos presenciais estão muito fortes nas lembranças de todos. No final de 2019, os jornalistas Eduardo Barão e Pablo Fernandes lançaram Eu sou Ricardo Boechat, com histórias do companheiro da rádio Band News FM, falecido em 11 de fevereiro daquele ano. Barão chegou com 40 minutos de antecedência à Livraria da Vila, da Alameda Lorena, em São Paulo, e se surpreendeu com uma fila de espera que dava a volta no quarteirão. E não se trata de força de expressão. “Fiquei assustado!”, confessa ele. “Jamais imaginei que iria tanta gente”. Além dos fãs, que passaram até quatro horas para pegar o autógrafo, Barão e Pablo foram cercados naquela noite por amigos, parentes e por Veruska, mulher de Boechat, e pelas filhas dele, Valentina e Catarina. No lançamento na Livraria Travessa, no Rio de Janeiro, logo depois, as emoções se repetiram. A mãe de Boechat, dona Mercedes, e irmãos dele atendiam também os pedidos de autógrafos dos leitores.

Lançamento "Eu sou Ricardo Boechat"
Eduardo Barão e Pablo Luiz Fernandez no lançamento de Eu sou Ricardo Boechat.

Em 2019, a estilista-educadora Alessandra Ponce Rocha lançou seu primeiro livro: Alinhavos – O futuro do planeta está no seu guarda-roupa. Comunicada pela editora de que o lançamento seria em agosto, ela não teve dúvidas em sugerir o dia 23, data de seu aniversário. Melhor ainda que, naquele ano, a comemoração caiu numa sexta-feira.  “Dormi só quatro horas, pois estava ansiosa”, conta Alessandra. “De manhã, li uma nota sobre o lançamento na coluna da Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, e minha ansiedade aumentou”. A sessão de autógrafos e aniversário teve muitos presentes. Nos dois sentidos.  Amigos e familiares prestigiaram o lançamento e trouxeram também mimos para a autora. “Ganhei até doce de abóbora, que é o meu favorito!”, diverte-se. O momento mais emocionante aconteceu no começo da festa: “Recebi a filha de uma amiga que não está mais entre nós, e havia seis anos que eu não via a menina”. Aquele dia era especial e se estendeu pela madrugada com amigos e empanadas em um bar próximo.

Lançamento de "Alinhavos"
Alessandra Ponce Rocha no lançamento de Alinhavos – O futuro do planeta está no seu guarda-roupa. Foto: Beto Jeon Folktography.

Para o lançamento de Eu Estou Aqui, seu quinto livro, em setembro de 2019, a autora Maísa Zakzuk fez questão de convidar as 12 crianças que estavam perfiladas nas 64 páginas da obra. Crianças que deixaram seus países, como refugiadas ou imigrantes, para começar uma nova vida no Brasil. Ela desejava reunir todos os personagens, mas sabia da dificuldade que eles enfrentariam para chegar na Livraria da Vila, da Vila Madalena. Não colocou muita expectativa, mas acabou sendo surpreendida. Instalada na mesa de autógrafos, ao lado da fotógrafa Daiane da Mata, responsável pelas imagens de Eu estou aqui, Maísa arregalou os olhos quando quatro de seus personagens entraram juntos na livraria:  Cristina, da República Democrática do Congo; Mariam, da Palestina; Rosa, da Angola; e Sebastien, do Haiti “Sou muito emotiva e comecei a chorar quando os abracei”, lembra. “O livro tinha ficado pronto poucos dias antes e eles viram as histórias deles impressas ali pela primeira vez. Foi o momento mais legal da minha carreira como escritora”.

"Formas de pensar o desenho", de Edith Derdyk.

A nova edição de um clássico da arte-educação infantil

Formas de pensar o desenho foi lançado em 1988 e acaba de chegar à 3ª edição pela Panda Books. A autora Edith Derdyk escreveu uma nova apresentação e adicionou mais um capítulo na parte final do livro: “proposições”. A ampliação se une ao conteúdo adicionado na segunda edição – capítulos sobre Leonardo da Vinci, Eugène Delacroix e os brasileiros Iberê Camargo, Amilcar de Castro, Regina Silveira e Artur Barrio. O texto traz ideias e reflexões para ampliar o conhecimento dos educadores e artistas em formação, sobre quem Edith relata carinho e preocupação.

