As memórias afetivas de um contador de histórias

Em “Bailarinos”, Giba Pedroza transporta os jovens leitores para dentro de um brinquedo analógico e ainda fascinante

Aos 12 anos, Giba Pedroza escreveu o primeiro texto para o teatro e, desde então, nunca mais parou de olhar para o passado na hora de escrever as suas narrativas. Pela Panda Books, ele lança este mês o livro “Bailarinos”, que define como “uma fotografia antiga dele mesmo”. O protagonista é o pião, brinquedo de criança há tantos séculos no Brasil. Com as ilustrações de Sidney Meirelles o autor transporta os jovens leitores – que talvez já tenham trocado os piões pelos celulares – para dentro do rodopiar de um brinquedo analógico, mas ainda fascinante. No livro, ele garante ter crescido “com os olhos no chão, admirando o bailar dos piões” e é este ângulo que ele realça em “Bailarinos”.

O paulista Giba Pedroza se apresenta como um contador de histórias. Foi ele, aliás, um dos primeiros a transformar esse talento de narrar fatos reais ou fictícios diante de um grupo de pessoas em uma área de atuação profissional. “Eu só sei marcar a data porque Regina Machado, que é o ‘Pelé’ dos contadores de história, diz que me conheceu por volta de 1986, 1987 e eu fui a primeira pessoa que se apresentou para ela como contador de história. Na época isso não era tão comum”, lembra. Quase quatro décadas depois, Giba é um dos mais renomados profissionais brasileiros do setor e promove oficinas, palestras e cursos, além de se dedicar também às pesquisas sobre a literatura infantil e oralidade.

Já naqueles passos iniciais Giba tinha a preocupação de construir uma narrativa “lúdica e bonita” mesmo para tratar de temas mais complexos. “Tem gente que acha que contar história é um mero entretenimento para fugir da realidade. Eu na verdade comecei a contar histórias para enfrentar a realidade”, argumenta. Por mais ou menos três anos, ele anotou as histórias que contou em um caderninho, que funcionou como um registro sentimental de momentos marcantes e de boas histórias que podem ser contadas a qualquer tempo e em qualquer lugar.

Mas, se todo mundo conta história o tempo todo entre amigos, no ambiente familiar ou mesmo para um estranho qualquer no meio da rua, o que é que define um profissional da área? O mestre garante que a resposta não é única: “Acho que o contador profissional de histórias dá uma espécie de testemunho. É sempre de dentro para fora, pelas memórias afetivas e pela experiência de vida. Cada um tem a sua técnica. É uma espécie de impressão digital de cada contador. Quanto mais conta mais você vai definindo essa sua impressão”, explica.

Josca Ailine Baroukh

Josca Ailine Baroukh: A autora que forma crianças e educadores

A autora e educadora Josca Ailine Baroukh é do tipo de pessoa que se diverte com suas atividades profissionais e, consequentemente, trabalha bastante. Em 1984, ela se formou no Instituto de Psicologia da USP. Voltada à psicanálise, terminou o curso e logo abriu um consultório. “Comecei a atender crianças, mas sou filha única e não tive muitas crianças no meu entorno. Então, eu senti a necessidade de estar mais próxima delas”. Partiu para um estágio na Escola de Educação Infantil Alecrim e se apaixonou – já em 1986 fechou o consultório e migrou para o ensino.

Ao longo de 14 anos, Josca trabalhou com diferentes faixas etárias da educação infantil e início do Ensino Médio, o que abriu portas para outros trabalhos. Tornou-se formadora de educadores, realizou projetos no Instituto Tomie Ohtake e foi indicada para colaborar com a Panda em 2010. Por aqui, ela realizou leituras críticas, catálogos e escreveu pequenos textos. Josca também traduziu a coleção “Pequenos filósofos”. Então, veio o convite da Coordenadora de Projetos Especiais da editora, Tatiana Fulas: “Você já faz tantas coisas, por que não escreve um livro também?”. Foi o início da história de “Parlendas para brincar”, feito em parceria com Lucila Silva de Almeida. “Eu gosto de escrever com outra pessoa, para conversar. Assim, o livro fica mais rico”.

Em seu primeiro livro, buscou valorizar a cultura brasileira e fornecer um repertório de parlendas maior para professores e crianças com cerca de 6 anos de idade. “Eu tinha várias, que usava quando dava aulas para o pré. A Lucila vem de uma família do nordeste e do centro-oeste e tinha outras parlendas”. Ficaram empolgadas e também escreveram “Adivinhas para brincar”. Josca ainda participou da formulação do selo Panda Educação, quando veio mais um convite: “Ler antes de saber ler − Oito mitos escolares sobre a leitura literária” é fruto de sua experiência com a formação de professores e da parceria com a autora Ana Carolina Carvalho.

