Na década de 1980, a mãe do então adolescente Fábio Sgroi gerenciava o café do Teatro Imprensa, na região central de São Paulo. O garoto era sempre escalado para ajudá-la. “Levava café para atores importantes, como o Dionísio Azevedo e a Elizabeth Savalla”, lembra ele. “Os autores me davam até cópias dos roteiros para ler”. Enquanto as peças eram encenadas, Fábio tinha cerca de duas horas para se dedicar ao passatempo preferido: o desenho. “Um dia, um cara viu os meus desenhos e passou para minha mãe o telefone de um primo dele, que trabalhava com o Maurício de Sousa. Ela pegou o telefone, mas eu achei que fosse mentira”.
Aquele foi o “número da sorte” de Fábio Sgroi, hoje com 47 anos e cerca de cem livros lançados. O ilustrador e escritor já publicou seus desenhos em 13 livros da Panda Books. Os destaques são os seis livros que ele fez em parceria com a escritora Fátima Mesquita e Viagem por dentro do cérebro, escrito pelo psiquiatra Daniel Martins de Barros e finalista do Prêmio Jabuti de 2014.
Pelo sim pelo não, Fábio resolveu ligar para o número de telefone e a história era verdadeira. A partir daí, ele passou cerca de dois anos visitando a Maurício de Sousa Produções, sempre às quartas-feiras: “Foi informal, mas eu aprendi mais com ele do que com qualquer professor na vida”. Acabou conhecendo todos os funcionários. “Só o Maurício não sabia que eu ia na empresa dele”, conta, dando risada. Para não gerar problemas a ninguém, Fábio prefere manter em segredo os nomes dos amigos que fez. “Aqueles eram outros tempos. Na época, eu era tão fã do Maurício, que acharia uma tremenda honra ser jogado da janela do estúdio dele pelos seguranças”, brinca.
Mas com a frequência de visitas, um dia eles se cruzaram. Fábio tomou o elevador com destino ao quarto andar, onde trabalhava seu amigo. Só que ele parou no primeiro e o pai da Turma da Mônica entrou. “Acho até ele achou que eu trabalhava lá”, diverte-se. “Fiquei com medo de ele perguntar como estava a produção, mas foi uma conversa de elevador – por três andares falamos sobre vento e chuva”.
Trabalhar com Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e companhia virou a sua meta da adolescência. Começou copiando duas páginas de gibis por dia. Acabou largando a escola para se trancar no quarto e dobrar o ritmo de trabalho. “Minha família começou a achar que eu estava ficando louco. Até eu pensei que estava louco”. Não era loucura, Fábio ficou entre os finalistas dos complicados testes para trabalhar com Maurício, mas não passou. Com os contatos feitos na empresa, conseguiu outros trabalhos e retomou os estudos.
No final da adolescência, ele se tornou roteirista de histórias em quadrinhos. Escritor prolixo, fazia cerca de trezentas páginas por mês: “Duzentas não eram aprovadas, mas as outras, sim, e eu ganhava um bom dinheiro para quem tinha só 19 anos. Minha mãe começou a pensar que eu estava fazendo atividades ilícitas!”. Tudo mudou em 1992. Por causa do Plano Collor, o mercado de quadrinhos afundou.
Depois de receber indicações de outros profissionais dos tempos dos Estúdios Maurício de Sousa, ele se estabilizou fazendo ilustrações para livros didáticos. “Com a prática, pude amadurecer meu desenho e me soltar mais”. Seus amigos já haviam avisado que Fábio estava muito focado em quadrinhos e precisava diversificar. Deu certo. Hoje, ele se diz muito mais confortável com ilustrações do que com a escrita. “Qualquer demanda de desenho que aparecer eu aceito, tanto faz se for um projeto experimental ou algo realista. Para escrever, eu não consigo, apesar de gostar muito”. Os livros de sua própria autoria são voltados ao público infantil, principalmente do início do Fundamental. Por gostar do lado didático, Fábio se define como arte-educador.
Atualmente, Fábio Sgroi é mestre em Arquitetura e Urbanismo – desenvolveu uma proposta de política pública, por meio de uma estratégia pedagógica de arte-educação, que usava o desenho como um meio para a criança se conectar com o seu ambiente. O ilustrador e autor também acaba de iniciar sua carreira como professor universitário, na Faculdade São Judas Tadeu. “Tenho muito prazer em dar aulas. Além de desenhar, gosto de pesquisar o desenho e transmitir esse conhecimento”. Ele também ministra cursos na Universidade do Livro e já ensinou quadrinhos para alunos do Fundamental II.
No início dos anos 2000, foi trabalhar por um período no estúdio de um amigo, para ajudar em um projeto. Na mesma época, a Panda contratou a empresa para diagramar e ilustrar Almanaque de puns, melecas e coisas nojentas, de Fátima Mesquita. Fábio, que ainda não havia trabalhado com a Panda Books, estava em hora de almoço quando se deparou com o livro: “Comecei a ver e adorei, fiquei me perguntando quem era a doida que tinha escrito aquilo”. Por três dias seguidos, ele passou uma parte do almoço vendo aquele livro e imaginando as ilustrações, mas esse trabalho já estava combinado com outro profissional. “Não lembro o que aconteceu, mas ele desistiu. Como não tinha muita voz ali, fiquei na minha e foram atrás de outro cara, que também não deu certo. Então, me pediram um rafe (rascunho). Eu fiz e enviaram para a Panda, que adorou meu desenho”. Foi assim que começou a parceria com a autora, hoje chamada carinhosamente por ele de “comadre”: “Só com ela eu desenho coisas como um cara que solta um pum e sai voando”.
Segundo Fábio, suas maiores influências são quadrinhos de humor galhofeiro, com destaque para o ilustrador espanhol Sergio Aragonés, que fez fama com quadrinhos sem fala na revista Mad. Outros nomes são Alcir Linhares, Eva Furnari e a revista Chiclete com Banana – lançada em 1983 com os cartuns escrachados de humor político de Glauco, Angelí e Laerte. “Faço piada de tiozão do pavê mesmo, é divertido, as pessoas gostam”.
Veja abaixo as capas de todos os livros da Panda Books ilustrados por Fábio Sgroi:
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“Em busca da meleca perdida”.
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“ABC de Libras”.
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“A incrível fábrica de cocô, xixi e pum”.
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“Na correria”.
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“Criaturas noturnas”.
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“Almanaque de corruptos, ditadores e tiranos nojentos”.
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“Pronto para o socorro”.
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“Almanaque de puns, melecas e coisas nojentas”.
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“Viagem por dentro do cérebro”.
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“Cuidado com o coco”.
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“Almanaque de Jesus”.
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“Tem lugar aí pra mim?” e “A mulher que falava pára-choquês”.