“Qualquer comunidade só desenvolve cultura, educação e conhecimento com seres sensíveis”, afirma a autora, que vê na união entre educação e arte um fundamento necessário para a construção do conhecimento. “A arte é uma forma de acordar o corpo e a consciência, de ajudar a constituir a própria subjetividade”, explica. Edith parte de uma visão geral dos percursos do desenho que nasce da ótica da História da Arte, que registra as experiências dos artistas por meio das obras realizadas ao longo do tempo. Para lançar um novo olhar sobre a expressão das crianças, ela trilha um caminho que passa por relações como entre a linha e o papel, o corpo e o movimento.

Os capítulos sobre a produção gráfica dos artistas aproximam museus de escolas, pensando em alunos e professores brasileiros que não têm a possibilidade de visitar exposições. “A história da arte é o nosso álbum de figurinhas”, explica Edith. “Fiz um recorte da produção gráfica de alguns dos artistas que, de alguma forma, contribuíram para o percurso da história do desenho”. A autora mostra fases do desenvolvimento da linguagem infantil que conversam com momentos da história da arte.

“É muito usual e praticado nas escolas, de forma geral, o ensino do desenho como cópia do real, sem entendê-lo como linguagem expressiva”. A autora busca manter acesa a chama pelo interesse na expressão. Com sua busca pela valorização do ensino da arte e da formação de educadores, Edith propõe práticas e atividades de interpretação reformulados e revisitados ao longo dos 32 anos de história do livro Formas de pensar o desenho.

Aniversário de São Paulo – curiosidades sobre símbolos da cidade

A cidade de São Paulo foi fundada em 25 de janeiro de 1554, mas só teve um brasão e uma bandeira para representá-la no século XX. Para comemorar os 467 anos da capital paulista, recebemos um artigo do geógrafo Tiago José Berg, autor de Hinos de todos os países do mundo e Bandeiras de todos os países do mundo.

Brasão da cidade de São Paulo

Em dezembro de 1915, a Câmara Municipal de São Paulo instituiu um concurso para a escolha do brasão de armas da cidade, atendendo uma solicitação do prefeito Washington Luís. Até então, o emblema usado pela prefeitura era o brasão da República Brasileira. Formou-se uma comissão composta de personagens da vida cultural paulistana para julgar os trinta e seis concorrentes. Nenhum dos trabalhos satisfez o júri. Pouco se sabe sobre os desenhos, mas havia muitos brasões cheios de águias, bandeiras, fortalezas, correntes partidas e até capacetes de Mercúrio. O projeto de número 32, de autoria do ilustrador José Wasth Rodrigues foi de grande importância no primeiro concurso – introduziu o lema NON DUCOR DUCO (não sou conduzido, conduzo), que se imortalizaria mais tarde como lema heráldico paulistano. Houve um segundo concurso com trinta e dois trabalhos. Nele, sagrou-se vencedor o projeto de número 7, de autoria do poeta e heraldista Guilherme de Almeida, em parceria com Wasth Rodrigues.

Em relação ao modelo atual, o desenho contava com um braço armado empunhando uma espada batalhante, que partia da direita do escudo (destra), com uma coroa mural revestida de ouro e três torres, além do lema escrito em negro. A comissão sugeriu algumas modificações, como a retirada da espada e as letras do mote passaram a ser escritas em vermelho. O projeto foi aprovado por Washington Luís no ato n.º 1.057, em 8 de março de 1917.

Em 2 de outubro de 1974, promulgou-se a lei n.º 8.129, que alterou o seu desenho original para a versão usada até hoje. Foi sugerido um novo posicionamento do braço armado, agora saindo do flanco esquerdo do escudo, para dar a ideia de ação na figura, que também se tornou maior. A coroa mural passou a ter cinco torres – trata-se de um castelo localizado na parte superior dos brasões municipais. São as muralhas que cercavam as antigas cidades medievais. Essa tradição é vem de Portugal, onde há uma regra: três torres para aldeia, quatro para vila ou distrito e cinco para município. Além disso, só a capital pode ter as muralhas em ouro, os outros municípios usam em prata ou cinza.