Por volta de 2017 chegou o momento de a Panda ter mais livros para bebês, e Tatiana sabia com quem conversar. “Você vê que a maior parte dos meus livros foram propostos pela Tati, e eu sou muito agradecida por isso. Se ela não me cutucasse, talvez eu não teria escrito”. Com textos que variam entre o estilo literário e o didático, “O penico do bebê” e “Vamos tomar banho” foram as primeiras obras solo de Josca. Ela gostou de escrever e mais livros ainda estão por vir.

Podcast Esquadrão Curioso

Esquadrão Curioso ensina como identificar e combater notícias falsas em novo podcast

O livro Esquadrão Curioso – Caçadores de fake news, do jornalista e escritor Marcelo Duarte, lançado em 2018, acaba de ganhar uma versão no formato podcast. “Caçadores de Fake News” chegará às principais plataformas de streaming (Spotify, Deezer, Google Podcast e Apple Podcast, entre outros) na primeira quinta-feira de fevereiro, dia 4. Misturando ficção com realidade, os quatro personagens da trama – Isa, Pudim, Leo e Débora – entrevistam 11 jornalistas, educadores e formadores de opinião de Brasil, Estados Unidos e outros países, para entender o que são as fake news, como elas surgem e como se espalham tão depressa, os perigos que causam e como combatê-las.

A série teve apoio da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil, por meio de seu Edital Anual de Projetos, que financia programas que fortaleçam as relações entre Brasil e Estados Unidos, destaquem valores compartilhados entre os dois países e promovam a cooperação bilateral. “Informações falsas podem até tirar vidas, então é crucial fomentar o pensamento crítico em jovens desde cedo, de modo a ajudar a formar cidadãos engajados e conscientes.  Os Estados Unidos já têm bastante experiência nessa área e achamos que é importante dividir essa experiência com os brasileiros”, afirmou o cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Adam Shub.

São cinco episódios de 20 minutos com muito entretenimento e informação, que poderão ser trabalhados nas escolas, com alunos do Ensino Fundamental e Médio. “Não quisemos limitar a faixa etária, pois nunca sabemos quando a criança passará por uma situação assim. Elas precisam estar preparadas”, afirma Marcelo. Os educadores poderão encontrar sugestões pedagógicas, o perfil dos entrevistados, links importantes e até mesmo um glossário no site www.cacadoresdefakenews.com.br, criado especialmente como suporte do podcast.

Na trama, os personagens recebem o desafio de criar um podcast sobre fake news para um trabalho escolar. Com o objetivo de coletar informações relevantes e verdadeiras para o programa, eles conversam com diversos jornalistas especialistas no assunto de todas as formas – pelo telefone, trocando mensagens de WhatsApp, entrando em plataformas de reunião e mesmo presencialmente. “É urgente e necessário falar de educação midiática e, agora, mais do que nunca, precisamos que nossos jovens aprendam a importância de uma notícia bem apurada. Estamos vivendo um momento crítico, as pessoas precisam confiar e acreditar na imprensa profissional”, diz Marcelo.

Os episódios têm muito humor. Os personagens foram muito bem recebidos pelos entrevistados, que entraram no clima da aventura e colaboraram com sua didática e muito conhecimento. As vozes dos personagens foram criadas por atores profissionais de muito destaque em musicais, programas de TV e dublagem no cinema. Fazem parte do elenco Mariana Elisabetsky (“Mudança de Hábito”, “O Mágico de Oz” e “Grease”), interpretando Isa; Arthur Berges (“Um Violonista no Telhado”, “Rent” e “Chaplin – O musical”), que dá voz ao Pudim; Luciana Ramanzini (“Natureza Morta” e “Bento Batuca”), no papel de Débora; e Hugo Picchi (“Cocoricó” e “Irmão do Jorel”), que faz Leo e do narrador.

Fábio Sgroi

“Faço piada do tiozão do pavê mesmo!”