Bandeira da cidade de São Paulo

A primeira bandeira da capital paulista era toda branca, com o brasão da cidade ao centro. Esse desenho foi sugerido pelo publicitário Caio de Alcântara Machado para ser hasteado na Feira Industrial Têxtil de 1958. A partir de então, a prefeitura resolveu adotá-lo.

Em 1986, o prefeito Jânio Quadros organizou uma comissão para elaborar uma nova bandeira. Usado até hoje, o desenho de Lauro Ribeiro Escobar é formado por um campo branco, onde está inserida uma cruz da Ordem de Cristo de braços alargados ao estilo escandinavo. A cor é vermelha vazada de branco.

No cruzamento dos braços da cruz foi posto um círculo, nas mesmas cores, que ostenta o brasão de armas do município. A cor branca simboliza a paz, a pureza, a verdade, a integridade, a amizade e a síntese das raças. O vermelho é a cor-símbolo da audácia, da coragem, do valor, da galhardia, da generosidade e da honra. A cruz evoca a fundação da cidade pelos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. Lembra também a herança da colonização portuguesa e a ação desbravadora dos bandeirantes em busca de novas conquistas.

O círculo é o emblema da eternidade, além de simbolizar que todas as decisões saem e convergem para ele, pois a cidade é centro de poder e capital do “estado bandeirante”. A atual bandeira foi instituída pela lei nº 10.260, de 6 de março de 1987, e hasteada pela primeira vez no dia 18 daquele mês, em cerimônia realizada no parque do Ibirapuera.

Caio Vilela

Dia do Fotógrafo: Os registros de Caio Vilela pelo mundo

8 de janeiro é Dia do Fotógrafo. Celebramos a data com Caio Vilela, autor das imagens de “Futebol sem fronteiras” e “Um mundo de crianças”. Ele faz diversas viagens a trabalho, já visitou 108 países e foi até para a Antártida, mas, curiosamente, cresceu em uma casa onde esses passeios não aconteciam. Os pais caíam na estrada apenas para visitar avós de Caio, que moravam no interior de São Paulo. Tem outra: eles também não eram de tirar fotos. Nunca. Apenas o avô materno, Alcyr Ribeiro, tinha câmera e fez registros da infância do fotógrafo. “Era só aquela foto de aniversário, do moleque assoprando o bolo”, lembra.

O interesse por clicar o mundo surgiu graças ao amigo de escola Cláudio Wakahara: “Ele fotografava por diversão, revelava e ampliava fotos no laboratório de seu pai”. Caio visitava o lugar e teve seu primeiro emprego lá, como assistente do arquiteto e museólogo Júlio Abe Wakahara. “Era um casarão antigo na Bela Vista. Você entrava e descia várias escadas para chegar ao laboratório”. Tinha, então, 16 anos e ganhou de presente a câmera do avô. A levou para sua primeira viagem internacional, quando fotografou na Patagônia, em 1990, aos 19 anos. A vontade de viajar foi estimulada pelo outro avô: Saulo Vilela. Apaixonado por trens e geografia, gostava de testar o conhecimento dos netos: “Ele nos perguntava coisas como a capital da República do Congo e países banhados pelo Oceano Índico”.

Conforme juntava economias com o dinheiro do trabalho, Caio viajava e fotografava. Em seus mochilões, gostava de brincar com crianças, especialmente nas regiões pobres. “Eu me divertia com elas, desenhava e visitava escolas. Também fazia anotações sobre como era o lazer, a alimentação, e a educação”. Chegou um momento em que reuniu todo o material e criou o livro “Um mundo de crianças”, com a jornalista Ana Busch.

Em suas andanças pelo mundo, certa vez, fotografou uma partida de futebol de rua no Irã. Estava em uma cidade chamada Yazd e gostou do contraste entre a pelada e a arquitetura característica do local ao fundo. O estalo veio depois de a imagem ser publicada na revista de bordo da Varig: “Comecei a procurar futebol nas viagens”. Em visitas a lugares muito emblemáticos, como o Machu Picchu, ele até levava uma bola. Mas Caio virou um especialista e descobriu até o horário sagrado do futebol: 17h. “Quem trabalha, já trabalhou; quem estuda, estudou; o sol já baixou e, nos países islâmicos, é o horário logo depois da reza. Às 5 da tarde, com uma bicicleta alugada ou um taxista esperto, eu consigo achar o futebol acontecendo em qualquer lugar do mundo”.