Na década de 1980, a mãe do então adolescente Fábio Sgroi gerenciava o café do Teatro Imprensa, na região central de São Paulo. O garoto era sempre escalado para ajudá-la. “Levava café para atores importantes, como o Dionísio Azevedo e a Elizabeth Savalla”, lembra ele. “Os autores me davam até cópias dos roteiros para ler”. Enquanto as peças eram encenadas, Fábio tinha cerca de duas horas para se dedicar ao passatempo preferido: o desenho. “Um dia, um cara viu os meus desenhos e passou para minha mãe o telefone de um primo dele, que trabalhava com o Maurício de Sousa. Ela pegou o telefone, mas eu achei que fosse mentira”.

Aquele foi o “número da sorte” de Fábio Sgroi, hoje com 47 anos e cerca de cem livros lançados. O ilustrador e escritor já publicou seus desenhos em 13 livros da Panda Books. Os destaques são os seis livros que ele fez em parceria com a escritora Fátima Mesquita e Viagem por dentro do cérebro, escrito pelo psiquiatra Daniel Martins de Barros e finalista do Prêmio Jabuti de 2014.

Pelo sim pelo não, Fábio resolveu ligar para o número de telefone e a história era verdadeira. A partir daí, ele passou cerca de dois anos visitando a Maurício de Sousa Produções, sempre às quartas-feiras: “Foi informal, mas eu aprendi mais com ele do que com qualquer professor na vida”. Acabou conhecendo todos os funcionários. “Só o Maurício não sabia que eu ia na empresa dele”, conta, dando risada. Para não gerar problemas a ninguém, Fábio prefere manter em segredo os nomes dos amigos que fez. “Aqueles eram outros tempos. Na época, eu era tão fã do Maurício, que acharia uma tremenda honra ser jogado da janela do estúdio dele pelos seguranças”, brinca.

Mas com a frequência de visitas, um dia eles se cruzaram. Fábio tomou o elevador com destino ao quarto andar, onde trabalhava seu amigo. Só que ele parou no primeiro e o pai da Turma da Mônica entrou. “Acho até ele achou que eu trabalhava lá”, diverte-se. “Fiquei com medo de ele perguntar como estava a produção, mas foi uma conversa de elevador – por três andares falamos sobre vento e chuva”.

Trabalhar com Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e companhia virou a sua meta da adolescência. Começou copiando duas páginas de gibis por dia. Acabou largando a escola para se trancar no quarto e dobrar o ritmo de trabalho. “Minha família começou a achar que eu estava ficando louco. Até eu pensei que estava louco”. Não era loucura, Fábio ficou entre os finalistas dos complicados testes para trabalhar com Maurício, mas não passou. Com os contatos feitos na empresa, conseguiu outros trabalhos e retomou os estudos.

No final da adolescência, ele se tornou roteirista de histórias em quadrinhos. Escritor prolixo, fazia cerca de trezentas páginas por mês: “Duzentas não eram aprovadas, mas as outras, sim, e eu ganhava um bom dinheiro para quem tinha só 19 anos. Minha mãe começou a pensar que eu estava fazendo atividades ilícitas!”. Tudo mudou em 1992. Por causa do Plano Collor, o mercado de quadrinhos afundou.

Depois de receber indicações de outros profissionais dos tempos dos Estúdios Maurício de Sousa, ele se estabilizou fazendo ilustrações para livros didáticos. “Com a prática, pude amadurecer meu desenho e me soltar mais”. Seus amigos já haviam avisado que Fábio estava muito focado em quadrinhos e precisava diversificar. Deu certo. Hoje, ele se diz muito mais confortável com ilustrações do que com a escrita. “Qualquer demanda de desenho que aparecer eu aceito, tanto faz se for um projeto experimental ou algo realista. Para escrever, eu não consigo, apesar de gostar muito”. Os livros de sua própria autoria são voltados ao público infantil, principalmente do início do Fundamental. Por gostar do lado didático, Fábio se define como arte-educador.

Atualmente, Fábio Sgroi é mestre em Arquitetura e Urbanismo – desenvolveu uma proposta de política pública, por meio de uma estratégia pedagógica de arte-educação, que usava o desenho como um meio para a criança se conectar com o seu ambiente. O ilustrador e autor também acaba de iniciar sua carreira como professor universitário, na Faculdade São Judas Tadeu. “Tenho muito prazer em dar aulas. Além de desenhar, gosto de pesquisar o desenho e transmitir esse conhecimento”. Ele também ministra cursos na Universidade do Livro e já ensinou quadrinhos para alunos do Fundamental II.

No início dos anos 2000, foi trabalhar por um período no estúdio de um amigo, para ajudar em um projeto. Na mesma época, a Panda contratou a empresa para diagramar e ilustrar Almanaque de puns, melecas e coisas nojentas, de Fátima Mesquita. Fábio, que ainda não havia trabalhado com a Panda Books, estava em hora de almoço quando se deparou com o livro: “Comecei a ver e adorei, fiquei me perguntando quem era a doida que tinha escrito aquilo”. Por três dias seguidos, ele passou uma parte do almoço vendo aquele livro e imaginando as ilustrações, mas esse trabalho já estava combinado com outro profissional. “Não lembro o que aconteceu, mas ele desistiu. Como não tinha muita voz ali, fiquei na minha e foram atrás de outro cara, que também não deu certo. Então, me pediram um rafe (rascunho). Eu fiz e enviaram para a Panda, que adorou meu desenho”. Foi assim que começou a parceria com a autora, hoje chamada carinhosamente por ele de “comadre”: “Só com ela eu desenho coisas como um cara que solta um pum e sai voando”.

Segundo Fábio, suas maiores influências são quadrinhos de humor galhofeiro, com destaque para o ilustrador espanhol Sergio Aragonés, que fez fama com quadrinhos sem fala na revista Mad. Outros nomes são Alcir Linhares, Eva Furnari e a revista Chiclete com Banana – lançada em 1983 com os cartuns escrachados de humor político de Glauco, Angelí e Laerte. “Faço piada de tiozão do pavê mesmo, é divertido, as pessoas gostam”.

 

Veja abaixo as capas de todos os livros da Panda Books ilustrados por Fábio Sgroi:

Lançamento "Eu estou aqui"

Lançamentos virtuais ou presenciais: emoção é o que não falta

Agora, no mês de fevereiro, estamos completando um ano sem aquele contato com nossos leitores em tardes e noites de autógrafos. O isolamento social fez os lançamentos de livros migrarem para o formato digital. A primeira experiência virtual que tivemos foi com o livro A vez e a voz das crianças – Escutas antropológicas e poéticas das infâncias, escrito pela educadora Adriana Friedmann e publicado pelo selo Panda Educação em maio de 2020. A autora diz que foi emocionante interagir com as pessoas por meio das câmeras e revela que o formato superou suas expectativas: “Mesmo sendo virtual, a gente se conecta e se emociona profundamente”. Adriana tem filhos e familiares vivendo em diferentes Estados e até mesmo fora do Brasil. O evento pela internet foi a primeira oportunidade de reunir a todos em lançamento dela.

Em novembro passado, o jornalista Dudu Monsanto lançou seu segundo livro sobre o Flamengo: A virada – milagre em Lima aborda o título da Libertadores conquistado em 2019. A live de lançamento reuniu 300 pessoas simultaneamente e teve início com um vídeo especial – Zico, ídolo rubro-negro, estava no Japão e gravou uma mensagem para o autor, parabenizando pelo livro e incentivando torcedores à leitura. “Ele é a razão de eu ser Flamengo”, revela Dudu. No dia seguinte, Dudu foi até a editora e autografou 750 exemplares do livro vendidos durante a live. O trabalho começou às 9 da manhã e só terminou às três e meia da tarde, sem paradas.

Embora o formato digital tenha encontrado um jeito de conectar autores e leitores, as recordações de lançamentos presenciais estão muito fortes nas lembranças de todos. No final de 2019, os jornalistas Eduardo Barão e Pablo Fernandes lançaram Eu sou Ricardo Boechat, com histórias do companheiro da rádio Band News FM, falecido em 11 de fevereiro daquele ano. Barão chegou com 40 minutos de antecedência à Livraria da Vila, da Alameda Lorena, em São Paulo, e se surpreendeu com uma fila de espera que dava a volta no quarteirão. E não se trata de força de expressão. “Fiquei assustado!”, confessa ele. “Jamais imaginei que iria tanta gente”. Além dos fãs, que passaram até quatro horas para pegar o autógrafo, Barão e Pablo foram cercados naquela noite por amigos, parentes e por Veruska, mulher de Boechat, e pelas filhas dele, Valentina e Catarina. No lançamento na Livraria Travessa, no Rio de Janeiro, logo depois, as emoções se repetiram. A mãe de Boechat, dona Mercedes, e irmãos dele atendiam também os pedidos de autógrafos dos leitores.

Lançamento "Eu sou Ricardo Boechat"
Eduardo Barão e Pablo Luiz Fernandez no lançamento de Eu sou Ricardo Boechat.