O livro deu origem a uma exposição no Museu do Futebol, em São Paulo, entre 2009 e 2010. Era chamada “Ora, Bolas! O Futebol Pelo Mundo”. Caio não parou de fotografar o esporte nas ruas de onde viajava. O material cresceu, e os convites para expor também. No Brasil, suas imagens foram apresentadas em shopping centers, no Conjunto Nacional, em São Paulo, e em diferentes unidades do Sesc, como na “Futegrafias”, exposição que aconteceu durante a Copa do Mundo de 2014.

O trabalho ganhou o mundo e foi apresentado em lugares como Belgrado (Sérvia), Islamabade (Paquistão), Doha (Catar), Quito (Equador), a prefeitura de Paris (França) e o Planetário de Bogotá (Colombia).

Presente de Natal: Autores da Panda Books escrevem conto coletivo com sete finais felizes

A Panda Books convidou sete autores para um desafio de fim de ano: escrever um conto de Natal coletivo. Cada um teve apenas um dia para criar um parágrafo da história. Com essa parte pronta, cada escritor foi responsável por um final feliz diferente, também no prazo de 24 horas. A história se transformou em um livro, oferecido gratuitamente para nossos leitores. Ele está disponível para download no site www.pandabooks.com.br. O Panda News conversou com os sete autores – Caio Tozzi, Carmen Lucia Campos, Henrique Sitchin, Manuel Filho, Marcelo Duarte, Penélope Martins e Shirley Souza – sobre a participação nessa brincadeira.

Penélope gostou tanto do convite, que confirmou presença rapidamente – já com sua parte pronta. Assim como ela, Shirley Souza conta que se divertiu com a ideia: “Mas logo depois de aceitar, me deu um frio na barriga”, lembra. Quando parou para escrever, o parágrafo saiu fácil e deixou Shirley curiosa para saber que rumo a história tomaria. Henrique Sitchin lembrou do telefone sem fio da infância e de um exercício que propunha em uma oficina de dramaturgia para o teatro: “Cada participante fazia uma parte da história e, depois, nos juntávamos para criarmos os elos dos diversos trechos”.

Marcelo foi o responsável por começar: “Estava me perguntando aqui em casa como seria a noite de Natal este ano sem beijos e abraços e logo me veio a imagem de Papai Noel não podendo sair do Polo Norte por causa da idade”, lembra. Durante a escrita, cada autor acrescentou elementos novos, deixando em aberto aos próximos o que aconteceria com a novidade. Caio Tozzi se deparou com um cachorro durante a história: “Um personagem ótimo!”. Então, criou um amigo para ele – assim, surgiu mais um personagem. Henrique teve uma ideia ao mexer no próprio bolso e pegar o smartphone: “Fiquei pensando como seria um celular mágico, um dispositivo com alguma função fantástica, algo muito além dos aparelhos que nós usamos”. A ideia se unia à necessidade de comunicação à distância por causa da pandemia.

“Gostei de usar a engenhoca do Henrique no meu final”, lembra Carmen Lucia Campos. O parágrafo dela se relaciona com o de Manuel Filho. Nas duas partes, a autora buscou acrescentar magia. Para Manuel foi diferente, pois crítica social é um aspecto marcante em sua obra. “Não consigo sentar para escrever uma coisa em que não apareça o meu envolvimento com o mundo”, afirma o autor. Com características diferentes, os autores prepararam o caminho para a trama natalina.

O final

Perguntados como foi criar um final feliz em um conto feito por sete pessoas diferentes, cada autor trouxe uma história nova. Colocamos os relatos abaixo.

Caio Tozzi: “Quando vou escrever minhas histórias, planejo os acontecimentos, as viradas e tudo mais. Mas a proposta da Panda tinha o sabor da surpresa – inclusive porque tínhamos um prazo curto para fazer nossa parte. Tive que ler e reler toda a história e pensar em todos os elementos que os meus colegas colocaram desde a primeira parte e, de repente, utilizá-los no meu encerramento, de uma forma coerente com a trama construída. Foi divertidíssimo! E o mais bonito, neste momento que estamos vivendo, é poder imaginar que teremos, sim, um belo final feliz para breve”.