Em 2019, a estilista-educadora Alessandra Ponce Rocha lançou seu primeiro livro: Alinhavos – O futuro do planeta está no seu guarda-roupa. Comunicada pela editora de que o lançamento seria em agosto, ela não teve dúvidas em sugerir o dia 23, data de seu aniversário. Melhor ainda que, naquele ano, a comemoração caiu numa sexta-feira.  “Dormi só quatro horas, pois estava ansiosa”, conta Alessandra. “De manhã, li uma nota sobre o lançamento na coluna da Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, e minha ansiedade aumentou”. A sessão de autógrafos e aniversário teve muitos presentes. Nos dois sentidos.  Amigos e familiares prestigiaram o lançamento e trouxeram também mimos para a autora. “Ganhei até doce de abóbora, que é o meu favorito!”, diverte-se. O momento mais emocionante aconteceu no começo da festa: “Recebi a filha de uma amiga que não está mais entre nós, e havia seis anos que eu não via a menina”. Aquele dia era especial e se estendeu pela madrugada com amigos e empanadas em um bar próximo.

Lançamento de "Alinhavos"
Alessandra Ponce Rocha no lançamento de Alinhavos – O futuro do planeta está no seu guarda-roupa. Foto: Beto Jeon Folktography.

Para o lançamento de Eu Estou Aqui, seu quinto livro, em setembro de 2019, a autora Maísa Zakzuk fez questão de convidar as 12 crianças que estavam perfiladas nas 64 páginas da obra. Crianças que deixaram seus países, como refugiadas ou imigrantes, para começar uma nova vida no Brasil. Ela desejava reunir todos os personagens, mas sabia da dificuldade que eles enfrentariam para chegar na Livraria da Vila, da Vila Madalena. Não colocou muita expectativa, mas acabou sendo surpreendida. Instalada na mesa de autógrafos, ao lado da fotógrafa Daiane da Mata, responsável pelas imagens de Eu estou aqui, Maísa arregalou os olhos quando quatro de seus personagens entraram juntos na livraria:  Cristina, da República Democrática do Congo; Mariam, da Palestina; Rosa, da Angola; e Sebastien, do Haiti “Sou muito emotiva e comecei a chorar quando os abracei”, lembra. “O livro tinha ficado pronto poucos dias antes e eles viram as histórias deles impressas ali pela primeira vez. Foi o momento mais legal da minha carreira como escritora”.

"Formas de pensar o desenho", de Edith Derdyk.

A nova edição de um clássico da arte-educação infantil

Formas de pensar o desenho foi lançado em 1988 e acaba de chegar à 3ª edição pela Panda Books. A autora Edith Derdyk escreveu uma nova apresentação e adicionou mais um capítulo na parte final do livro: “proposições”. A ampliação se une ao conteúdo adicionado na segunda edição – capítulos sobre Leonardo da Vinci, Eugène Delacroix e os brasileiros Iberê Camargo, Amilcar de Castro, Regina Silveira e Artur Barrio. O texto traz ideias e reflexões para ampliar o conhecimento dos educadores e artistas em formação, sobre quem Edith relata carinho e preocupação.

“Qualquer comunidade só desenvolve cultura, educação e conhecimento com seres sensíveis”, afirma a autora, que vê na união entre educação e arte um fundamento necessário para a construção do conhecimento. “A arte é uma forma de acordar o corpo e a consciência, de ajudar a constituir a própria subjetividade”, explica. Edith parte de uma visão geral dos percursos do desenho que nasce da ótica da História da Arte, que registra as experiências dos artistas por meio das obras realizadas ao longo do tempo. Para lançar um novo olhar sobre a expressão das crianças, ela trilha um caminho que passa por relações como entre a linha e o papel, o corpo e o movimento.

Os capítulos sobre a produção gráfica dos artistas aproximam museus de escolas, pensando em alunos e professores brasileiros que não têm a possibilidade de visitar exposições. “A história da arte é o nosso álbum de figurinhas”, explica Edith. “Fiz um recorte da produção gráfica de alguns dos artistas que, de alguma forma, contribuíram para o percurso da história do desenho”. A autora mostra fases do desenvolvimento da linguagem infantil que conversam com momentos da história da arte.

“É muito usual e praticado nas escolas, de forma geral, o ensino do desenho como cópia do real, sem entendê-lo como linguagem expressiva”. A autora busca manter acesa a chama pelo interesse na expressão. Com sua busca pela valorização do ensino da arte e da formação de educadores, Edith propõe práticas e atividades de interpretação reformulados e revisitados ao longo dos 32 anos de história do livro Formas de pensar o desenho.

Caio Vilela

Dia do Fotógrafo: Os registros de Caio Vilela pelo mundo

8 de janeiro é Dia do Fotógrafo. Celebramos a data com Caio Vilela, autor das imagens de “Futebol sem fronteiras” e “Um mundo de crianças”. Ele faz diversas viagens a trabalho, já visitou 108 países e foi até para a Antártida, mas, curiosamente, cresceu em uma casa onde esses passeios não aconteciam. Os pais caíam na estrada apenas para visitar avós de Caio, que moravam no interior de São Paulo. Tem outra: eles também não eram de tirar fotos. Nunca. Apenas o avô materno, Alcyr Ribeiro, tinha câmera e fez registros da infância do fotógrafo. “Era só aquela foto de aniversário, do moleque assoprando o bolo”, lembra.

O interesse por clicar o mundo surgiu graças ao amigo de escola Cláudio Wakahara: “Ele fotografava por diversão, revelava e ampliava fotos no laboratório de seu pai”. Caio visitava o lugar e teve seu primeiro emprego lá, como assistente do arquiteto e museólogo Júlio Abe Wakahara. “Era um casarão antigo na Bela Vista. Você entrava e descia várias escadas para chegar ao laboratório”. Tinha, então, 16 anos e ganhou de presente a câmera do avô. A levou para sua primeira viagem internacional, quando fotografou na Patagônia, em 1990, aos 19 anos. A vontade de viajar foi estimulada pelo outro avô: Saulo Vilela. Apaixonado por trens e geografia, gostava de testar o conhecimento dos netos: “Ele nos perguntava coisas como a capital da República do Congo e países banhados pelo Oceano Índico”.

Conforme juntava economias com o dinheiro do trabalho, Caio viajava e fotografava. Em seus mochilões, gostava de brincar com crianças, especialmente nas regiões pobres. “Eu me divertia com elas, desenhava e visitava escolas. Também fazia anotações sobre como era o lazer, a alimentação, e a educação”. Chegou um momento em que reuniu todo o material e criou o livro “Um mundo de crianças”, com a jornalista Ana Busch.

Em suas andanças pelo mundo, certa vez, fotografou uma partida de futebol de rua no Irã. Estava em uma cidade chamada Yazd e gostou do contraste entre a pelada e a arquitetura característica do local ao fundo. O estalo veio depois de a imagem ser publicada na revista de bordo da Varig: “Comecei a procurar futebol nas viagens”. Em visitas a lugares muito emblemáticos, como o Machu Picchu, ele até levava uma bola. Mas Caio virou um especialista e descobriu até o horário sagrado do futebol: 17h. “Quem trabalha, já trabalhou; quem estuda, estudou; o sol já baixou e, nos países islâmicos, é o horário logo depois da reza. Às 5 da tarde, com uma bicicleta alugada ou um taxista esperto, eu consigo achar o futebol acontecendo em qualquer lugar do mundo”.

O livro deu origem a uma exposição no Museu do Futebol, em São Paulo, entre 2009 e 2010. Era chamada “Ora, Bolas! O Futebol Pelo Mundo”. Caio não parou de fotografar o esporte nas ruas de onde viajava. O material cresceu, e os convites para expor também. No Brasil, suas imagens foram apresentadas em shopping centers, no Conjunto Nacional, em São Paulo, e em diferentes unidades do Sesc, como na “Futegrafias”, exposição que aconteceu durante a Copa do Mundo de 2014.

O trabalho ganhou o mundo e foi apresentado em lugares como Belgrado (Sérvia), Islamabade (Paquistão), Doha (Catar), Quito (Equador), a prefeitura de Paris (França) e o Planetário de Bogotá (Colombia).

Dia do Cordelista: Uma festa de rimas e ritmos

Certa vez uma criança
Disse: — O poeta me deve
Uma história em cordel,
Bonita, atraente e leve.
Quando perguntei: — Qual era?
Respondeu: — Branca de Neve!

Em 19 de novembro, comemora-se o Dia do Cordelista, homenagem a Leandro Gomes de Barros. Considerado criador do gênero, o poeta inovou com rimados textos populares bem humorados e na publicação de suas obras – criou uma gráfica para imprimi-las e viajava pelo sertão para divulgar o trabalho.