Carmen Lucia Campos: “Havia muitos elementos que surgiram ao longo da história, mas eu encontrei um especial para transformá-lo no agente da magia que se deu naquela noite de Natal. Queria um desfecho leve e, de certa forma, surpreendente, que resgatasse o espírito natalino e representasse uma mensagem de esperança”.

Henrique Sitchin: “Um dos grandes desafios é tentar ser coerente com tudo o que já foi escrito. Então, há que se provocar a criatividade, mas sem deixar de lado a coerência com as demais ideias. É um exercício delicioso. Assim que recebi os textos dos colegas, minha cabeça não parou mais de funcionar até que eu enviasse a minha parte. A cabeça se embaralha toda e a gente passa o resto do dia tentando desfazer os nós para organizar tudo e entregar um bom texto. Isso é tão bom! Deixa-nos em ‘estado produtivo’, que é essencial. Agora estou curioso, roendo as unhas de ansiedade para ler todos os finais”.

Manuel Filho: “Não me deu nenhum nó na cabeça. Eu li a história toda. Como era livre, pude fazer como achei melhor. Foi tranquilo e gostoso de escrever”.

Marcelo Duarte: “Fui dormir pensando em como amarrar tudo aquilo com o final que eu tinha imaginado. Quem disse que eu dormi? Tive insônia e resolvi ir para o computador e terminar de escrever o conto de Natal em plena madrugada. O resultado ficou bem divertido”.

Penélope Martins: Eu me diverti somando imaginários e tentei dar um final surpreendente com todos os elementos trazidos pela turma.

Shirley Souza: “Vi o trecho criado pelo Henrique e fiquei pensando que missão seria capaz de transformar tudo, de levar o acalento e a proteção a todos, de devolver o brilho do Natal até para quem não tem um teto sobre sua cabeça. Eu tinha um dia inteiro de trabalho pela frente e não consegui me concentrar em nada. Só ficava pensando no que Noel faria. Depois de horas com isso formigando dentro de mim, a ideia veio forte. Ninguém precisaria se arriscar, se expor ao vírus e, ainda assim, seria poderoso. Não teria como ignorar, tampouco não assumir que algo muito especial estaria acontecendo. O nó se desfez. Fui escrever e o final nasceu. Espero que nossa história aqueça os corações de todos que a receberem neste Natal”.

Eduardo Monsanto, o rubro-negro que escreve sobre conquistas históricas do Flamengo

O jornalista carioca Eduardo Monsanto, mais conhecido como Dudu Monsanto, passou o dia 23 de novembro de 2019 driblando a ansiedade. Era a final da Copa Libertadores. O Flamengo, seu time do coração, perdia por 1 X 0 para os argentinos do River Plate. “Quando chegou aos 40 do segundo tempo, comecei a me conformar com a ideia de que, talvez, o título não viesse”, lembra. Três minutos depois, tudo mudou: Gabigol marcou para a equipe carioca. “Sou muito contido emocionalmente, mas me peguei gritando na varanda do apartamento. Nunca tinha feito isso em 15 anos morando em São Paulo”. Aos 46 minutos, Gabriel fez outro gol. Dudu chorou, e o Flamengo levou o título pela segunda vez. Tudo foi tão intenso, que o jornalista dormiu pesado, já no início da noite. De repente, acordou em plena madrugada e sacudiu a esposa:

— Aconteceu mesmo?
— Sim, é verdade!

“Então, dormi feliz”, relembra e cai na risada. Ele acaba de lançar A virada – Milagre em Lima, sobre essa conquista histórica do Flamengo. O livro também aborda os garotos do Ninho do Urubu, tragédia que ocorreu pouco antes do início do campeonato. Monsanto ainda é autor de 1981 – O ano rubro-negro, onde fala da primeira vez em que o time foi campeão da América, liderado por Zico.

Panda News: Foi mais fácil escrever o 1981 – O ano rubro-negro, ou agora o A virada?

Dudu Monsanto: Para o 1981, eu sabia que teria a efeméride dos 30 anos do mundial e me programei para fazer com cerca de três anos de antecedência. A virada não era para ser um livro, mas um capítulo que atualizaria o 1981 com as conquistas do ano passado. Eu tinha 16 páginas para isso. Fui escrever e pensei que não poderia falar só de 2019, porque a vitória começa com a reestruturação em 2013. Também não tinha como deixar passar a história dos garotos do Ninho. As 16 páginas viraram 120.