O escritor Varneci Nascimento sempre comemora essa data. Natural de Banzaê, cidade baiana a 300 quilômetros de Salvador, cresceu cercado por tradições locais, como o “batalhão” – dezenas de homens se unem para realizar trabalhos em sítios e fazendas de amigos. Nesses encontros, quando o suor dá lugar ao descanso, começa uma cantoria feita de improviso. “Os repentes do Nordeste costumam usar viola, mas a gente batia enxada no chão para fazer o ritmo”, conta o autor, que, em parte da vida, dividiu o gosto por cantar com a leitura de cordel, uma influência do pai. Varneci cursou História na faculdade, mas sempre trabalhou como escritor de cordel, onde juntou suas habilidades artísticas. Pela Panda Books, publicou duas adaptações de clássicos mundiais: Branca de Neve e O Pequeno Polegar.

Qual é a importância do cordel para a nossa literatura?

O cordel cativa com as rimas, os ritmos e a beleza de toda a sua construção. É uma delícia de ler! Esse gênero tem um grande poder de atração, ele pode transformar alguém que não gosta de ler em apaixonado por livros. Minha namorada é professora, ela lê para as crianças O Pequeno Polegar e Branca de Neve. Quando pega o texto em prosa, os alunos logo pedem: “Não, professora, a gente não quer assim, a gente quer do outro jeito”. Olha como eles gostam! Mas também não é brincadeira ler um clássico na escola. Eu sempre peço para os educadores falarem de cordel quando realmente se apaixonarem por ele. Com sinceridade, vão cativar os alunos.

Onde nasceu a literatura de cordel?

Algumas pesquisas dizem que ela surgiu em Portugal, no século XVII, mas o português não a mesma coisa que o nosso. Lá, era cordel só por estar pendurado num cordão – o cordel. Podia ter qualquer coisa escrita. A forma poética e o escrever rimado são do Nordeste. Uma vez, eu perguntei sobre isso para a professora Jerusa Pires Ferreira, pesquisadora da USP, que estudou o cordel em várias partes do mundo. Ela é baiana, como eu, e disse: “ixe, meu filho, lá é muito diferente!”. Hoje, nós não podemos dizer mais que o cordel é uma coisa só do Nordeste, tanto que foi tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio cultural do Brasil. O cordel também dialoga com o mundo por meio de expressões culturais, como a música e o cinema.

Como você comemora o Dia do Cordelista?

Desde 2013, eu vou a Natal (RN), onde acontece um grande encontro de poetas chamado “Ciclo Natalense do Cordel”. Esse ano ele terá que ser online. Também é um dia em que postamos bastante nas redes sociais, a gente faz muita zoada.

Os quatro passos que transformaram um biólogo em youtuber

Guilherme Domenichelli vê Biologia em tudo. “Para se pendurar na árvore, o macaco fica com um braço em um galho, o rabo enrolado em outro e apoia onde mais puder. Se tiver problema em algum lado, o bicho não cai”. Essa tática do reino animal é uma comparação com a própria vida – atualmente, ele atua como palestrante; consultor ambiental; escritor (com quatro livros publicados pela Panda Books!) e virou youtuber. Seu canal Animal TV tem quase 700 mil inscritos. O autor deixou um emprego fixo este ano para se dedicar integralmente aos vídeos e conta como foi o processo.

1. Paciência e planejamento

O canal começou em 2016, com incentivo de uma amiga também youtuber. Já tinha a pretensão de fazer o Animal TV crescer, mas não imaginava que ele me manteria. O galho cresceu e ficou forte. Deu certo porque sempre teve planejamento em tudo, desde quando eu postava um vídeo por semana. Hoje, como tenho mais tempo, faço três. Precisa ter paciência no começo! Conheci canais legais que deixaram de existir por causa da demora para ter projeção e retorno financeiro.

2. O trabalho exige disciplina

Estou gostando de não ter mais chefe, horário certo para trabalhar, uso a roupa que eu quero e faço as coisas em casa – mas disciplina é tudo. Apesar de ser uma coisa sua, que você gosta de fazer, tem dias em que a gente não se sente bem, é normal. Às vezes, eu só quero assistir a um jogo da Champions League, mas, se bobear, perco o ritmo. Além disso, trabalho em finais de semana e feriados, porque procuro responder o máximo de comentários dos vídeos. Nos domingos, por exemplo, eu interajo com o pessoal de manhã e descanso no resto do dia.

3. Experiência com o assunto e cuidado na produção do conteúdo

Adoro ter contato com pessoas e ensinar Biologia. Então, isso acaba me ajudando. Como interajo com os seguidores, a maior parte dos vídeos são sobre temas sugeridos por eles. Também falo de assuntos que eu acho interessantes e notícias da semana. Costumo postar segunda, quarta e sexta, mas faço tudo sozinho, nem sempre dá tempo de seguir esse calendário. As pessoas me conhecem e sabem disso. Demoro para pesquisar cada assunto abordado e produzir o roteiro.