Quantas entrevistas você fez para o livro?

No primeiro livro, conversei com todos os titulares, o treinador, alguns reservas, os dirigentes e até torcedores. Eu tinha que fazer isso de novo, mas o prazo era de 40 dias. Por sorte, liguei para uma amiga, a produtora Ana Paula Garcez, para conseguir o telefone de um atleta. Expliquei que estava fazendo o livro, ela tinha tempo naquele momento, e se propôs a me ajudar. Foi o meu Gabigol. A Ana chegou aos 43 do segundo tempo, construiu essa virada junto comigo, e entrevistamos praticamente todo mundo. O único que não conseguimos foi o próprio Gabriel. Mas não deixamos de registrar as impressões dele. Colhemos depoimentos que o jogador deu para documentários feitos sobre a conquista e colocamos os créditos das fontes.

Por que incluir o drama da morte dos garotos do Ninho do Urubu?

Eu tentei contar, de uma maneira bem humana, quem era cada um deles. Junto com a queda do avião da Chapecoense, para mim, essa é a maior tragédia do futebol brasileiro. Foram dez meninos entre 14 e 16 anos, com muita coisa para viver, todos eram a esperança e o orgulho das famílias, e morreram por negligência. Eles estavam até que bem instalados, mas houve uma falha muito grave. Nós não podemos virar as costas. O livro traz fotos dos jogadores em visitas a sobreviventes – isso mexeu com todo mundo. Mas a postura do clube foi muito ruim, faltou humanidade no trato. Eu não seria honesto se deixasse de contar o que aconteceu. Cada um dos meninos ganhou uma página, e o livro é dedicado a eles. Não se pode esquecer o que aconteceu, porque nesses casos falta justiça – descobrir quem foi o culpado, os motivos que levaram à tragédia, criar mecanismos para que isso não se repita, normas de segurança para quem vai receber essas crianças na base.

Sobre a Libertadores, você estava em Lima no jogo da decisão?

Não. Quando a final mudou para Lima, eu cheguei a fazer contas para saber quanto custava a viagem. Tenho um filho de 5 anos, e dava seis meses de mensalidades da escola dele. A escola do meu filho marcou a apresentação de fim de ano para aquele mesmo dia. Ele não gosta de muito barulho, é mais quieto, a apresentação era com uma música do Carrapicho e tinha coreografia. Fui pensando que não aconteceria muita coisa. Chegou na hora, ele parecia profissional, dançou, fez a coreografia inteira, eu me emocionei e chorei junto com a minha esposa. Quando acabou, eu sabia que, independentemente do que acontecesse em Lima, o meu dia estava ganho. Mas ainda teve a surpresa de o jogo ser como foi.

Você tinha quantos anos na conquista de 1981?

O 1981 é um ajuste meu por não ter visto aquele time jogar, pois eu tinha 2 anos. Acabou que A virada, apesar de não planejado, faz as pazes com esse outro momento. Como eu conversei com todo mundo, vi cada uma das partidas, desde o começo da Libertadores, para poder contar, é como se eu tivesse ido a Lima. Acho que eu vi e ouvi mais do que quem estava lá.

Qual foi o sentimento de receber um vídeo do Zico na live de lançamento?

Ele é a razão de eu ser Flamengo! Cresci no auge do Zico. É um cara que norteia muito o meu caminho até o jornalismo esportivo. O primeiro livro me colocou em uma encruzilhada. Eu tive chances de entrevistá-lo antes, mas sempre corri. Ficava pensando que, se ele não fosse uma pessoa boa, a minha vida desmoronaria. Quando escrevi o 1981, fiz duas entrevistas grandes com ele, cada uma com cerca de duas horas. E o Zico é muito mais legal do que eu poderia imaginar, mais craque fora do que em campo. Quando recebi o vídeo, vi que ele, lá do Japão, perdeu um tempo para mandar uma mensagem de carinho e fazer toda a nação rubro-negra olhar para o lançamento. Foi um prêmio tão grande quanto são o texto da orelha escrito pelo Lúcio de Castro e a contracapa do Mauro Cézar Pereira.