4. Respeito com os animais

Em parte dos vídeos, os animais aparecem comigo. Como estou na área há cerca de vinte anos, conheço pessoas de confiança que têm bichos legalizados, e eu também tenho alguns em casa, como jabutis e um teiú. Às vezes, acontecem situações engraçadas. Uma vez, por exemplo, eu gravei com uma iguana que ficou andando pelos meus ombros. Estava ocorrendo tudo bem, até que ela pegou no meu nariz e fez um buraco com a garra. Até brinco no vídeo que poderia colocar um piercing. São apenas sustos e ficam como cenas de bastidores divertidas do Animal TV.

Meninas nas Ciências: não é ficção científica, não!

A Netflix lançou recentemente A caminho da Lua. A animação conta a história de Fei Fei, uma garota que constrói seu próprio foguete para viajar ao satélite natural da Terra. Entre perdas, aceitação e conquistas, ela realiza inúmeros testes para que a sua criação decole. O longa reforça um conceito chamado STEM, sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática. As áreas têm sido cada vez mais difundidas entre os jovens em escolas e projetos de divulgação científica. Em muitos casos, as meninas são o foco de ações para estimular o aumento da participação feminina nas áreas abordadas.

Uma brasileira viveu todo o processo de encanto pela ciência desde a infância até chegar a um posto na NASA muito antes de surgir a sigla STEM. Duília de Mello era fã de filmes e séries que mostravam o que havia fora da Terra – desde a ficção de Star Trek às explicações reais e acessíveis de Carl Segan em Cosmos. “Eu sou fruto da ficção científica”, revela a astrônoma, que é vice-reitora da Universidade Católica da América, em Washington, e colaboradora da Agência Espacial Norte-Americana.

Duília foi uma das primeiras pessoas a fazer divulgação científica no Brasil, trabalho que conta no livro Vivendo entre as estrelas, publicado pela Panda Books. Na obra, ela explica o passo a passo que seguiu desde quando começou a se interessar pela carreira, até chegar à NASA. “Foi uma ideia inovadora, pois ainda não se falava em incentivar meninas para as áreas STEM”, afirma a autora, que viu o estímulo para as jovens surgir nos Estados Unidos por volta de 2009.

Sua geração foi a primeira a ter mulheres em cargos de chefia na ciência como algo comum. Ela cita como exemplo o próprio posto de vice-reitora e amigas que lideram laboratórios da NASA. A autora conta que a Agência Espacial Norte-americana tem um programa para incentivar meninas a se tornarem cientistas. Como parte dos resultados, há o aumento de mulheres em diferentes cargos da própria agência. “A sociedade não é feita só por homens, e as mulheres têm seu jeito de resolver problemas”, destaca Duília. “Por que também não nas áreas de STEM?”.

O maior desafio para se iniciar na astronomia é o tempo até a profissionalização: “Precisa fazer mestrado e doutorado. Da entrada na faculdade até um vínculo de trabalho, são 10 anos”. Depois de enfrentar esses desafios, Duília construiu uma carreira com diferentes realizações: já descobriu uma estrela, a Supernova 1997D, e participou da descoberta das Bolhas Azuis, aglomerados de estrelas fora das galáxias. Outro motivo de alegria para a autora é ver pessoas que decidiram estudar astronomia após lerem seu livro. Ela destaca Geisa Ponte e Ana Carolina Posses. As duas seguiram seus passos e se tornaram astrônomas: “Sou mãezona das minhas pupilas”.

Para incentivar as meninas hoje, cada vez mais obras estão sendo lançadas. Como em A caminho da Lua, o livro Ara – A engenheira das estrelas, também lançado pela Panda Books, conta a história de uma garota cientista. A autora Komal Singh é engenheira de software e gestora de programas no Google. Certa vez, sua filha de 4 anos perguntou: “Engenharia é coisa de menino, né, mamãe?”. O espanto foi tamanho, que estimulou o surgimento do livro. Ara é uma garota com o desejo de programar seu robô DeeDee para contar todas as estrelas que existem, mas não sabe muito bem como fazer isso. Então, ela entra em uma aventura com quatro superengenheiras que vão ajudá-la a realizar seu sonho – todas elas colegas de trabalho de Komal. Mulheres reais, como Duília.